sábado, 9 de maio de 2015

SONETO DE PEQUIM



SONETO DE PEQUIM



Cidade com milênios de abandono
fixa o presente acima do passado,
o olhar oblíquo vagamente inchado
de quem teve mau sonho em vez de sono.

Houve reis, mandarins... Agora o dono
de tudo é todo o povo despertado
que o seu trabalho enfim tem compensado
como quem troca o inverno pelo outono.

Os velhos bairros curvam-se em contraste
junto aos quarteirões novos que o guindaste
vai empinando além do antigo muro.

Não há pressa de máquina ou de gente:
quem mais corre é talvez o mais paciente
a contar com o presente do futuro.

                                                   Geir Campos

Do livro: Tarefa, Civilização Brasileira - Massao Ohno / Editores, 1981, RJ

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