sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A PANTERA 23 (ROGEL SAMUEL)



A PANTERA 23  (ROGEL SAMUEL)

Decidi morar em Paris até o fim dos meus dias. Não podia sentir medo diariamente, vendo meus inimigos em toda parte. Com meu tio e Jara, ganhava a família que não tive.
Para fixar-me em Paris, dei entrada no pedido de cidadania francesa. Meu pai era francês.
O tio disse que gostaria de rever Biarritz, onde estivera antes. Passamos alguns dias no Hotel Marbella. Meu tio se lembrava de cada esquina daquela cidade. Dias felizes. Demos um mergulho no mar de águas geladas. Entramos em lojas, galerias, jardins. 
Eu disse para ele que não mais regressaria ao Brasil, e pedi que ficasse conosco. 
Não respondeu. Presumo que ele não entendia de onde eu tirava dinheiro, nem lhe contei. Naquele tempo já tinha conta em banco europeu. Não era muito dinheiro, dava para manter-nos por algum tempo. Eu esperava trabalhar depois de meu curso de moda. 
Eu queria tê-lo a meu lado, figura paterna, que já estava muito velho para morar sozinho no sítio. A vida cultural de Paris o atraía, museus, concertos, livrarias, conferências, bibliotecas. Ele passava a viver novamente, fazia novas amizades. Cozinhávamos em casa para economizar, e o simples fato de andar por aquelas ruas já era um grande programa. 
Eu aprendia rápido no meu curso na “Ecole”. Não era um iniciante.

Mas o tio voltou para o sítio e nós continuamos em Paris, no apartamento da rue Violet. Por telefone, mantínhamos contato. Tomado por Paris, começou a dizer que voltaria, que ia arrendar o sítio, mas nada fazia. 
Eu e Jara éramos felizes e eu estava cada vez mais animado com o curso, pois logo virei professor de modelos especiais (senhoras baixas, gordas e idosas). Nisso eu era bom.

Mas tudo mudou. Jara começou a dizer que queria voltar para a tribo. A princípio, não levei a sério,  mas ela repetia, e eu comecei a suspeitar que estivesse louca. 
Por fim, tomou decisão de voltar sozinha e disse que ninguém poderia impedi-la.
Assim eu a mandei sozinha para Manaus, onde meus companheiros a esperavam e a levaram para a mata onde ela simplesmente desapareceu. 

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