A PANTERA 4 - ROGEL SAMUEL
Chegamos a uma íngreme pedra de umas grandes árvores cercada, cingida de um pequeno e claro riacho, que atravessamos, os pés nas pedras, e caminhamos, graves, calados, os olhos contemplando aquelas árvores majestosas, e então com voz suave Jara me falou, mas eu o que ouvia não entendia, e subimos aquela alta pedra nos pegando pelos galhos, nós subíamos, e de lá, de cima, divisamos de aves o bando numeroso, verde esmalte - a companheira me dizia e me indicava, egrégias aves que me extasia o prazer de vê-las, e depois seguimos por outra vereda, outra trilha, o ar sereno, ela vindo me diz na sua língua adversa, que traduzi como: “Aqui chegamos, onde e quando a luz do dia não mais brilha e o espaço menos largo se compreende, mas onde o pungir da dor é mais profundo”.
E ali quedamos, armando de enorme galho nossas redes, a esperar que da noite as sombras nos cobrissem e o sono, misterioso e leve, nos tomasse.
Mas logo conseguimos ouvir os infernais lamentos da onça negra que rugia como um mar combatido de ventos, de tormenta ou furor nos perseguindo, nunca abatida, que perpetuamente nos seguia em seu embate, recrescida, que à borda daquele abismo precipitava seus ais, seus soluços, rompendo com rugidos, e ouvi então Jara me dizer, que traduzi assim: "Não se atemorize, pois como nós ela também está temendo ao capricho do vento, sem conforto neste longa série de avanços com seu grasnido, assim no gemer, que não descansa com o vendaval que a fustiga denegrida".
E em tumulto invisíveis aves da noite volteavam no céu, ao capricho dos ventos, que as trazia no rebojo, como em agonia, como naqueles ares longa série de abutres avançando por trás de um tufão de sombras, em vão pelo seu pavor saídos da tumba de demônios.
E após aquelas aves fez-se um silêncio estranho, que a Jara perguntei: “Que aconteceu agora?”
E Jara respondeu com um suspiro: “Cruel destino, triste congitar! Procederam do mar do fim do mundo”.
Disse-lhe eu: “Oh Amiga, teus martírios me angustiam”, pois já tinha nascido a flor do nosso afeto, como namorados éramos, a sós naquele monte, e num ponto só nos deu guarida, pois a boca me beijou estremecida que tombei como corpo morto, mas:
“Espera!” – me disse ela, e subiu ao alto colina onde da árvore mais alta pode observar uns novos clarões que vislumbrava, enquanto que eu da pantera a respiração ouvia por toda parte ao longe e ao lado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário