Não, nada recebeu em troca, nunca teve dinheiro, nunca teve onde morar, nunca bajulou os poderosos nunca os aturou, sempre os irritou. Depois de quarenta anos de trabalho só colhera inimizades. E o calor e os mosquitos, as noites sufocantes. Varara florestas impenetráveis cheias de cobras, aranhas e escorpiões. E como reconheciam? Com a calúnia, com a degradação do nome. Aqueles crápulas não podiam compreender a vida no meio dos índios sem ser por algum sórdido motivo, nascido da doentia imaginação deles. Ninguém acreditava que ele servira naquele inferno quarenta anos em troca de nada. Aquilo roía sua alma. Havia cartas dos superiores com acusações, o Provincial veio com falas ... Ah, que o tirassem dali, que ele já se ia para sempre - se o matassem lhe fariam um grande bem ... Ele estava sobrando naquele mundo, certamente gostaria de morrer a aturar o paroquial, que detestava. Ninguém gostava daquele homem feio, que de padre só tinha o hábito. A voz, grossa e entediada, as mãos rudes e fortes, a expressão feroz. Frei Lothar odiava a classe dominante, odiava a religião e a fé, que para ele eram a medicina e a prática. Não falava de coisas piedosas, coçava o saco, rezava de má-vontade, irreverente, lacônico, sincero, agressivo, grosseiro com as autoridades, primitivo e rude. Frei Lothar, na Amazônia, era um militar irritado, um fiscal de Deus, armado.
A noite já andava densa quando a alvarenga ficou cheia.
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