terça-feira, 19 de julho de 2011

Viajar no tempo pelas Linhas de Torres


Viajar no tempo pelas Linhas de Torres


Há pouco mais de dois séculos, o avanço do exército napoleónico de Massena em direcção a Lisboa era parado pelas Linhas de Torres, um formidável arco defensivo construído entre o Atlântico e o Tejo para proteger a capital. Percorremos a Estremadura em busca dos sinais e vestígios desse passado militar português.

Fotogaleria: Um passeio pelas Linhas de Torres


É uma manhã de Maio e sopra uma brisa fresca que quase faz esquecer o sol já razoavelmente forte. O tempo está magnífico e sob um céu azul o olhar perde-se na distância, tal é a visibilidade neste dia primaveril. Do alto, a poucos quilómetros de Torres Vedras, vê-se a cicatriz que a auto-estrada fez de norte para sul e, mais longe, para lá das eólicas, está o mar envolto em ténue neblina. Em suma, um dia luminoso de Primavera.

Para chegar até aqui há que subir de carro em velocidade muito moderada - também pode ser a pé -, a estrada militar em terra batida que ladeia o Forte da Feiteira (GPS 39º 02" 39,805""N, 09º 13" 55,387""W) e culmina mais à frente no Forte da Archeira (39º 02" 04,641""N, 09º 13" 04,991""W), mesmo no topo do monte. A ligeira protuberância no terreno, coberto por vegetação rasteira e flores silvestres de todas as cores, não diz a quem passa que esta é uma construção militar típica das Linhas de Torres. De perto, observa-se que o fosso ainda tem o empedrado original e o recinto circular bem definido abriga o través, uma pequena elevação à entrada do forte para defender o acesso ao interior, onde estavam instaladas as peças de artilharia e a guarnição.

Passaram-se 200 anos sobre a construção destes monumentos e já pouco mais resta que dê testemunho da sua existência. Carlos Guardado da Silva, historiador, director do Arquivo Municipal de Torres Vedras e especialista das Linhas de Torres Vedras, lembra que a maior parte destas edificações eram "obras militares de campanha, sempre efémeras, na sua maioria feitas de terra". Mas houve homens que viveram aqui longos períodos, militares que perscrutavam todos os dias os vales que se dominam a partir destas posições elevadas, em busca do invasor estrangeiro. Estabeleciam comunicação com fortes idênticos espalhados pela paisagem, suportando os ventos fortes, o frio glacial ou o calor extremo, e as precárias condições de alojamento da época, isolados do mundo por caminhos que nem sequer mereciam esse nome.

O nosso guia aponta para norte, lá onde se vislumbra o vale de Runa - não se vê, mas não fica longe a aldeia de Caixaria, ponto mais próximo de Lisboa a que os franceses conseguiram chegar -, onde a 1 de Novembro de 1810 se travou uma das poucas escaramuças entre soldados franceses e tropas do exército anglo-português, no caso da Leal Legião Lusitana, sob o comando do capitão Veloso Horta.

Para o lado do mar fica Peniche e ao lado o Bombarral. Para o interior, ergue-se a serra de Montejunto, um dos obstáculos naturais à progressão do exército napoleónico em território português. Atrás do Forte da Archeira vê-se o imponente monte do Socorro (GPS 39º 1" 3,058""N, 9º 13" 30,591""W), onde estava instalado o centro de comunicações das linhas. Um dos lados deste forte dá para uma encosta íngreme, praticamente inexpugnável. Lá em baixo corre um dos desfiladeiros que a malha das Linhas de Torres tinha por missão controlar. No cume, tem-se a sensação de ter o mundo aos pés, tal é a grandeza do espaço que se domina dali, e percebe-se por que razão foi escolhido para instalar esta fortificação militar.

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