quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A PANTERA 27



A PANTERA 27

ROGEL SAMUEL

O Lama Tenpa era Khampa, nasceu no Kham,  Tibet, família de fazendeiros. Seu pai tinha iaques, cavalos e cabras.
Com a ocupação chinesa, seus pais foram  presos, depois mortos, acusados de latifundiários e, portanto, “inimigos do povo”. Sobraram ele, adolescente, a avó e uma irmã pequenina. Os três não conseguiam cuidar da fazenda, plantar, colher, alimentar os animais restantes. Os chineses confiscaram grande parte do que tiveram e do colhiam. Tempos depois morreu a avó e a irmã. Os chineses ocuparam o que sobrara. 

Ele andou até Lhasa, onde passou a participar de protestos contra a invasão chinesa. 

Numa delas foi preso.

Preso, mas nunca foi a julgamento. 

Durante a prisão apanhou muito, ficou com uma grande cicatriz na perna por causa de uma bordoada. 

Nesses anos ele recebia uma xícara de chá aguado e um momo (sem nada dentro, umas bolotas feitas de farinha e água e cozidas). Era a alimentação dos tibetanos nos presídios chineses.

Ficou preso anos. Mas um dia foi libertado sem saber por quê. Se ficasse no Tibet, iria acabar matando chineses. Seria um assassino. Resolveu tornar-se um monge. 

Como mendigo, andou, durante seis meses até Katmandhu, comendo o que lhe davam. 

Quando chegou foi ao monastério de Dazang Rinpoche, que era Khampa, e ali tomou votos.

No terceiro retiro de 3 anos, este em Pullahari,  teve um problema na coluna. Ele já andava com muita dificuldade, por causa dos longos períodos sentado. Tinha que operar. No Nepal  não faziam a cirurgia na época. Foi colocado em avião para a Índia, onde foi submetido à cirurgia e ficou tetraplégico. 

Mas aos poucos, com acupuntura, muito remédio tibetano e uma nova cirurgia na Índia, ele recuperou os movimentos da mão esquerda, depois o braço esquerdo. O lado direito permanecia paralisado, assim como as pernas.

O Lama Tenpa – muito sorridente, irradiando felicidade - me recebeu na cama, e eu lhe disse - por um intérprete - o que queria saber.

- Talvez você nunca mais a veja, respondeu ele, depois de fazer a previsão, jogando o Mô.

Voltou a jogar o Mô e disse:

- Não volte lá. Ali sua vida corre perigo. Seus inimigos o esperam, armados. Sua esposa está bem, junto com os seus.

(O Mô é uma adivinhação tibetana feita com um dado.) 

Fiquei agradecido, fiz um oferecimento, que ele respondeu com uma pequena reza.

Saí dali menos confuso. Tentei relaxar. Telefonei para Paris, assisti a um grande Puja no mosteiro Dharlam, e voltei para a França, onde me aguardavam encomendas de Madame Adele, para quem fiz um luxuoso vestido de rainha das Amazonas...

Devolvi o apartamento. Voltei a viver em hotéis variados, como forma de me esconder.  


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