sábado, 17 de outubro de 2015

A PANTERA 25

 A PANTERA 25

ROGEL SAMUEL

Meu tio faleceu pouco depois. Foi outra imensa, grande perda. Ele me fez herdar o sítio, cujo valor não era grande coisa. Não fui ao seu sepultamente. Ele foi achado morto dias depois.

Coloquei um caseiro no sítio. Não consegui vender meu apartamento de Copacabana.
E aprendi a ser pantera, um caçador solitário, um sobrevivente.

Um dia, uma senhora, diretora da Maison Rivière, me procurou perguntando se eu poderia atender uma freguesa sua. Fui apresentado como estilista a uma senhora baixa, mal-humorada, gorda, barriguda e poderosa que tinha rejeitado todos os modelos apresentados anteriormente.
Era a Madame Adele.

Ela era a viúva de um magnata oriental, uma espécie de príncipe, que necessitava de uma roupa para um evento, o que eu desenhei na hora, e ela gostou, porque era algo que ela podia vestir com conforto e beleza, com uma capa de seda e lã em dois planos, sem nenhum enfeite, mas deslumbrante. Na realidade desenhei dois vestidos, um mais claro, outro mais escuro, e eram simplesmente notáveis (eu mesmo reconheço) e possibilitavam que ela usasse suas joias, o que certamente ela deveria de ter.
O detalhe grandioso estava na gola, uma espécie de cocar indígena franzido na própria fazenda que a “levantavam”, que a fazia maior, mais alta, além do cabelo e do salto.
Ela gostou, comprou na hora por uma fortuna, não discutiu preço, e se foi. E a equipe de costureiras num alvoroço começou a preparar as fazendas, a cortar, comigo a supervisar os detalhes.
O milagre da obra eram aquelas costureiras e bordadeiras.
Quando ela veio vestir a roupa me disse que  estava soberbo.

Foi assim que eu me tornei estilista principalmente daquela senhora, que me pagava regiamente, viúva de um dos homens mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes. Tinha até um Banco.

Comecei na ganhar pequenas fortunas dela e de outras freguesas que ela indicava.

Asim voltei a morar na rue de Fondary, num apartamento de boa localização.

E me ocupava a minha profissão, o que me ajudava a esquecer Jara. Eu dormia e sonhava com diversas roupas, luxuosas, vestidos daquelas mulheres que me apareciam como a Rainha Vitória, a mais indígena das rainhas.

E pouco depois eu passei a desenhar também joias que deveriam ser usadas com meus vestidos, cocares de ouro e diamantes, penduricalhos espetaculares, chocalhos reluzentes.

Um dia recebi um convite para visitar um príncipe árabe. Ele queria que eu vestisse sua mulher.

- Eu lhe disse que ia pensar... - ele dobrou o preço.

- Mas o senhor vai permitir que eu a veja e toque na sua esposa?

- Com a minha presença...

E acrescentou:

- Você não vai vê-la por muito tempo, e eu quero um vestido excepcional para ela.

Depois descobri que ele era filho de Madame Adele.

Assim fiz o meu trabalho e ele me pagou regiamente. Ao chegar em Paris e atender Madame Adele que não parava de me encomendar novas roupas e de me recomendar a suas amigas soube que gostaram.

- Meu filho adorou seu trabalho, me disse ela em segredo, sussurrando no meu ouvido. E me deu um Cartier de presente.

E eu me ri, pensando no que representava.
Aquela profissão estava tomando um rumo que eu não nunca tinha pensado. Mas aumentava minha conta bancária e me permitia viver quase luxuosamente.

Depois disso, outros árabes me encomendaram roupas para esposas e concubinas. Principalmente concubinas.
Em todas eu acoplava um véu ou uma capa que podia ser usados para cobrir o rosto.
E descobri uma coisa – quanto mais luxuosos e caros os vestidos, mais eles gostavam.
Então eu ia criando roupas dignas de rainhas bordadas a ouro sobre sedas raras, com pássaros e flores exóticos e até um largo bracelete de ametistas e brilhantes que ficou famoso pela beleza e... pelo preço.
A criança costureira que fui aos pés de minha mãe agora amadurecia.

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