quinta-feira, 31 de janeiro de 2008


CANÇÃO DO EXÍLIO




Todos conhecem esta canção de Gonçalves Dias. É hino nacional. Mas alguns não percebam ainda quanto de poesia ela tem.

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

O que salienta é o ritmo da redondilha, associado com umas sonoridades vocais nascidas das evocações das palmas, dos pássaros, dos cânticos.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

O excessivo "nosso" - plural socialista - sentimento nacional, visual, ecológico das estrelas no céu brasileiro, das flores nas várzeas, dos bosques, da vida, dos amores tropicais.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Solidão, saudade (exílio). O refrão chama para a praia. Opõe-se um "cá" com um "lá": prazeres e primores se opõem à morte. Se há, é a poética da simplicidade, da humildade. O poeta compôs uma canção a partir dos menores elementos, dos mais simples planos. Compare com, Bilac: "AOS SINOS".

Plangei, sinos! A terra ao nosso amor não basta...
Cansados de ânsias vis e de ambições ferozes,
Ardemos numa louca aspiração mais vasta,
Para trasmigrações, para metempsicoses!
Cantai, sinos! Daqui, por onde o horror se arrasta,
Campas de rebeliões, bronzes de apoteoses,
Badalai, bimbalhai, tocai à esfera vasta!
Levai os nossos ais rolando em vossas vozes!
Em repiques de febre, em dobres a finados,
Em rebates de angústia, ó carrilhões, dos cimos
Tangei! Torres da fé, vibrai os nossos brados!
Dizei, sinos da terra, em clamores supremos,
Toda a nossa tortura aos astros de onde vimos
Toda a nossa esperança aos astros aonde iremos!

A beleza aqui é a das sonoridades vastas. E assim, também:


"Kennst du das Land, wo die Citronen blühen,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühen?
Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!
Möcht’ich... ziehn."
(Goethe)

"Conheces a terra onde florescem os limoeiros,
Onde laranjas de ouro ardem no verde-escuro da folhagem?
Conheces bem? — Ali, ali!
Eu desejara estar."

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