quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A PRIMAVERA

A PRIMAVERA

Rogel Samuel


Hoje, primeiro dia da primavera, é bom reler o nosso poeta Casimiro de abreu. O Brasil é um país florido dos substantivos das primeiras estrofes: risos, afago, amores, flores, rindo, festa. A musicalidade desses versos é ritmado pelas sílabas ----4 -----10.
Casimiro é um clássico nessas coisas musicais.
Na segunda parte o poeta entristece: sombria, amargura, murcha, fenece, amargo.
Casimiro está triste, apaixonado, pois "Na mocidade, na estação fogosa,/ Ama-se a vida — a mocidade é crença, / E a alma virgem nesta festa imensa / Canta, palpita, s'extasia e goza".

E morre.


A primavera é a estação dos risos,
Deus fita o mundo com celeste afago,
Tremem as folhas e palpita o lago
Da brisa louca aos amorosos frisos.

Na primavera tudo é viço e gala,
Trinam as aves a canção de amores,
E doce e bela no tapiz das flores
Melhor perfume a violeta exala.

Na primavera tudo é riso e festa,
Brotam aromas do vergel florido,
E o ramo verde de manhã colhido
Enfeita a fronte da aldeã modesta.

A natureza se desperta rindo,
Um hino imenso a criação modula,
Canta a calhandra, a juriti arrula,
O mar é calmo porque o céu é lindo.

Alegre e verde se balança o galho,
Suspira a fonte na linguagem meiga,
Murmura a brisa: — Como é linda a veiga!
Responde a rosa: — Como é doce o orvalho!

II

Mas como às vezes sobre o céu sereno
Corre uma nuvem que a tormenta guia,
Também a lira alguma vez sombria
Solta gemendo de amargura um treno.

São flores murchas; — o jasmim fenece,
Mas bafejado s'erguerá de novo
Bem como o galho do gentil renovo
Durante a noite, quando o orvalho desce.

Se um canto amargo de ironia cheio
Treme nos lábios do cantor mancebo,
Em breve a virgem do seu casto enlevo
Dá-lhe um sorriso e lhe entumece o seio.

Na primavera — na manhã da vida —
Deus às tristezas o sorriso enlaça,
E a tempestade se dissipa e passa
À voz mimosa da mulher querida.

Na mocidade, na estação fogosa,
Ama-se a vida — a mocidade é crença,
E a alma virgem nesta festa imensa
Canta, palpita, s'extasia e goza.

1 de julho, 1858

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