domingo, 31 de outubro de 2010

CRATERA


RIO - Um enorme buraco que se abriu em uma rua residencial da cidade de Schmalkalden, na Alemanha, engoliu um carro e obrigou moradores a deixarem 23 casas na área. Nenhuma construção foi atingida. Ainda não se sabe o que causou a abertura da cratera.

O buraco teria 20 metros de profundidade, segundo a imprensa local. Um morador chegou a ligar para polícia por volta das 3h desta segunda-feira depois de ouvir um forte estrondo, possivelmente causado pela cratera.

Segundo a polícia, por segurança, agentes evitaram se aproximar do local para realizar investigações. Autoridades informaram que um helicóptero estava sobrevoando a área para tentar medir a extensão da cratera.

Há possibilidade de uma bomba da Segunda Guerra Mundial ter explodido no local. Moradores disseram ter ouvido relatos de que durante o conflito havia um bunker subterrâneo sob a rua.

Rogel Samuel: Um dia que decide o futuro





Rogel Samuel: Um dia que decide o futuro

O dia de hoje é uma bifurcação para nosso futuro. De um lado está uma incógnita volta a um passado triste. Do outro, a consolidação do país como de primeiro mundo. De um lado as poderosas forças da calúnia, da mentira, do noticiário truncado, do mundo às avessas. Do outro, a certeza de que continuaremos no rumo certo do nosso destino.

Há dias que valem décadas. O dia de hoje é um deles.

Não sabemos que Brasil sairá das urnas.

Depende disso a vida do futuro de nossos filhos e netos.

HOJE





DE CARTA MAIOR

Hoje, a esperança progressista de todo o mundo dirige seu olhar para o Brasil. Dois projetos de futuro confrontam-se aqui numa síntese dos antagonismos históricos realçados pela crise econômica mundial. Trata-se de decidir a quem pertence o destino da sociedade e do desenvolvimento no século XXI: ao escrutínio da cidadania organizada e ativa –que não restringe sua participação ao momento do voto-- ou à supremacia das finanças desreguladas, cujos impulsos irracionais, mais uma vez evidenciados nesta crise, esfarelam ciclicamente não apenas a riqueza fictícia, mas os direitos que sustentam a convivência compartilhada e, cada vez mais, os recursos que formam as bases da vida na Terra. A América Latina representa hoje a fronteira do mundo onde o embate entre essas duas lógicas evolui de forma cada vez mais nítida e veloz a favor das forças populares. A eleição brasileira representa sem dúvida o grande guarda-chuva político que influenciará decisivasmente o passo seguinte da história regional . As diferentes concepções de desenvolvimento e de estratégia internacional ficaram claramente demarcadas ao longo da campanha que desemboca agora na urna eletrônica. Por isso, hoje, vote 13, vote com orgulho, vote pelo Brasil. Mas também pelo futuro de uma América Latina mais justa e solidária.

sábado, 30 de outubro de 2010

Rogel Samuel: O perigo da maioria silenciosa





Rogel Samuel: O perigo da maioria silenciosa

Diz Luis Nassif que “em 1969, em virtude das manifestações contra a guerra do Vietnã, o então presidente americano Richard Nixon fez um discurso em que se dirigia à "grande maioria silenciosa", formada pelas bases conservadoras do partido Republicano, que não havia ido às ruas, que apoiava a guerra, e pedia apoio para unir-se a ele em favor da vitória dos Estados Unidos. A estratégia funcionou e Nixon conseguiu reeleger-se em 1972”.

O termo me assaltou quando eu ontem estava num restaurante e ouvi o seguinte diálogo na mesa ao lado:

- A senhora viu o debate na tv ontem? – perguntou um rapaz.

- Eu não vou perder meu tempo... – respondeu uma senhora.

Por causa dessa imensa “maioria silenciosa” que se recusa a ver a realidade (que é política) é que houve a terrível guerra do Vietnã quando mais de 400 mil soldados e civis morreram durante o conflito de nove anos, quando quase três milhões de jovens norte-americanos serviram durante os 15 anos de engajamento militar e 56 mil soldados americanos morreram e mais de 300 mil voltam para casa mutilados ou com deficiência e que bem poderiam ser filhos daquela senhora elegante que não quis “perder o seu tempo”.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Rogel Samuel: Benjamin Sanches


Rogel Samuel: Benjamin Sanches

Leio no excelente Blog do coronel que a Livraria Acadêmica de Manaus fechou as portas em 2009. Eu saberia se tivesse ido a Manaus, pois era um dos lugares aonde sempre ia, desde a adolescência.

“Fundada em 1912, este estabelecimento fechou as portas ano passado. Agora, o edifício passa por reformas e, certamente, ali não mais haverá livros nem papéis. Nem o acolhimento fidalgo do seu Barata. Restará apenas saudades pelo fim do mais antigo templo ocupado pelos leitores da cidade” escreveu Roberto Mendonça.
“O Estado, por iniciativa da Secretaria de Cultura, já transferiu o que restou do acervo da Acadêmica para o Centro Cultural Palácio Rio Branco. Merece ser visitado, aproveitando o visitante para estender os olhos pelos outros seletos ambientes”, acrescentou.

Numa de minhas idas à Acadêmica, comprei um raríssimo exemplar de “Argila”, de Benjamin Sanches, com a bela capa de Moacir Andrade.

O livro estava tão escondido no fundo da sala, que o Sr. Barata não queria vender-me, pois não sabia o preço.

Onde andarão aquelas gigantescas estantes de madeira?

E o passado, ali recolhido?

Aquela livraria teve muito a ver comigo: Foi uma das poucas livrarias de Manaus que comprou o meu “O amante das amazonas” diretamente da Editora Itatiaia.

Termino reproduzindo um poema de “Argila”, chamado “Fé”:

Ver
sem
bem
crer.
Crer
sem
bem
ver.
Crer
é
fé.
Ver
não
é.

(Argila, Manaus, Sergio Cardoso, 1957)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Polichinelo


Polichinelo


Patience Strong

(Tradução de Cunha e Silva Filho)

http://asideiasnotempo.blogspot.com/




Encaras o futuro
Tendo, sangrando, um coração?
Polichinelo vai ser,
Ri, o papel teu desempenha –

Ousado, mostra teu desempenho
Quando levantarem as cortinas,
Sorri e a música enfrenta
Com uma máscara de alegria.

À tua dor ninguém atenção dará,
Tuas lágrimas ninguém ver desejará,
Deixa que se espalhe a canção
Pelos vazios anos vindouros –

Que os teus risos ouçam,
Que a tua arte vejam,
Ainda que, lá no fundo d’alma,
Despedaçado, atormentado, sentir-te possas.

Simulacro, engodo e glamour,
A vida, um mundo circense!
Mascaradas de prazeres,
Aflições, carências e desgraças -

Posto mais sonhos não acalentes,
Assim como finda está do Amor a alegria,
Que nada mais é senão eterno programa
- Continuar deve o show!

(Tradução de Cunha e Silva Filho)

* NOTA: Patience Strong é pseudônimo da poeta inglesa Winifred Emma.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

La pasión se llevó la vida de Néstor Kirchner






La pasión se llevó la vida de Néstor Kirchner

Por: Liliana Franco



La pasión por la política, por el poder, y las contrariedades apagaron a las 9.15 de hoy la vida de Néstor Carlos Kirchner. Desde hace unos días resultaba sugerente en el entorno más íntimo del ex presidente el viaje al Calafate y el silencio que rodeaba al retiro de la cúpula del poder en el extremo sur.

Kirchner falleció en su ley, desconociendo las advertencias de los médicos y de su propio cuerpo, ya que tan reciente como en septiembre pasado había sido operado por una afección cardiaca. A 72 horas de ese episodio, el ex primer mandatario se hizo presente en un acto partidario en el Luna Park. Es que, la política era la razón de su vida. Desde una pequeña ciudad, Río Gallegos llegó a la primera magistratura: toda una vida construyendo un camino para llegar al la máxima aspiración de un político, la presidencia de la República. Supo como nadie acumular poder y de la misma magnitud es el vacío que deja su desaparición.

Luchador, temperamental, metódico y ordenado, dedicó toda su existencia a un proyecto político. Sus colaboradores más estrechos saben que dormía muy pocas horas por día y más de un ministro supo recibir llamados a la madrugada del ex presidente. Detallista al extremo solía preguntar todos los días la recaudación impositiva, el resultado de la Tesorería y el nivel de las reservas, información que anotaba en un papelito que lleva siempre en el bolsillo de su traje. Apasionado por la economía, sus colaboradores debían anticiparle el resultado de los distintos indicadores macroeconómicos y era habitual verlo festejar como en un partido de fútbol la buena marcha de la economía.

Político de raza era manifiesta la satisfacción que sentía al mezclarse entre la gente y recibir el afecto de sus seguidores. Menos conocido es que apenas asumido designó una persona encargada específicamente de recibir todas las cartas y pedidos que la gente suele hacer en los actos. Creo una oficina en la Casa Rosada para que cada una de esas cartas sea respondida.

Quienes estuvieron cerca de Kirchner en sus últimas horas de vida dicen que la muerte del militante del Partido Obrero (PO), Mariano Ferreira, produjo una tremenda alteración en el ánimo del jefe de justicialismo. Preocupado por la sombra de la muerte de los dirigentes Kosteki y Santillán, que empujaron a la salida del gobierno de su antecesor, Eduardo Duhalde.

Kirchner siempre tuvo extremo cuidado por evitar que la muerte volviera a presentarse en las manifestaciones callejeras. Es más, la orden estricta de no reprimir ninguna manifestación pública tenía también el trasfondo de evitar cualquier tipo de incidente doloso.

Finalmente un episodio de estas características se produjo, presuntamente como consecuencia del accionar de patotas avaladas por el gremio ferroviario. Pero lo que más habría alterado en los últimos días a Kirchner habría sido, según dicen fuentes de la Casa Rosada en absoluto off the record, es la aparición de fotos de miembros de su gabinete con uno de los principales implicados en el asesinato del militante del PO. Aunque, esas fotos sacadas en el contexto de una reunión multitudinaria, no implican una relación estrecha.

Allegados a su entorno también comentaban que el ex presidente, como gran estratega político, era conciente de los diferentes frentes de conflicto que tenía abiertos, entre ellos el enfrentamiento con los medios, en particular el Grupo Clarín y el diario La Nación, como así también las diferencias con la Corte Suprema y la permanente atención que le demandaba el Congreso. No habría sido menor el disgusto que le provocó la decisión que, según la Casa Rosada, tuvo que tomar la presidente Cristina de Kirchner de vetar el 82% móvil en las jubilaciones.

De ahí, prosiguen, que la pareja presidencial haya decidido buscar la tranquilidad de Calafate para serenar los ánimos y pensar, como era su estilo, cursos de acción para seguir peleando, pero ya era tarde.

NESTOR



El ex presidente Néstor Kirchner falleció esta mañana






El ex presidente Néstor Kirchner falleció esta mañana en la ciudad de El Calafate a raíz de un paro cardiorrespiratorio.

el clarín


El ex mandatario sufrió una descompensación durante la madrugada, mientras participaba de una reunión en su casa de la villa santacruceña.



Oficialmente fue una “paro cardiorrespiratorio con muerte súbita”. Según confirmaron a Clarín fuentes del equipo médico presidencial, en el hospital José Formenti de la ciudad santacruceña no pudo ser reanimado.



El ex presidente, que tenía 60 años, había llegado a la clínica acompañado por su esposa, la presidenta Cristina Fernández.

Sufrió un parocardiorrespiratorio con muerte súbita, según confirmaron a Clarín desde el equipo médico presidencial. Había ingrsado esta mañana en hospital José Formenti de la ciudad de El Calafate acompañado por su esposa, la presidenta Cristina Fernández, pero no pudieron reanimarlo.

Kirchner reapareció en el acto del Luna, y Cristina se refierió a la clase media que "no entiende y cree que separándose de los morochos le va a ir mejor.


Néstor KirchnerEl ex presidente Néstor Kirchner falleció esta mañana en la ciudad de El Calafate a raíz de un paro cardiorrespiratorio.



El ex mandatario sufrió una descompensación durante la madrugada, mientras participaba de una reunión en su casa de la villa santacruceña.



Oficialmente fue una “paro cardiorrespiratorio con muerte súbita”. Según confirmaron a Clarín fuentes del equipo médico presidencial, en el hospital José Formenti de la ciudad santacruceña no pudo ser reanimado.



El ex presidente, que tenía 60 años, había llegado a la clínica acompañado por su esposa, la presidenta Cristina Fernández.



El ex presidente había sufrido al menos dos episodios en el último año que lo habían obligado a internaciones de urgencia. La primera fue en febrero, cuando fue operado de la carótida. Y el 11 de septiembre último tuvo que ser sometido a una angioplastia y le colocaron un stent. Los médicos le habían recomendado cambiar su estilo de vida debido al estrés.



Antes de ser elegido presidente en 2003, Kirchner fue alcalde de Río Gallegos, capital de Santa Cruz (1987-1991) y gobernador de esa provincia (1991-2003). En 2009 fue elegido diputado nacional, cargo por el que tenía mandato hasta el 2013. Y el 4 de mayo pasado había sido nombrado secretario general de la Unasur.


El ex presidente había sufrido al menos dos episodios en el último año que lo habían obligado a internaciones de urgencia. La primera fue en febrero, cuando fue operado de la carótida. Y el 11 de septiembre último tuvo que ser sometido a una angioplastia y le colocaron un stent. Los médicos le habían recomendado cambiar su estilo de vida debido al estrés.



Antes de ser elegido presidente en 2003, Kirchner fue alcalde de Río Gallegos, capital de Santa Cruz (1987-1991) y gobernador de esa provincia (1991-2003). En 2009 fue elegido diputado nacional, cargo por el que tenía mandato hasta el 2013. Y el 4 de mayo pasado había sido nombrado secretario general de la Unasur.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Rogel Samuel: O rio Negro recua 5 centímetros por dia






Rogel Samuel: O rio Negro recua 5 centímetros por dia


O rio atingiu, na manhã deste domingo, a menor cota já registrada na história das vazantes no Estado do Amazonas, juntando-se ao recordes já batidos pelos rios Solimões e Amazonas.

Iguala a de 63.

Agora os indicadores dos órgãos de pesquisa do Amazonas apontam que, depois de uma grande seca a população pode esperar uma grande enchente.

"De acordo com o engenheiro Valderino Pereira da Silva, de ontem para hoje as águas do rio Negro recuaram 5 centímetros, marcando na régua do Porto de Manaus, 13,69 centímetros contra 13,64 da segunda maior vazante ocorrida em 1963.

Para Valderino o processo de estiagem está próximo do fim, mas antes de começar a processo de cheia, o rio Negro costuma dar uma parada".

Jane Austen era péssima em ortografia, revela especialista




Jane Austen era péssima em ortografia, revela especialista

AFP




A escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), autora de "Orgulho e preconceito", conhecia tão mal a gramática e a ortografia que suas obras precisavam ser reescritas por um revisor, revelou neste sábado uma especialista da Universidade de Oxford.

"Geralmente considera-se que Jane Austen tinha um estilo perfeito. Seu irmão Henry pronunciou em 1818 uma frase que passou a ser célebre, 'tudo sai perfeito de sua pena', e os comentaristas seguem compartilhando essa opinião", declarou Kathryn Sutherland, professora da Universidade de Oxford.

"Entretanto, ao reler seus manuscritos, aparece rapidamente a evidência de que não há neles tal precisão", acrescentou Sutherland, que estudou 1.100 páginas não publicadas da escritora.

"Os manuscritos não publicados de Jane Austen acabam com a reputação da perfeição da escritora de várias formas: há manchas, rasuras, desordem. Pode-se ver a criação se formar neles e, no caso de Jane Austen, descobre-se uma maneira antigramatical de escrever" que contrasta com o estilo polido de suas obras publicadas.

"Isto nos faz pensar que outra pessoa esteve fortemente envolvida no processo de edição entre o manuscrito e o livro impresso", afirma a especialista, explicando que provavelmente essa pessoa foi o editor e revisor William Gifford.

domingo, 24 de outubro de 2010

Rogel Samuel: Qualquer que seja a chuva desses campos



Rogel Samuel: Qualquer que seja a chuva desses campos

Há um soneto de Jorge de Lima que releio sempre, que não me canso de lembrar e que assim canta:

“Qualquer que seja a chuva desses campos
devemos esperar pelos estios;
e ao chegar os serões e os fiéis enganos
amar os sonhos que restarem frios.

Porém se não surgir o que sonhamos
e os ninhos imortais forem vazios,
há de haver pelo menos por ali
os pássaros que nós idealizamos.

Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.

E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas”.

Jorge de Lima, Invenção de Orfeu - Canto I – XXVI


Se tudo estiver bem, lembre-se de que tempos piores podem advir: “Qualquer que seja a chuva desses campos / devemos esperar pelos estios”. E quando a época ruim chegar, devemos contentar-nos com os sonhos. O poeta está sendo pessimista, espera os danos futuros. Pensa em não conseguir o amor sonhado, imortal: “Porém se não surgir o que sonhamos / e os ninhos imortais forem vazios, / há de haver pelo menos por ali / os pássaros que nós idealizamos”.

Feliz de quem com cânticos se esconde
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.

E vendo em torno as mais terríveis cenas,
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas.

Bugatti Veyron - 8 milhões de reais






Esta versão especial do famoso Bugatti Veyron, foi apresentada oficialmente nesta semana.

sábado, 23 de outubro de 2010

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cristovam de Pavia





Cristovam de Pavia


(Portugal, 1933-1968)‏


EPÍGRAFE

Um barco sem velas
e sem rumo
Singrando um mar de fumo,
Mas descobrindo estrelas...

nisto me resumo.

Em Poesia -Esparsas
D.Quixote, 2Lisboa,010

“Não fugir…”


Não fugir. Suster o peso da hora
Sem palavras minhas e sem os sonhos,
Fáceis, e sem as outras falsidades.
Numa espécie de morte mais terrível
Ser de mim todo despojado, ser
Abandonado aos pés como um vestido.
Sem pressa atravessar a asfixia.
Não vergar. Suster o peso da hora
Até soltar sua canção intacta.


PRELÚDIO

Levanta-se da rocha a flor esmagada
Mais dura do que a rocha e cristalina.
Raízes, caule, pétalas, angústia.

Raízes para sempre ali cravadas,
Caule verticalmente inexorável,
Pétalas miraculosas: pura água.

Minhas mãos são chagas,
Para te colher…
Minhas mãos são chamas,
Pedaços de gelo…
Levanta-se da rocha a flor esmagada.



Poeta português, nascido em 7 de Outubro de 1933, em Lisboa, e falecido a 13 de Outubro de 1968, na mesma cidade, filho do poeta presencista Francisco Bugalho, oriundo de Castelo de Vide. A partir de 1940 reside em Lisboa, onde terminou os estudos liceais. Frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, que abandonará para ingressar na Faculdade de Letras. Entre 1960 e a sua morte, trabalhando na construção civil, viveu entre Lisboa, Castelo de Vide, Paris e Heidelberg, onde recebeu acompanhamento psicoterapêutico. A sua única obra poética publicada em vida, 35 Poemas, data de 1959, embora tenha publicado anteriormente colaboração poética em jornais e revistas, como Diário Popular, Árvore, Anteu, Távola Redonda, Serões. Além do pseudónimo Cristovam Pavia, António Flores Bugalho assinou composições com os pseudónimos, ou "semi-heterónimos" (cf. BENTO, José - introdução, notas e comentários a Poesia de Cristovam Pavia, Lisboa, 1982), Sisto Esfudo, Marcos Trigo e Dr. Geraldo Menezes da Cunha Ferreira. Para José Bento, "A poesia de Cristovam Pavia é a revelação de si próprio, de uma personalidade em conflito com o mundo em que vive e que procura uma fuga pela recuperação da infância morta, pela aceitação do seu conhecer-se diferente e despojado do que lhe é mais caro (a infância, o amor, o espaço e o tempo em que ambos se situavam), a transformação do seu próprio ser pelo sofrimento, num movimento de ascese e de autodestruição, quando o poeta atinge a consciência de si próprio e da sua voz." ("Sobre a Poesia de Cristovam Pavia", in Poesia de Cristovam Pavia, Lisboa, 1982, p.15).

Bibliografia: 35 Poemas, Lisboa, 1959; Poesia, Lisboa, 1982

http://www.infopedia.pt/$cristovam-pavia

Ainda em 1950 encontramos nos poemas de Cristovam Pavia duas figuras que voltarão posteriormente: o cão e o próprio poeta como morto. O cão é em Cristovam Pavia um símbolo de total pureza e disponibilidade, continuação e espírito da terra onde vive, testemunho da integridade da infância perdida, da amizade, da presença que na sua mudez exprime o que de mais fundo possui, da fidelidade da sua planície. É de 1950 o poema Ao meu cão «Fixe», de que se fala mais adiante. E um dos poucos poemas que conhecemos dos últimos anos da sua vida e que sabemos ter sido escrito depois da publicação dos 35 Poemas é Ao meu cão, que é o único poema seu em que se reflecte o remorso. Para quem tinha uma tão profunda religiosidade, que o mesmo é dizer que se sentia religado a tudo o que conhecia, só um cão (porventura companheiro da adolescência, da solidão, de horas cuja angustia talvez ninguém conheça) de olhos / Humaníssimos, suaves, sábios, cheios de aceitação / De tudo... lhe mereceu um pesado remorso por o ter deixado só, à hora de morrer, talvez por nele encontrar a grandeza que então não reconhecia aos homens. (Sublinhe-se que este poema é de 1966, quando o poeta já tinha vivido quase tudo o que tinha para viver.) Talvez a morte deste cão lhe tenha despertado a lembrança da morte dum outro cão, ocorrida na sua infância, que nunca esqueceu, a ponto de a lembrar muito depois num poema que é só esta nota profundamente ferida: Há-de haver sempre meninos a chorar ao pé do velho cão morto.

[...]

Um poema [...], Ao meu cão «Fixe», é o olhar saudoso do estudante de 17 anos, preso em Lisboa pelos seus afazeres escolares, que divisa o mundo da sua infância, onde espera ir, provavelmente nas ferias de Natal que se aproximam. (Vem aí Dezembro). Uma das razões por que deseja partir para essa paisagem amada é porque para o seu cão ainda sou o teu menino, isto é: para o mundo que o rodeia e lhe é hostil o poeta perdeu a infância, mas para o mundo animal, isento de julgamento porque inocente, ele continua a ser o menino que interiormente sente que é ou que deseja ser.
[...]

José Bento
Poesia [de Cristovam Pavia]
Moraes Editores, 1982
Oferecido por Rui Almeida.

Desajustado aos estudos, aos amores, à cidade, foi para o estrangeiro, tentou a psicoterapia, mas sem resultado. Em 1968, atirou-se para debaixo de um comboio. Não podemos ignorar a importância do convívio pessoal e da morte súbita, factores muitas vezes invocados e que emprestam uma aura à poesia de Pavia que às vezes vai bastante além do que encontramos nos poemas. Mas o livro de 1959 é muito significativo em termos da evolução da poesia portuguesa pós-presencista. A "geração de 50" debateu-se com as mais variadas influências e seguiu todo o tipo de caminhos. Basta dizer que Pavia publicou em revistas com poéticas tão diferentes como a "Távola Redonda" (neo-lirismo) e a "Árvore" (humanismo). "Poemas" recolhe o livro de 1959, uma secção de dispersos e outra de inéditos. O volume, com organização de Joana Morais Varela, retoma a compilação homónima editada em 1982 e acrescenta novos textos e uma nova disposição, mais notas e uma marginália crítica, num trabalho irrepreensível. O prefácio é de Fernando J. B. Martinho, que conhece como ninguém a poesia portuguesa da época. Martinho explica que Pavia, tal como outros pós-regianos, recuperou a penumbra existencial de Pessanha, a teatralidade mimada de Nobre e Sá-Carneiro, mais o Pessoa ortónimo, bem como os poetas brasileiros e Rilke. Ou seja, apesar de ter editado em 1959, Pavia é ainda de algum modo um simbolista tardio, incompletamente modernista, ligado a um confessionalismo adolescente e meditativo.

POR PEDRO MEXIA

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Rogel Samuel: Terra caída


Rogel Samuel: Terra caída

Trágica lembrança essa do famoso poema de Álvaro Maia, “Terra caída”, no episódio recente do desbarranco ocorrido em Manaus:

“Na outra margem, na enseada esbatida nas brumas,
rolam blocos cde terra em dolente estertor
com frondes e sopés, flores e sumaúmas...
O rio estoura e ferve em torvelins de espumas,
e pranteia o infortúnio em regougos de dor...”


O título também é do romance de José Potiguara e da obra de Eider Pestana.

Álvaro Maia era um excelente poeta, hoje esquecido, até recusado pela crítica amazonense. Ele marcou o que se pode chamar de neo-romantismo na poesia amazonense.
O poema é enorme e não vou transcrever aqui.

Ninguém como ele para conhecer o fenômeno das “terras caídas”.

No seu romance “Beiradão”, a isso se refere:
“Seguindo essa perspectiva de restabelecimento, o sítio de Fábio também atinge uma prosperidade, atestando que “[...] havia tranqüilidade na pobreza, a fartura na relatividade, a comprovação da vida no interior verde, afastando o tabu da vida unicamente apegada ao extrativismo [...]”.(89) As ações de Fábio na administração de sua propriedade comprovam ainda um planejamento racional, à medida que não somente busca outras alternativas econômicas, além da monocultura, mas também se previne de surpresas que possam ser causadas pelos acidentes naturais próprios da estrutura geológica da região, plantando cacauais em restingas altas, longe, portanto, das margens afetadas pelo fenômeno das terras caídas”.

Eu cito: Lucilene Gomes Lima. Ficções do ciclo da borracha no Amazonas: Estudo comparativo dos romances “A selva” (FERREIRA DE CASTRO), “Beiradão” (ÁLVARO MAIA) e “O amante das amazonas” (ROGEL SAMUEL). Manaus, Editora da Universidade do Amazonas, 2009. 240p. ISBN 978-85-7401-458-6. Beiradão: a percepção de um escritor nativo sobre o ciclo

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Rogel Samuel: teia dos labirintos





NA TEIA DOS LABIRINTOS SEMÂNTICOS


Rogel Samuel

Livros raros os como esta «Teia dos labirintos» de Mirian de Carvalho (São Paulo, Escrituras, 2004), volume, obra escrita em versos, sim, sim, que não se trata de um grupo de poemas, seja, conjunto de poemas reunidos em livro, com um título para os agrupar; mas é um só poema quase, um poema só, um trabalho de articulações poemáticas e temáticas estrutura os vários poemas, costurados, entretecidos, de forma que o que lhe dá a característica de livro não é só o título, mas o conjunto conexo, a urdidura unitária do construído bloco, um elemento só, livro que é labirinto significativo mas e onde se entrança o leitor e ali penetra, como numa livre pesquisa e sonhada, fechada no seu tema polissêmico, com começo, meio e fim.

* * *

A «Teia dos labirintos» é construída em blocos: fio de Eros, nas malhas da lenda, urdidura simbólica, liame de ascensão, laços notívagos, e tecedura das coisas.
Cerzido em ciclos o vocabulário do primeiro bloco aparece, costurado, talhado, nervorisado, no visgo da aranha textual, em tecido, o tear, rendas e novelos. Pelos e gozo. Laços e afetos na fímbria da bainha do tecido de um «laborioso tear, mostra-se à flor da pele / em urdidura de flores de fios». De sombra e luzes são tranças, desejos, cabelos, visceral trabalho de uma fiandeira-mãe, faminta de espera, de esperma, no tremular de fieiras de grinaldas em gemidos da sua trama, em seda do «amoroso lavor / de pontos de trespasse», como poesia costureira.

* * *

Do segundo bloco o vocabulário vem do «Livro de Jó», do passado, da origem e de outras tradições, como a do islamismo, do hinduismo, budismo, bramanismo, helenismo, e mais, e os deuses olímpicos, de África, da Micronésia, configurando uma polimorfologia, uma múltipla cosmologia temática.

* * *

Depois vem aquela urdidura simbólica, e armadilha, onde orifícios e linhas, num jogo de fiandeira e numa galáxia de tramas, ungindo luas, luzes e amores, se enfiam nos fios de ouro dessa visão de sublime e no final de fugas de um aranhal de luares, e redes de encontros (e desencontros), impulsos, raízes, insetos e vazios, «destilando a seda», «em imaginária agulha».

* * *

Há agora algo que sobe, o vazado, a costura, o tecido, o telhado, as vidraças, os pássaros, asas, calhas, naquelas arquiteturas «às barbas do sol», onde o tempo se derrama, se proclama, em laçadas e filigranas. Toda a poesia é e está no vocabulário (afinal, a poesia está no dicionário), que traça desenhos e galhardetes entrecruzados rendilhados bordados laços de vida e de morte rios de linha floresta de telas cavernas de luz e lua.

* * *

«Laços notívagos» desce aos pântanos, às redes de ferro do fundo da noite do mar, da memória subterrânea, dos presságios dos becos da terra prenha das sombras incertas dos buracos negros onde estão os fantasmas e aquelas águas verdes das algas das vozes antigas e mortas.

* * *

E assim se fez «a tessitura das coisas» adormecidas, vindouras, fiapos do vazio de oriente na trilhas de desertos exilados arcaicos onde as escamas prove a fome dos desígnios dos homens, e os morcegos expandem suas cavernas de nanquim, lá recolhendo o fôlego e a força dos homens...

* * *

Mas o belo livro termina com uma prece de São Francisco que diz:

Ao cair da tarde, na voz das aves
minha Oração de São Francisco.

Acerca do amor


Acerca do amor



Do amor só digo isto:

o sol adormece ao crepúsculo
no oferecido colo do poente
e nada é tão belo e íntimo,

0 resto é business dos amantes.
Dizê-lo seria fragmentar a lua inteira.

Filinto Elísio (Cabo Verde)



Encontrado em http://aguarelast.blogspot.com/

_______________________
Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com

Sobre Figura do Apocalipse


Sobre Figura do Apocalipse

CLARISSE DE OLIVEIRA


No Apocalipse de São João, que ele escreveu na Ilha Grega de Patmos, ha uma referencia interessante, digna de ser estudada: - os corpos que têm olhos por dentro, e são muitos olhos.

Ora, os nossos olhos que estão em nossos rostos e olham as coisas externas, quando sãos, naturalmente, constatam as coisas externas: - e, os olhos que cobrem os corpos internamente? Que Vêm?

O que vemos, quando olhamos para dentro de nós mesmos? - Não com dois olhos, como os do rosto, mas milhares de olhos internos?

- O que a Razão de Viver, não nos é revelada pelos olhos externos.

Ver é constatar.

O que é constatado pela Visão Interna, não está sujeito à Dependencia da Natureza, do Mundo.

A Constatação feita por Algo a que não temos Acesso, também não teremos a compreensão
que depende "desse Algo".

O Olhar Interno interdepende de nosso Ser Material.

É possivel que a Constatação do Olhar Interno perceba a Razão de Ser tanto Espiritual como Material - pois o Material depende do Material, mas interdepende do Espiritual e o X da Revelação está à Disposição do Humano, como Tudo, pois a Criação que é a Realização devem ser A Mesma Coisa, pois o Humano é Herdeiro Direto da Obra do Criador e Tem por Isso Todo o Direito Correto da Herança de Deus.

clarisse

sábado, 16 de outubro de 2010

Rogel Samuel: O Quinto Império


Rogel Samuel: O Quinto Império




Abandonar o aconchego da lareira, do lar, do ninho, e lançar-se no sonho, no erguer das asas, abandonar a felicidade, a paz da vida que apenas dura, a espera da sepultura, o contentamento e lançar-se para as conquistas, para a Conquista, para o realidade do Quinto Império.

Que seria o Quinto Império?

O Quinto Império foi imaginado por Vieira: os quatro Impérios eram dos Assírios,
dos Persas, dos Gregos e dos Romanos.

Pessoa diz que os quatro primeiros impérios são o Império Grego, Romano, o Cristianismo e a Europa.


Seria a Era de D. Sebastião.

Oh, triste de quem fica em casa, feliz com seu lar. "Vive porque a vida dura". Não tem alma, ou nada lhe diz mais que a espera da sepultura.

Ser descontente! Viajar! Perder e perder-se em países! Um dia a terra será o Teatro do Dia Claro do Quinto Império... parece que o Quinto Império deve ser procurado, não construído.

Será que o Quinto Império não seria o próprio Fernando Pessoa?


Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.


Grécia, Roma, Cristandade,
Europa-- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Rogel Samuel: O risco da maioria silenciosa


Rogel Samuel: O risco da maioria silenciosa

Diz um jornalista que “em 1969, em virtude das manifestações contra a guerra do Vietnã, o então presidente americano Richard Nixon fez um discurso em que se dirigia à "grande maioria silenciosa", formada pelas bases conservadoras do partido Republicano, que não havia ido às ruas, que apoiava a guerra, e pedia apoio para unir-se a ele em favor da vitória dos Estados Unidos. A estratégia funcionou e Nixon conseguiu reeleger-se em 1972”.

O termo me assaltou quando eu ontem estava num restaurante e ouvi o seguinte diálogo na mesa ao lado:

- A senhora viu o debate na tv ontem? – perguntou um rapaz.

- Eu não vou perder meu tempo... – respondeu uma senhora.

Por causa dessa imensa “maioria silenciosa” que se recusa a ver a realidade (que é política) é que houve a terrível guerra do Vietnã quando mais de 400 mil soldados e civis morreram durante o conflito de nove anos, quando quase três milhões de jovens norte-americanos serviram durante os 15 anos de engajamento militar e 56 mil soldados americanos morreram e mais de 300 mil voltam para casa mutilados ou com deficiência e que bem poderiam ser filhos daquela senhora elegante que não quis “perder o seu tempo”.

domingo, 10 de outubro de 2010

O futuro está nas nossas mãos


O futuro está nas nossas mãos

Rogel Samuel

Não se trata apenas de uma eleição, mas é o futuro de nossas vidas que está em jogo. Trata-se de dois modos de governar que vão afetar diretamente as nossas vidas. Um é governar para os pobres, outro para para as grandes empresas petrolíferas. Um leva à maturação do desenvolvimento, outro representa uma volta a um passado sinistro que tentamos esquecer. Um visa à plenitude da vida das pessoas, com a eliminação da pobreza etc. Outro, ninguém sabe a que visa.

Não são duas pessoas candidatas a um cargo, mas duas forças políticas que se enfrentam.

O futuro está nas nossas mãos.

sábado, 9 de outubro de 2010

O quadro branco


O quadro branco


Rogel Samuel


De Walmir Ayala releio um poema, intitulado «Estação», a que sempre volto:

Na geladeira as frutas
escurecem de mortas

O quadro a geladeira as frutas mortas geladas de morte, natureza morta, alma morta, amor morto. Nessa da geleira de um Himalaya morto, neste Instituto Médico Legal da autópsia do pomar,

as peras são secretas
usinas de água doce,

E dentro das peras há uma fonte a suculenta feminidade, a pose de ovário e úvula, a complexidade singela, a sua capacidade de oferta, de entrega, de lamúria, fonte de águas mortas, internas, com entraves de pântanos doces das almas líquidas partes da natureza do amor, das estivais qualidades da natureza das carícias do corpo úmido, dos corpos entregues a si mesmos, que é quando partes do mais tátil amor que se dá às mãos que deles fazem seus prazeres e saberes e mergulhos, nos gozos internos e usos, no segredo do maior e cavernoso introduzir hipodérmico da sua capacidade de sentir e de pulsar. Que é? A água doce do amor, a usina do impulso amoroso. São os líquidos doces, langorosos, das umidades humanas.

um mamão decepado
mostra a íntima carne

O mamão, macho, masculino castrado amputado, calado, prostrado, exibindo entranhas estranhas, carne devastada, intimidade devassada, o porte guilhotinado em bastilhas vasilhas sobremesas - mamão revolução estraçalhado carne vegetal gengiva mole e aberta.

e as goiabas oloram
seu verão serenado.

O cheiro das goiabas, o perfume do verão no inverno do refrigerador, em antífrase feliz as perfumadas açucaradas e brandas goiabas. O verão olorizado de sereníssimo repouso. Oferecidas ao seu saboroso cheiro do pomar tropical.


Mas são mortas e lentas
neste ofertório as frutas.

Que está morto, tudo está congeladamente morto, com frieza mortal da morte lenta, da morte eterna, mumificada, gelada, branca, da porta aberta da geleira tumular, este ofertório poético.

Um vapor congelado
contorna seu mistério.

Envoltas no nevoeiro, no seu mistério frio, branco, hospitalizado, as obscurecidas frutas medicalizadas, no branco arrepio da poesia misteriosa, do mistério da poesia...

E elas posam no ardor
do branco cemitério
de seu grave pomar.

Crítico de arte era o poeta Ayala que abre, no seu cemitério doméstico e culinário, a escrita de seu receituário de forno e fogão, na gravitação polar tematização estival (e não outonal), bosque enclausurado.

E a geladeira inventa
surdo primaverar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Rogel Samuel: O silêncio

O silêncio



O silêncio. Os únicos sons vêm das árvores. Raros. A paz. O sol entra pela janela com o vento das montanhas. Uma fresca brisa e as diversas tonalidades do verde. Telhados venerandos, árvores cansadas de sua beleza. Sopro da morte, da morte histórica. As colinas se sustentam no ar. Tudo em festa de luzes.

Estou aqui. Amanheço em Tiradentes.