quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A Obsessão de Baudelaire

A Obsessão de Baudelaire

Rogel Samuel


Ele fala para os bosques, que assustam "como as catedrais", que rugem como órgãos, que tem eco nos corações de luto, nos corações malditos. Ele odeia o tumulto oceânico, tumultuário como ele-mesmo, o oceano tem insultos, sombras, ó belas noites sem estrelas, o poeta quer a escuridão, ama os precipícios, a escuridão onde os fantasmas habitam. Ele é o poeta das trevas, da noite.


Bosques, encheis de susto como as catedrais,
Como os órgãos rugis; e em corações malditos,
Quartos de terno luto e choros ancestrais,
Todos sentem ecoar vossos fúnebres gritos.
Eu te odeio, oceano! e com os teus tumultos,
Já que és igual a mim! Pois este riso amargo
Do homem a soluçar, todo sombras e insultos,
Eu o escuto no riso enorme do mar largo.
Como serias bela, ó noite sem estrelas,
Que os astros falam sempre claro em sua luz!
Busco o infinito negro e os precipícios nus!
Porém as trevas são elas próprias as telas,
Em que surgem, a vir de meu olho, aos milhares,
Seres vindos do além de rostos familiares.

(Trad. Jamil Almansur Haddad).

Nenhum comentário: