sábado, 16 de outubro de 2010

Rogel Samuel: O Quinto Império


Rogel Samuel: O Quinto Império




Abandonar o aconchego da lareira, do lar, do ninho, e lançar-se no sonho, no erguer das asas, abandonar a felicidade, a paz da vida que apenas dura, a espera da sepultura, o contentamento e lançar-se para as conquistas, para a Conquista, para o realidade do Quinto Império.

Que seria o Quinto Império?

O Quinto Império foi imaginado por Vieira: os quatro Impérios eram dos Assírios,
dos Persas, dos Gregos e dos Romanos.

Pessoa diz que os quatro primeiros impérios são o Império Grego, Romano, o Cristianismo e a Europa.


Seria a Era de D. Sebastião.

Oh, triste de quem fica em casa, feliz com seu lar. "Vive porque a vida dura". Não tem alma, ou nada lhe diz mais que a espera da sepultura.

Ser descontente! Viajar! Perder e perder-se em países! Um dia a terra será o Teatro do Dia Claro do Quinto Império... parece que o Quinto Império deve ser procurado, não construído.

Será que o Quinto Império não seria o próprio Fernando Pessoa?


Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.


Grécia, Roma, Cristandade,
Europa-- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante você trazer, neste momente tão específico e decisivo da vida nacional, as brumas remotas do sebastianismo e do Quinto Império.
Já agora, recomendo a quem interessar possa, a fascinante leitura de Jacqueline Hermann desse mito: "No reino do desejado", editora Companhia das Letras.
Só uma brasileira para fazer uma leitura isenta e arejada desse mito que, se bobear, até por aqui, e ainda, se faz sentir.
Mas como disse o dândi francês em NY, "não se deveria permitir que o morto fosse mais forte que o vivo", e ele devia ter lá suas razões.
Suadações