quarta-feira, 11 de novembro de 2009

As flores elétricas










As flores elétricas


Rogel Samuel


A mais quente das noites. O calor me acorda. A luz apagou, os ventiladores paragem. Blecaute. Não consigo dormir, neste abafado. Impossível abrir a tela que me protege dos mosquitos. Apesar de estar gripado, vou no escuro até o banheiro e tomo uma ducha fria. Assim melhoro.

Nossos dois mais importantes confortos modernos são a luz elétrica e a água encanada. No tempo de Proust não havia eletricidade nas casas. Conta Céleste Albaret que um dia o jovem Proust teve um desejo, um capricho, e resolveu dar um jantar ornamentando a mesa com flores elétricas. Sua mãe, que satisfazia a todos as suas extravagâncias, teve alugar um gerador de eletricidade para o evento.

- Mas ficou muito bonito, conta Proust. Cada convidado tinha uma flor iluminada diante de si.

Para aliviar, trabalho no meu novo pequeno poema, que se encontra no "Novos poemas":

porta calada
madrugada
o silêncio é nada
o vento me acorda
o silêncio morre
sobre esta triste noite
a quente suportada espera
volto ao sonho antigo
no sonho palavra dada

porta calada
madrugada

e que horas são?
qual tempo lembrar?
da minha janela percebo
um pedaço de rua
vento da noite nua
sopra na solidão

porta calada
madrugada

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