Os grampos
Rogel Samuel
Getúlio só falava em público com a mão na boca. Ele escondia a boca para que ninguém
que soubesse ler os lábios pudesse saber o que ele dizia. E dizem que ele contava coisas diferentes para cada interlocutor, fazendo uma grande confusão entre os seus supostos "confidentes", de forma que ninguém sabia ao certo o que ele pensava e que decisões ia tomar. Contam que ele se mostrava íntimo de todos, confiava em todos, e a todos ele traía. Mesmo sua mulher não sabia ao certo o que ele pensava, pois para ela um dia dizia uma coisa, no outro o seu contrário. Com isso ficou no poder por muitos anos.
De Tancredo se diz que ele nunca falava nada sério ao telefone, que desligava ou dizia algum disparate, como "não estou ouvindo" etc. Também não tinha confidentes.
Getúlio sempre era bonzinho e sorridente, mas quando seu interlocutor se retirava despejava o ódio nas coisas. Jogava tudo no chão. Era bonzinho e perigoso. E muito vaidoso: durante toda a vida desconheceu a existência de seu maior adversário, Carlos Lacerda. Dizem que nunca pronunciou o nome de Lacerda. Ignorou-o até o fim.
Talvez por isso Lacerda o odiava tanto.
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