domingo, 15 de abril de 2007


O DIA INATINGÍVEL


Rogel Samuel


Um dia ele saiu de sua toca, digo, de seu pequeno apartamento e começou a andar pelo corredor imundo do caos daquela cidade.Era o anoitecer do dia de Natal. Chovia.Não demorou que estava fora da área protegida.Havia espiões por toda parte, homens armados e mulheres sujas, vendendo sexo.Não pôde compreender tudo, mas, como não saía de casa há muitos anos, pensou que tudo poderia estar assim desde o Grande Episódio.Procurou um bar, pois estava com o pouco dinheiro que lhe restava.Entrou, pediu uma cerveja, e bebeu. O rapaz do bar perguntou:- Com quê vai pagar?Ele estranhou a pergunta, mas respondeu:- Com dinheiro.- Com que dinheiro, quis saber o rapaz.Aí ele não soube mais o que responder. Imaginou que o mundo mudara, e que aquelas velhas células não mais valiam nada. Resolveu arriscar:- Veja, respondeu, exibindo o dinheiro.À vista disso o rapaz do bar desmaiou e caiu, o dia amanheceu, as luzes se acenderam nas árvores e parou de chover.Só então ele reparou que trouxera, por engano, suas cartas de amor.

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