domingo, 30 de novembro de 2008
Ernesto Penafort
Ernesto Penafort
(Capa de Getulio Alho. Retrato do autor: Bico de pena de Edmilson Salgado)
SONETO
noutros tempos, olinda, eras futuro.
sob sol e silêncio se descia
ao vale, e o vale fértil pressentia
a intenção dos abraços, além-muro.
vieram ventos. choveu do intento puro
o desejo de ser, no qual se cria:
pronta a rosa entendida falecia
sob sol e silêncio no chão duro.
várias chuvas passaram, hoje banho
noutras águas a vida, pois, de antanho,
só a luz do teu rosto é que me ocorre,
entre silêncio e sol, mas como tudo,
se incorpora, no tempo, a um fruto mudo:
sob sol e silêncio nasce e morre.
enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, este esquisito,
este invisível vulto, apenas visto
quando o vento, de leve açoita as folhas.
enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, apenas visto
quando um raio de sol morre na lágrima
que se despede de uma folha verde.
eu serei sempre assim, apenas sombra,
apenas visto quando a voz de um gesto
colhe no bosque alguma flor azul.
apenas visto quando em fundo azul
voar a garça (o meu adeus ao mundo?),
enquanto a lua for calada e branca.
SONETO DO OLHAR AZUL
de azul, azul demais é a luz dos olhos
que espiam em constante claridade
o escorrer, como um rio, uma cidade
com seus becos e sombras - vãos mistérios.
estranhamente azul é a luz dos olhos
que se alçam como pássaros - aéreos
de azul e luz - suspensos de saudade;
e de onde escapa um rio (o rio outro)
cujo leito é de saI e de agonia,
por sobre cujas águas não flutua,
embora em desespero, a luz do dia.
é noturno esse olhar? quem sabe a imagem
daquilo que entre gritos se anuncia
e em silencio acontece - e se faz lua.
O TOURO
o louro cinza traz sobre o ocipício
estranha meia lua eclipsada
no turvo olhar das vacas do Cambixe.
é belo o touro. o olhar (lâmina e gelo)
passeia-nos as aImas decorando-as
como se fossem seus os nossos pastos.
de seu dorso escorrem-Ihe os desejos
que se fincam nas patas feito plantas
de onde brota-Ihe o viço das andanças.
um mugido de cores o ilumina
e a tarde se afugenta de seu lombo
sorvendo o que ha de luz pela ravina.
e silencio o curral. sobreflutua
eclipsada e estranha meia lua.
SONETO DO OBJETIVO MAIOR
tudo está por fazer e ja cansada
te encontras neste inicio de aventura.
tudo está por ser feito e sossegada
te fincas sobre gestos de impostura.
tudo está por cumprir nesta jornada
que agora nos propomos, e amargura
tu mostras antes mesmo a caminhada
que nos há de levar a essa futura
vida que nos aguarda em seus segredos.
por que deténs-me então por entre os dedos
que, antes, teceram tudo o que hoje somos?
não podemos ficar. partir é tudo.
e o que temos de bom sobre o chão mudo.
vamos, seremos mais do que já fomos.
SONETO DO AZUL IRREAL
o irreal azul engole O mundo, enquanto
da morte magra polipartem galhos
e o vento os faz dançar. a leve dança
confunde-se à das aves, negras aves
que alem das folhas verdes se entrevêem
em vôos circunféricos (ao bote
a postos?). Ja um canto ocupa o quadro
e o vento, esse abstrato, como a chuva,
borrifa as notas pelo incerto azul.
e permanece o azul, incerto e calmo.
sob sua pele semelhante a um lago,
em cujo fundo um mundo se agitasse,
existe o nosso (o que foi e é, será?)
agora, vê-se o azul sangrando nuvens.
O touro
o touro cinza traz sobre o ocipício
estranha meia lua eclipsada
no turvo olhar das vacas do Cambixe.
é belo o touro. o olhar (lâmina e gelo)
passeia-nos as almas decorando-as
como se fossem seus os nossos pastos.
de seu dorso escorrem-lhe os desejos
que se fincam nas patas feito plantas
de onde brota-lhe o viço das andanças.
um mugido de cores o ilumina
e a tarde se afugenta de seu lombo
sorvendo o que há de luz pela ravina.
é silêncio o curral. sobreflutua
eclipsada e estranha meia lua.
SONETO DO MURO AZUL
na tarde já passada ainda presente
está o vulto do amor inacabado.
uma lembrança de asa que pressente
um vôo de garça atravessar, molhando,
o olhar horizontal do poeta ausente
ao momento em que estava ali fincado.
era de fato amor. irreverente,
foi o seu gesto triste e tão lembrado.
ambos se olharam. desse olhar cruzado,
ergueu-se o muro azul e transparente
que pelos dois jamais fora pensado.
a musica é a culpada? e o olhar turvado?
na tarde já passada ainda presente
está o vulto do amor inacabado.
(Azul geral, Manaus, Edições Madrugada, 1973. Prefácio de Antísthenes Pinto. Posfácio de Farias de Carvalho).
A MEDIDA DO AZUL
A medida do azul é o estender-se
do olhar por sobre os seres. Esse arguto
perceber que se tem de não mover-se
o objeto - já por ser absoluto.
A medida do azul é ver um luto
contido em toda flor e o abster-se,
cada qual de assumir seu tom enxuto
e noutro que o não seu absorver-se.
A medida do azul, pelo contrário,
não é ver no horizonte o fim do olhar,
mas o ter desta vida aonde chegar,
pois ali tem o mundo o seu ovário:
e o retorno acontece, sempre estável,
eis que o azul é o início do infindável
%%%%%%%%%%%%%%%%
Do corpo, da memória
Ernesto Penafort (1936-1992)
eis que surges, noite morta.
nem te adivinhava antes,
já vagava em outras terras,
outros mares me banhavam.
entretanto, estás
presente, suor do corpo.
rastro de quem anda,
amor de quem partiu.
eis que surges, noite morta.
mesmo adivinhar-te
era um absurdo, noite morta.
principalmente agora
que vejo luz e longe,
estás presente, suor do corpo,
memória e tatuagem,
novamente suor do corpo,
estás presente,
memória de quem anda,
suor de quem partiu.
SONETO ULTIMO
DA REVELAÇÃO DERRADEIRA
eis que a tarde enfuna o lenço
gris de sua despedida.
quanto mais não me convenço
mais é noite - absorvida
hora a que já não pertenço.
pronto exsurge um corpo só
que embora pensa caminha
coberto do mesmo pó
que em si próprio remoinha
seja embora para o espanto,
daqueles cuja ferida
teimam tê-la recolhida
haja luz por sobre o manto
e ecloda em forma de canto.
OS POMBOS MORREM DE PÉ
Acaso não me tivessem chamado a atenção, eu jamais o teria notado. Era belo e se consumia na mais ampla serenidade.
De pé sobre o parapeito e suavemente encostado à parede da Academia Brasileira de Letras, o pombo da paz casava o frio de sua morte ao frio da tarde. Fria não somente por ser de julho, mas fria também e principalmente porque mais uma paz morrera nas ruas, como tantas outras que diariamente se esgotam pela indiferença dos homens.
Do baixo céu da tarde pendia um ar pesado trazendo a chuva fina que descia. Dessas frequentemente acontecidas durante o inverno no Rio, obrigando cada um a olhar para o chão e pensar nos seus problemas. 0 dia se abatia e machucava tudo - as árvores, as ruas, as pessoas. Era uma queda horizontal da tarde.
No parapeito - triste beiral sem vento - humilde como o chão, o pombo da paz era campo de aéreas gotas de chuva que mansamente Ihe pousavam nas penas sossegadas. E nos dava o exato motivo de pensar que ele lutara. De que aquela fora uma paz que suara para não deixar nunca de continuar se cumprindo.
De seus olhos imigrava um olhar gelado que perseguia o infinito e era puro como as alturas atingidas. Que alados caminhos espiavam agora os seus olhos de gelo? Teriam acaso outros telhados o seu tranquilo voejar, na intimidade serena das chaminés? Adejaria por quais lugares aquela paz, ali aos poucos se findando, de pé como uma estatua?
Os homens passavam embrulhados de espessa taciturnidade. Dirigiam-se todos de encontro à noite que os esperava quieta, escura sempre. Nos seus recessos talvez uma fuga ou alguma solução para os problemas da quotidiana angustia. A noite, os bares se enchem de nações que logo se desfazem quando os sonhos adormecem.
Morto, estranhamente em pé, continuava o pombo feito uma estátua da paz, que pela paz e sendo paz, em paz se consumia.
(A medida do azul. Manaus, Governo do Estado do Amazonas, 1982. Introdução de L. Ruas)
Ernesto Penafort nasceu em Manaus, Amazonas, em 27 de março de 1936 e faleceu na mesma cidade em 3 de junho de 1992. Fez seus estudos em Manaus, formando-se em advocacia pela Faculdade de Direito do Amazonas. Era jornalista, poeta, contista. Morou 11 anos no Rio de Janeiro e só não se formou em Ciências Sociais pela Universidade do Brasil porque se desentendeu com um professor faltando um ano para concluir o curso. Foi redator da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e da Folha de São Paulo. Voltando para Manaus, trabalhou na Fundação Cultural do Amazonas. Pertenceu ao Clube da Madrugada.
Enquanto a lua for calada e branca
Enquanto a lua for calada e branca
Rogel samuel
Os livros do poeta amazonense Ernesto Penafort (1936-1992) são hoje as maiores raridades bibliográficas. Nem em sebos se encontram. Ele escreveu Azul Geral (Madrugada, 1973), 1982 A Medida do Azul (Imprensa Oficial, 1982), Os Limites do Azul (Imprensa Oficial, 1985), Do Verbo Azul (Gov. do Estado do Amazonas, 1988). Penafort nasceu e morreu em Manaus.
Na década de 60, estudou Ciências Sociais na Universidade do Brasil, sem concluir
o curso, voltou para Manaus, fez Direito. Foi presidente do Clube da Madrugada e
era muito conhecido em sua época. Eu não o conheci pessoalmente ainda que devemos ter-nos encontrado na Universidade ou em Manaus. Mas sempre ouvi falar dele. Eu incentivei um meu orientando do curso de Mestrado em Teoria literária para fazer uma pesquisa sobre a poesia de Penafort, o que daria a monografia de sua dissertação final. Mas meu aluno abandonou o curso e nunca concluiu o trabalho.
Um dos seus poemas é este:
enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, este esquisito,
este invisível vulto, apenas visto
quando o vento, de leve açoita as folhas.
enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, apenas visto
quando um raio de sol morre na lágrima
que se despede de uma folha verde.
eu serei sempre assim, apenas sombra,
apenas visto quando a voz de um gesto
colhe no bosque alguma flor azul.
apenas visto quando em fundo azul
voar a garça (o meu adeus ao mundo?),
enquanto a lua for calada e branca.
(Azul geral)
sábado, 29 de novembro de 2008
O GRÊMIO
O GRÊMIO
Rogel Samuel
Outro dia, apareceu aqui a referência ao Grêmio Satírico Gregório de Matos. Éramos jovens, quase meninos. Durou um ano, Ira Esteves, Iran Fersil, Aflopes, Aury Silva Braga, eu, outros. Uma é hoje esposa de um ex-governador. Nunca mais a vi. Aflopes era mais velho e criava (acreditem) uma onça em casa. Tudo era possível, naquela época. Ele trouxe o filhote do interior do Amazonas. Criou. Amava o bicho. Depois, Aflopes sumiu, mudou-se para Belém e sumiu. Uma outra poetisa é tia de um atual senador do Amazonas. Nunca mais a vi. Nosso grêmio era famoso. Mantivemos uma polêmica contra outros poetas, pelos jornais. Contra Benjamin Sanches, autor de "Argila". Um bom poeta. Eu assinava "Calixto Diniz". Sanches escrevia, em resposta: "Cá li isto, que você escreveu". Bons tempos. Boas lembranças. Depois vim para o Rio de Janeiro. Ira foi para Los Ângeles. Separamo-nos. O Grêmio, entretanto, continua presente, no espaço real da poesia perene, lá.
Lá.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Obra prima em surdina
Obra prima em surdina
Rogel Samuel
Bilac atinge o mais alto grau de sua arte literária em "Surdina". Lembra Goethe e Pessoa, e o verso é perfeito, com acentos na 4 e 8 sílabas. Os sss do primeiro verso moram em silêncio: "No ar sossegado um sino canta". O silêncio e frio cantam a atmosfera.
A paisagem misteriosa. A paisagem é um estado de alma. Os amores mortos, fracassados,
nublados, vazios. A vida é estrada deserta. A espera da morte, o sonho erradio. O
coração de luto. O amor em surdina, escondido, proibido. A solidão resume-se em "ninguém", para aquele que caminha solitário. Mas o poeta ainda chora os amores dizimados, perdidos, nesta pálida Vênus, a deusa do panteão do Amor. Pálida ela aparece. E Bilac atinge o mais alto grau de sua arte.
Surdina
No ar sossegado um sino canta,
Um sino canta no ar sombrio...
Pálida, Vênus se levanta...
Que frio!
Um sino canta. O campanário
Longe, entre névoas, aparece...
Sino, que cantas solitário,
Que quer dizer a tua prece?
Que frio! embuçam-se as colinas;
Chora, correndo, a água do rio;
E o céu se cobre de neblinas.
Que frio!
Ninguém... A estrada, ampla e silente,
Sem caminhantes, adormece...
Sino, que cantas docemente,
Que quer dizer a tua prece?
Que medo pânico me aperta
O coração triste e vazio!
Que esperas mais, alma deserta?
Que frio!
Já tanto amei! já sofri tanto!
Olhos, por que inda estais molhados?
Por que é que choro, a ouvir-te o canto,
Sino que dobras a finados?
Trevas, caí! que o dia é morto!
Morre também, sonho erradio!
A morte é o último conforto...
Que frio!
Pobres amores, sem destino,
Soltos ao vento, e dizimados!
Inda vos choro... E, como um sino,
Meu coração dobra a finados.
E com que mágoa o sino canta,
No ar sossegado, no ar sombrio!
- Pálida, Vênus se levanta.
Que frio!
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Camisetas de Obama
Camisetas de Obama
Rogel Samuel
Acabo de ver num camelô do centro do Rio de Janeiro umas belas camisetas com o Presidente Barack Obama. Ele virou ídolo carioca! Na banca estava ao lado do Kaka e do Ronaldinho Gaucho.
Nunca vi isto - um Presidente Americano vira ídolo no Brasil.
Quanto ao mais, o capitalismo se protege. 88 bilhões para salvar os ricos bancos e empresas. Ninguém critica.
A bolsa sobe. E a África pobre, quem salvará? Quando se fala da bolsa família se critica.
É para pobre. Um dia até um eclesiástico disse que a bolsa família vicia. Oh, Deus,
comer também vicia.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
O IGARAPÉ DO INFERNO
SEGUNDO CAPÍTULO DE
O IGARAPÉ DO INFERNO
JÁ ESTÁ ONLINE EM
http://www.blocosonline.com.br/home/index.php
O MAIOR PORTAL DE LITERATURA DO PAÍS.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
O bom escritor
O bom escritor
Rogel Samuel
Recebo um email do escritor Paulo Lins. Autor do romance "Cidade de Deus". Ele é um
escritor excelente, seu texto lembra seu modelo - José Lins do Rego. Acho o livro bem
melhor do que o filme, me perdoem. E é uma obra de ficção, ou seja, inventada, literária, artística.
Paulo Lins foi meu aluno na Faculdade de Letras da UFRJ. Lembro-me bem dele, de sua
turma e do curso que dei, lemos com os novos escritores da época, João Gilberto Noll, Scliar, etc.
Paulo Lins é um escritor sofisticado, elegante. Levou dez anos para realizar o seu
grande romance, publicado em 1997 e hoje traduzido em vários idiomas.
Uma muito boa leitura.
sábado, 22 de novembro de 2008
O Buda é mente
O Buda é mente
Rogel Samuel
Dogen (1200 - 1253) escreveu um pequeno e enigmático poema que diz:
"A mente é em si mesma Buda" - difícil de praticar, mas fácil de explicar.
"Quando não há mente não há Buda (No mind, no Buda)" - difícil de explicar, mas fácil
de praticar.
(The Zen Poetry of Dogen: Verses from the Mountain of Eternal Peace, by Steven Heine).
Dogen é um dos poetas máximos do Zen.
Na realidade ele deve ter sido um mestre realizado.
Ora, o que ele quis dizer com "A mente é em si mesma Buda"?
Se o Buda é mente significa que a visão de samsara e nirvana se intercomunicam, ou
são a mesma coisa.
Samsara não é o inferno, o sofrimento mundano. Nem nirvana é o céu, o paraiso celestial.
Tudo depente de uma interpretação mental, ou melhor, do tipo de visão que assumimos.
O nosso mundo pode ser visto em sua verdadeira natureza, e aí está o nirvana.
Ou pode ser visto através das distorções de nossos fatores mentais do ódio, do desejo
e da obscuridade. E aí temos o samsara.
O mundo não é nem paraiso nem inferno.
Ele é o que nós mesmos fazemos dele.
Nós o construímos. Podemos construir o paraíso e o inferno.
Um dia, dois homens passeavam na orla do mar. O céu estava limpo e no horizonte se
descortinava o panorama do universo, amplo e luminoso.
Mas tinha havido uma prolongada greve dos coletores de lixo da cidade.
- Que lindo dia! - exclamou o primeiro homem.
- Quanta sujeira! - exclamou o segundo homem, sempre de cabeça baixa, olhando o lixo das
calçadas.
- Que magnífica paisqagem!
- Que fedor!
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Pão e vinho, 1
Pão e vinho, 1
Rogel Samuel
Traduzo, livremente, um poema de Holderlin. Traduzo do inglês, sem muito compromisso com o original. O texto lembra Eliot. Fala de uma cidade, o seu lixo, o seu barulho, os seus carros (ainda eram carruagens, iluminadas por tochas, o poeta viveu de 1770 a 1843), o fim do dia, os homens voltam para casa, pensam, avaliam o dia, sinos, um apito de guarda, a lua, a noite que vem, as estrelas, um poema moderno, envolvente, forte, vivo.
Sobre o lixo da cidade. As ruas iluminadas crescem
quietas, e carros passam, adornados com tochas.
Homens vão para casa descansar, cheio dos prazeres do dia;
Suas mentes estão ocupadas avaliam lucros e perdas
Em casa. O mercado ocupado vem descansar,
Desocupado agora das flores e uvas e artes.
Mas a música de cordas em jardins distantes:
Talvez os amantes brinquem ali, ou um homem solitário pensa
Sobre amigos distantes, e sobre sua própria juventude.
Fontes apressadas fluem entre canteiros de flores fragrantes,
Sinos tocam suaves no ar do crepúsculo, e um guarda
Chama fora de hora, atento ao tempo.
Agora uma brisa sobe e toca a crista do arvoredo—
Olha a lua que, como a sombra de nossa terra,
Também sobe pura! Fantástica noite vem,
Cheia de estrelas, desinteressada provavelmente de nós—
Espantosos brilhos da noite, um estranho entre os humanos,
Tristemente sobre os topos das montanhas, em esplendor.
(Poems of Friedrich Holderlin. Translations by James Mitchell)
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Dia da consciência negra: Cruz e Sousa
Dia da consciência negra: Cruz e Sousa
Rogel Samuel
No dia da consciência negra me debruço a ler o nosso poeta maior, nos sons desses violões. A sonoridade é perfeita, e se ouvem os violões em "velhos vórtices velozes dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas".
Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
Seus versos expõem os "oens", lamentos mornos, soluços murmurantes,
Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Soluços ao luar, choros ao vento…
Tristes perfis, os mais vagos contornos,
Bocas murmurejantes de lamento.
O poeta negro é sofisticadíssimo. Compete com os melhores seus iguais poetas simbolistas franceses. Sabia francês, latim, grego, matemática. Combateu a escravidão – era filho de escravos. Sofreu preconceito racial quando quis ser promotor. Trabalhou na Central do Brasil.
Seus quatro filhos morreram de tuberculose, e ele também. Ele é o poeta da angústia metafísica, das nuances. E nada mais Brasil do que esses violões.
Noites de além, remotas, que eu recordo,
Noites da solidão, noites remotas
Que nos azuis da Fantasia bordo,
Vou constelando de visões ignotas.
Sutis palpitações a luz da lua,
Anseio dos momentos mais saudosos,
Quando lá choram na deserta rua
As cordas vivas dos violões chorosos.
Quando os sons dos violões vão soluçando,
Quando os sons dos violões nas cordas gemem,
E vão dilacerando e deliciando,
Rasgando as almas que nas sombras tremem.
Harmonias que pungem, que laceram,
Dedos Nervosos e ágeis que percorrem
Cordas e um mundo de dolências geram,
Gemidos, prantos, que no espaço morrem
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
O POR DE SOL DE HOLDERLIN
O POR DE SOL DE HOLDERLIN
Rogel Samuel
Onde estás? A alma anoitece-me bêbeda
De tôdas as tuas delícias; um momento
Escutei o sol, amorável adolescente,
Tirar da lira celeste as notas de ouro do seu canto da noite.
Ecoavam ao redor os bosques e as colinas;
Êle no entanto já ia longe, levando a luz
A gentes mais devotas.
Que o honram ainda.
(Trad. Manuel Bandeira )
Não faz muito tempo que conheci você. Onde estará? Por que você não vence esta sua tendência à auto-destruição? Contra a minha vontade estou preso a este laço invisível que nos une.
Onde está?- pergunta o poeta. Suas lembranças me embebedam e envenenam. Mas o canto da noite já se ouve e o sol, já um pouco distante, o sol adolescente Apolo, já toca na sua lira as notas do seu noturno.
No ambiente ao redor, nas colinas e nas árvores, ainda ecoam os cânticos do sol, que agora já leva a luz e seus adoradores.
Ó Holderlin!
terça-feira, 18 de novembro de 2008
AS AMAZONAS DE BILAC
AS AMAZONAS DE BILAC
Rogel Samuel
Amaldiçoa o poeta estas atuais "eras sombrias de miséria moral" E diz que a Pátria deve esperar "a aurora". Será a Revolução? Pois "ela virá, com outras eras, outro sol, outra crença em outros dias!"
Grita o poeta que "Davi renascerá contra Golias, Alcides contra os pântanos e as feras" e a revolta dos corações "como crateras, e hão de em lavas mudar-se as cinzas frias".
Faz o poeta aquela reconstrução da subjetividade das "nobres ambições, força e bondade, justiça e paz" que "virão sobre estas zonas, da confusa fusão da ardente escória."
E de quem será a glória? De quem o exército da suprema vitória?
Delas, das Amazonas Virgens, na esplêndida cavalgada de glória daquelas mulheres da mitológica divindade.
AS AMAZONAS
Nem sempre durareis, eras sombrias
De miséria moral! A aurora esperas,
Ó Pátria! e ela virá, com outras eras,
Outro sol, outra crença em outros dias!
Davi renascerá contra Golias,
Alcides contra os pântanos e as feras:
Os corações serão como crateras,
E hão de em lavas mudar-se as cinzas frias.
As nobres ambições, força e bondade,
Justiça e paz virão sobre estas zonas,
Da confusa fusão da ardente escória.
E, na sua divina majestade,
Virgens, reviverão as Amazonas
Na cavalgada esplêndida da glória!
foi numa noite de agosto
foi numa noite de agosto
que apareceu a tal lua
os lábios naquela água
o corpo dado aos amantes
amantes não sabem nada
que há tempos não se via
a gargalhada menina
da lua de rica rima
poetas que não se fiem
poetas nada sabem
que é até mesmo uma pena
que esta caneta tão prima
não seja feita mais fina
como ponta de punhal
Não posso reter os teus traços
Não posso reter os teus traços
Nem as notas de teu tema
Pois tua música se esquece
Como as vozes do poema
Da paixão, que mais um traço
Foi do azul de minha pena,
E quando te vir já será garço
O repique da tua cena
e o afastado abraço...
(oriunda onda a que cerca de aço
me levarão tuas algemas?)
Marcadores:
Não posso reter os teus traços
veludoso coro
Veludoso coro
Desta ameixeira
Quando pomos d’ouro
Cobrem a cumeeira
Sobre todos nós
Sua eletricidade
Melodioso foro
De felicidade.
sete dias serão
Sete dias serão, Manaus, ó sete amadas,
Por que se integre à terra este cantor.
Ó monstruosas noites desamparadas
De mim se aparte a porta dessa dor.
O espelho dágua ostenta a aranha alada
Que me arrasta o interno aeroplano,
Tresloucada vespa, cristalizada
Inoculando o inferno do engano.
Mas chega de canção, Amor, que neste canto
As finas rimas dessa ladainha
Escondem teus morenos ombros de arpejos.
Ó franca zona! Do Teatro o manto!
Por sete dias tua canção é minha
Na invenção literária dos teus beijos.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Vozes que ouvi no passado
Vozes que ouvi no passado
Rogel Samuel
Vozes que ouvi no passado
falando-me desse tema
repassam-me tais coisas
desse teor e lema
o perdido no passado
sem pátria nem destino
sem o breve e o lento
momentâneo acontecer...
passantes falantes viventes
foram essas vozes passadas
o refazer da imagem:
de onde vens e para quê?
e por que levantar o depósito
do que mantido deveria ser
por que ouvir de novo, porquê?
Cuidado, oh cuidado!
De que maldito arquivo
tais falas me fazem ser?
Por que não me deixas no alívio
daquelas cenas esquecidas
para que servem essas vistas
e aquelas tristes visitas
as sedas que vestem o corpo
morto, e as ressecadas toalhas
os castiçais tão deveras
os mortos rostos rever
oh vozes que ouvi no passado
que me entristecem apenas
com esmaecidas cenas
relâmpagos do que já foi
isso não tem mais valor
que não seja fazer crer
de que tudo valeu a pena
mas meu Deus tanta gente
por essa cena passou
tanta gente morreu
quanta, quantos mortos quantos
no esquecido cimento
da pele fria, mas quantos
de repente me vejo os mortos
em seu pálido desfilar
e os que ainda vivos
que pressinto seu passar
oh vozes, oh visões da verdade
que desse presente passado
não me deixam esquivar
que tamanha crueldade
fazem comigo então
não me deixando esquecer
que de tortura aparecem
falando-me internamente
repassando tais cenas
de que estou afastado
SOBRE O TEATRO AMAZONAS
SOBRE O TEATRO AMAZONAS
No seu Blog, Leila Miccolis escreveu:
"TEATRO AMAZONAS", de Rogel Samuel, em Blocos Online.
Há quem prefira elogiar diretamente para mim um autor em vez de dirigir-se para ele próprio, o que é uma pena, porque esse retorno é muito importante para quem escreve, ainda mais uma obra inédita do fôlego de Teatro Amazonas, inédito publicado originariamente em Blocos, em 22 capítulos. A obra mereceu logo de início reportagem no jornal "Amazonas em Tempo" que, com grande tino, percebeu desde o início a importância da obra: afinal são raros os romances históricos sobre temas brasileiros, e a visão de Rogel Samuel é primorosa: falar da construção de uma arquitetura que abalou os alicerces de uma nação político-social-economicamente. Para os que aplaudiram, mesmo sem escrever ao autor, uma ótima novidade: na próxima coluna, do dia 10 de novembro, o autor começa outra novela sobre o tema amazonense. Porém antes que isso aconteça, não resisto a registrar um comentário que circulou na lista pessoal do autor, escrito por outra colunista de Blocos, Clarisse de Oliveira — figura também com um passado histórico, filha de Clarice Índio do Brasil —, que em sua infância possuía aquarelas do artista plástico De Angelis, responsável pela pintura interior do Teatro Amazonas. Escreve Clarisse de Oliveira: “Hoje, li o último capítulo da história do Teatro Amazonas, em Manaus. Fascinante e retém nossa atenção o tempo todo, pois, Rogel Samuel, intercala a narração com a descrição das personagens, sempre focalizando sua mixagem racial dos primeiros séculos de Vida do Brasil. Afora a mixagem racial, os atritos livres das personalidades em seu desempenho na política do Estado de Manaus, surgindo da periferia da Mata Amazônica e se baseando nos reflexos que chegavam no Brasil, da Europa, principalmente de Paris, onde até a roupa mais fina era enviada para ser lavada lá. A pintura ornamental de teto e paredes, de que herdei umas quatro aquarelas, me levavam a imaginar a beleza barroca da moldura do palco do Teatro. Na minha infância, a mãe de meu padrinho Gaspare Cornazzani, que se chamava "Altiniana", mulher belíssima, que muitos diziam: "É um cromo", eu ouvia falar sempre. Ela chamava a atenção no Teatro Amazonas, em seu camarote, exibindo beleza física e luxo em vestimenta e jóias. Assim, na embocadura de uma selva tropical, uma construção meio Paris e barroco italiano, tem agora um livro com a história de sua construção narrada de maneira fascinante pelo escritor Rogel Samuel, natural de Manaus". Depois de ler este texto pensei no velho chavão: "como o mundo é pequeno". Ou, em roupagem mais atual, como o universo é sincrônico...
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
SOBRE O IGARAPÉ DO INFERNO
SOBRE O IGARAPÉ DO INFERNO
Do escritor Dílson Lages Monteiro recebi, nesta terça-feira, 11 de novembro de 2008, a seguinte mensagem acerca do primeiro capítulo do nosso romance "O igarapé do Inferno":
"Amigo Rogel, acabo de ler - ler, reler e reler - o primeiro capítulo de O igarapé do inferno.
Envolvente, sobretudo pela vitalidade do narrador e pelas rupturas causadas no plano sintático, que dão um tom especial ao texto - uma cadência muito particular que prende e motiva à linha seguinte. Aguardarei os próximos. Bom romance!".
Como disse a escritora Sonia Sales, nós, escritores, vivemos dessas coisas, dessas palavras. Nada esperamos do nosso trabalho, senão ouvir de um bom leitor/a uma opinião
como essa, sincera, espontânea, vinda da emoção.
O livro está sendo publicado em
http://www.blocosonline.com.br/home/index.phponde ainda se encontra na primeira página.
Do escritor Dílson Lages Monteiro recebi, nesta terça-feira, 11 de novembro de 2008, a seguinte mensagem acerca do primeiro capítulo do nosso romance "O igarapé do Inferno":
"Amigo Rogel, acabo de ler - ler, reler e reler - o primeiro capítulo de O igarapé do inferno.
Envolvente, sobretudo pela vitalidade do narrador e pelas rupturas causadas no plano sintático, que dão um tom especial ao texto - uma cadência muito particular que prende e motiva à linha seguinte. Aguardarei os próximos. Bom romance!".
Como disse a escritora Sonia Sales, nós, escritores, vivemos dessas coisas, dessas palavras. Nada esperamos do nosso trabalho, senão ouvir de um bom leitor/a uma opinião
como essa, sincera, espontânea, vinda da emoção.
O livro está sendo publicado em
http://www.blocosonline.com.br/home/index.phponde ainda se encontra na primeira página.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Euryalo Cannabrava
NATUREZA E HISTÓRIA
Euryalo Cannabrava
O Sr. Sérgio Buarque de Holanda, crítico literário forrado de cultura filosófica, em uma de suas crônicas publicadas no Diário Carioca fez alguns comentários sobre duas comunicações que tive a honra de apresentar ao Congresso Brasileiro de Filosofia. As observações do excelente critico paulista ferem em cheio alguns pontos fundamentais que se relacionam com as deficiências e irremediáveis desvios da atividade especulativa entre nós.
É inegável que os trabalhos reunidos agora nos “Anais” do referido Congresso estão longe de confirmar a existência, no Brasil, de vocações filosóficas de primeira ordem. A maioria das comunicações se caracteriza por singular abstinência em matéria de idéias: os congressistas em geral preferiram debater as questões históricas da filosofia a enfrentar corajosamente os seus problemas. Diversos trabalhos não apresentam qualquer vestígio de originalidade, limitando-se os seus autores a catalogar citações sobre os assuntos mais variados, sem preocupação alguma de coerência e unidade no curso da exposição.
Nada mais lamentável do que essa incapacidade, tão generalizada entre nós, de distinguir o que é simples memorização erudita daquilo que revela penetração crítica e capacidade de análise. Há, sem dúvida, certa resistência ao esforço crítico, que se manifesta através da adesão incondicional aos sistemas especulativos e da recusa obstinada em rever os fundamentos de nossas convicções mais profundas.
Discutindo, há alguns anos, com um amigo que se mostrava exageradamente receptivo aos ensinamentos da filosofia cristã, tive oportunidade de lhe fazer várias perguntas indiscretas. Entre elas, lembro-me de algumas que o irritaram bastante: “Se você acredita que Jacques Maritain é um gênio, qual o adjetivo que reservará para São Tomás, em cuja obra o escritor francês foi buscar todas as suas idéias? E se você teima em proclamar que São Tomás é um supergênio, que qualificativo aplicará a Aristóteles, inspirador de pelo menos dois terços da filosofia tomista?”
É claro que essas perguntas ficaram até agora sem resposta. Tudo isso indica, entretanto, que o entusiasmo fácil por idéias alheias nem sempre é acompanhado pela tentativa de examinar criticamente as verdadeiras razões de nossa admiração. E se alguém nos força a apresentar evidências, que justifiquem a aceitação de certos sistemas ou credos filosóficos, torna-se difícil dissimular a gratuidade de nossa adesão.
Foi assim que se difundiu, nos últimos tempos, entre os círculos filosóficos da América Latina, fascinados pelo sortilégio do pensamento germânico, a ingênua convicção de que existem fundamentos sérios para a distinção entre as ciências naturais e as ciências histórico-culturais. Os adeptos (quase sempre sectários e intransigentes) dessa famosa dicotomia do grupo das ciências julgam-se inteiramente dispensados de qualquer espécie de justificação. Eles acreditam que a bifurcação das disciplinas em naturais e histórico-culturais deve ser aceita sem maior exame.
O prestígio do nome de Wilhelm Dilthey contribuiu muito para a generalização, na América Latina, da absurda convicção de que existe incompatibilidade, ou diferença profunda, entre o conhecimento da natureza e o conhecimento da história. O filósofo Ortega y Gasset encarregou-se da tarefa de cavar um abismo entre a realidade histórica e a realidade natural. Foi ele quem afirmou dogmaticamente que o homem não é natureza e sim história.
Nenhum desses pensadores, porém, jamais se lembrou de demonstrar que a classificação bipartida das ciências encontra apoio em critérios racionais e lógicos. A disciplina competente para estabelecer normas de classificação é a lógica formal. Pergunta-se, portanto, se Dilthey, ou Ortega y Gasset, seu discípulo moderno, demonstrou com o necessário rigor que as ciências históricos-sociais satisfazem os requisitos lógicos de objetividade, consistência e ordenação sistemática das disciplinas denominadas positivas.
O filósofo alemão Dilthey nunca se preocupou em provar que existe uma ciência histórica, por exemplo, completamente distinta das ciências naturais: para isso seria indispensável que ele se referisse explicitamente aos característicos e propriedades lógico-formais que distinguem o conhecimento histórico do conhecimento natural. Cabia-lhe, ainda, a tarefa complementar de justificação da lei histórica, mencionando as razões ponderáveis que o levaram a atribuir a esta última o mesmo status lógico da lei natural. A lei natural se verifica, quando se torna possível estabelecer relações quantitativas de proporcionalidade constante entre duas ou mais variáveis. O mesmo por acaso se poderá dizer das supostas leis históricas?
O recurso à filosofia dos valores e critérios puramente especulativos jamais poderá suprir a ausência de princípios lógicos, que estabeleçam normas para a classificação bipartida das ciências. Mas a lógica formal não somente separa e divide as disciplinas, como também estatui regras para a redução de uma ciência a outra ciência.
Essa redução, como observa Ernest Nagel em artigo recente (1), se verifica somente quando os termos que ocorrem nos enunciados da disciplina secundária (biologia por exemplo) podem ser explicitamente definidos com o auxílio do vocabulário especifico das disciplinas primárias (física e química). Essa seria a técnica a se aplicar ao domínio das ciências histórico-sociais (disciplinas secundárias) com o objetivo de reduzi-las ao grupo previamente formalizado das ciências naturais (disciplinas primárias).
O sr. Buarque de Holanda manifesta a esse propósito sérias dúvidas de que tal tarefa possa ser levada a cabo no domínio das ciências históricas. As suas observações se aplicam mais rigorosamente às tentativas ingênuas de matematização da história, psicologia ou sociologia. O crítico paulista discute esse problema animado de um sadio pessimismo, pois é evidente que nada indica, ainda remotamente, qualquer possibilidade de se executar esse ambicioso projeto.
Seria ingênuo, por outro lado, acreditar que a redução da história à economia, ou a outras ciências, possa verificar-se nas mesmas condições em que amplos capítulos da química foram reduzidos à estrutura da física, mediante a tradução dos termos daquela disciplina na linguagem da teoria atômica. Ora, tanto a formalização da história, como a sua equiparação a outra disciplina básica seriam, diante dos recursos atuais da lógica formal, comparáveis ao trabalho de unificação das artes ou de sua transformação em um único modelo...
Pois é precisamente a história - fator comum a todas às disciplinas - que permanecerá provavelmente irredutível a qualquer tentativa de matematização. O domínio histórico é o campo em que se movimentam as forças irracionais, os interêsses e as tendências afetivas, os valores misteriosos de variáveis desconhecidas e para-metros ocultos. Nesse setor parece sempre pouco fecunda a técnica que consiste em formular postulados básicos e deduzir dessas proposições primitivas uma série de conseqüências relevantes.
O que parece mais provável é que a formalização da economia e sociologia se reflita indiretamente na esfera do conhecimento histórico. O trabalho de Lazarsfeld e Lundberg em sociologia indica diretrizes que poderão orientar os futuros pesquisadores. A extensão do método científico à história obedecerá, portanto, a princípios estratégicos diferentes daqueles que se fizeram valer no domínio dos fatos naturais.
A história dificilmente adquirirá o “status” lógico-formal de uma disciplina positiva, mediante recurso direto às leis de derivabilidade sintáxica e aos processos modernos de matematização. É possível, porém, que o progresso de outras ciências, muito próximas da história, no sentido de utilização crescente da técnica de formalização, contribua para eliminar parcialmente os efeitos desastrosos do diletantismo literário e filosófico sobre uma disciplina que não se caracteriza pelo rigor sistemático de suas construções.
(1) Mechanistic Explanation and Organismic Biology - Philosophy and Phenomenological Research -- March, 1951.
[texto de Ensaios filosóficos. INL, Rio de Janeiro, 1957.]
Euryalo Cannabrava
O Sr. Sérgio Buarque de Holanda, crítico literário forrado de cultura filosófica, em uma de suas crônicas publicadas no Diário Carioca fez alguns comentários sobre duas comunicações que tive a honra de apresentar ao Congresso Brasileiro de Filosofia. As observações do excelente critico paulista ferem em cheio alguns pontos fundamentais que se relacionam com as deficiências e irremediáveis desvios da atividade especulativa entre nós.
É inegável que os trabalhos reunidos agora nos “Anais” do referido Congresso estão longe de confirmar a existência, no Brasil, de vocações filosóficas de primeira ordem. A maioria das comunicações se caracteriza por singular abstinência em matéria de idéias: os congressistas em geral preferiram debater as questões históricas da filosofia a enfrentar corajosamente os seus problemas. Diversos trabalhos não apresentam qualquer vestígio de originalidade, limitando-se os seus autores a catalogar citações sobre os assuntos mais variados, sem preocupação alguma de coerência e unidade no curso da exposição.
Nada mais lamentável do que essa incapacidade, tão generalizada entre nós, de distinguir o que é simples memorização erudita daquilo que revela penetração crítica e capacidade de análise. Há, sem dúvida, certa resistência ao esforço crítico, que se manifesta através da adesão incondicional aos sistemas especulativos e da recusa obstinada em rever os fundamentos de nossas convicções mais profundas.
Discutindo, há alguns anos, com um amigo que se mostrava exageradamente receptivo aos ensinamentos da filosofia cristã, tive oportunidade de lhe fazer várias perguntas indiscretas. Entre elas, lembro-me de algumas que o irritaram bastante: “Se você acredita que Jacques Maritain é um gênio, qual o adjetivo que reservará para São Tomás, em cuja obra o escritor francês foi buscar todas as suas idéias? E se você teima em proclamar que São Tomás é um supergênio, que qualificativo aplicará a Aristóteles, inspirador de pelo menos dois terços da filosofia tomista?”
É claro que essas perguntas ficaram até agora sem resposta. Tudo isso indica, entretanto, que o entusiasmo fácil por idéias alheias nem sempre é acompanhado pela tentativa de examinar criticamente as verdadeiras razões de nossa admiração. E se alguém nos força a apresentar evidências, que justifiquem a aceitação de certos sistemas ou credos filosóficos, torna-se difícil dissimular a gratuidade de nossa adesão.
Foi assim que se difundiu, nos últimos tempos, entre os círculos filosóficos da América Latina, fascinados pelo sortilégio do pensamento germânico, a ingênua convicção de que existem fundamentos sérios para a distinção entre as ciências naturais e as ciências histórico-culturais. Os adeptos (quase sempre sectários e intransigentes) dessa famosa dicotomia do grupo das ciências julgam-se inteiramente dispensados de qualquer espécie de justificação. Eles acreditam que a bifurcação das disciplinas em naturais e histórico-culturais deve ser aceita sem maior exame.
O prestígio do nome de Wilhelm Dilthey contribuiu muito para a generalização, na América Latina, da absurda convicção de que existe incompatibilidade, ou diferença profunda, entre o conhecimento da natureza e o conhecimento da história. O filósofo Ortega y Gasset encarregou-se da tarefa de cavar um abismo entre a realidade histórica e a realidade natural. Foi ele quem afirmou dogmaticamente que o homem não é natureza e sim história.
Nenhum desses pensadores, porém, jamais se lembrou de demonstrar que a classificação bipartida das ciências encontra apoio em critérios racionais e lógicos. A disciplina competente para estabelecer normas de classificação é a lógica formal. Pergunta-se, portanto, se Dilthey, ou Ortega y Gasset, seu discípulo moderno, demonstrou com o necessário rigor que as ciências históricos-sociais satisfazem os requisitos lógicos de objetividade, consistência e ordenação sistemática das disciplinas denominadas positivas.
O filósofo alemão Dilthey nunca se preocupou em provar que existe uma ciência histórica, por exemplo, completamente distinta das ciências naturais: para isso seria indispensável que ele se referisse explicitamente aos característicos e propriedades lógico-formais que distinguem o conhecimento histórico do conhecimento natural. Cabia-lhe, ainda, a tarefa complementar de justificação da lei histórica, mencionando as razões ponderáveis que o levaram a atribuir a esta última o mesmo status lógico da lei natural. A lei natural se verifica, quando se torna possível estabelecer relações quantitativas de proporcionalidade constante entre duas ou mais variáveis. O mesmo por acaso se poderá dizer das supostas leis históricas?
O recurso à filosofia dos valores e critérios puramente especulativos jamais poderá suprir a ausência de princípios lógicos, que estabeleçam normas para a classificação bipartida das ciências. Mas a lógica formal não somente separa e divide as disciplinas, como também estatui regras para a redução de uma ciência a outra ciência.
Essa redução, como observa Ernest Nagel em artigo recente (1), se verifica somente quando os termos que ocorrem nos enunciados da disciplina secundária (biologia por exemplo) podem ser explicitamente definidos com o auxílio do vocabulário especifico das disciplinas primárias (física e química). Essa seria a técnica a se aplicar ao domínio das ciências histórico-sociais (disciplinas secundárias) com o objetivo de reduzi-las ao grupo previamente formalizado das ciências naturais (disciplinas primárias).
O sr. Buarque de Holanda manifesta a esse propósito sérias dúvidas de que tal tarefa possa ser levada a cabo no domínio das ciências históricas. As suas observações se aplicam mais rigorosamente às tentativas ingênuas de matematização da história, psicologia ou sociologia. O crítico paulista discute esse problema animado de um sadio pessimismo, pois é evidente que nada indica, ainda remotamente, qualquer possibilidade de se executar esse ambicioso projeto.
Seria ingênuo, por outro lado, acreditar que a redução da história à economia, ou a outras ciências, possa verificar-se nas mesmas condições em que amplos capítulos da química foram reduzidos à estrutura da física, mediante a tradução dos termos daquela disciplina na linguagem da teoria atômica. Ora, tanto a formalização da história, como a sua equiparação a outra disciplina básica seriam, diante dos recursos atuais da lógica formal, comparáveis ao trabalho de unificação das artes ou de sua transformação em um único modelo...
Pois é precisamente a história - fator comum a todas às disciplinas - que permanecerá provavelmente irredutível a qualquer tentativa de matematização. O domínio histórico é o campo em que se movimentam as forças irracionais, os interêsses e as tendências afetivas, os valores misteriosos de variáveis desconhecidas e para-metros ocultos. Nesse setor parece sempre pouco fecunda a técnica que consiste em formular postulados básicos e deduzir dessas proposições primitivas uma série de conseqüências relevantes.
O que parece mais provável é que a formalização da economia e sociologia se reflita indiretamente na esfera do conhecimento histórico. O trabalho de Lazarsfeld e Lundberg em sociologia indica diretrizes que poderão orientar os futuros pesquisadores. A extensão do método científico à história obedecerá, portanto, a princípios estratégicos diferentes daqueles que se fizeram valer no domínio dos fatos naturais.
A história dificilmente adquirirá o “status” lógico-formal de uma disciplina positiva, mediante recurso direto às leis de derivabilidade sintáxica e aos processos modernos de matematização. É possível, porém, que o progresso de outras ciências, muito próximas da história, no sentido de utilização crescente da técnica de formalização, contribua para eliminar parcialmente os efeitos desastrosos do diletantismo literário e filosófico sobre uma disciplina que não se caracteriza pelo rigor sistemático de suas construções.
(1) Mechanistic Explanation and Organismic Biology - Philosophy and Phenomenological Research -- March, 1951.
[texto de Ensaios filosóficos. INL, Rio de Janeiro, 1957.]
A marinha bilaquiana
A marinha bilaquiana
Rogel Samuel
O princípio das coisas oscila sobre o mar, sobre as ondas do mar. Docemente sopra o vento e geme – mas o gemido é de gozo. A cena é erótica e aumenta com o enfunar, o encher, o inflar, o inchar das velas, como de falos. Traços de luzes passam, tremeluzem, brilhos. No céu pára um luar, ou melhor, o céu prepara um luar. E “Tu, palpitante e bela, Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!”. No poema tudo se faz em Eros, sobre a feminidade das águas. A cena é retomada com o oscilar do batel, no ritmo da cópula do gozo.
Marinha
Sobre as ondas oscila o batel docemente...
Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.
Na água mansa do mar passam tremulamente
Áureos traços de luz, brilhando esparsos nela.
Lá desponta o luar. Tu, palpitante e bela,
Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!
Sobre as ondas oscila o batei docemente...
Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.
Vagas azuis, parai! Curvo céu transparente,
Nuvens de prata, ouvi! - Ouça na altura a estrela,
Ouça de baixo o oceano, ouça o luar albente:
Ela canta! - e, embalado ao som do canto dela,
Sobre as ondas oscila o batel docemente.
Rogel Samuel
O princípio das coisas oscila sobre o mar, sobre as ondas do mar. Docemente sopra o vento e geme – mas o gemido é de gozo. A cena é erótica e aumenta com o enfunar, o encher, o inflar, o inchar das velas, como de falos. Traços de luzes passam, tremeluzem, brilhos. No céu pára um luar, ou melhor, o céu prepara um luar. E “Tu, palpitante e bela, Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!”. No poema tudo se faz em Eros, sobre a feminidade das águas. A cena é retomada com o oscilar do batel, no ritmo da cópula do gozo.
Marinha
Sobre as ondas oscila o batel docemente...
Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.
Na água mansa do mar passam tremulamente
Áureos traços de luz, brilhando esparsos nela.
Lá desponta o luar. Tu, palpitante e bela,
Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!
Sobre as ondas oscila o batei docemente...
Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.
Vagas azuis, parai! Curvo céu transparente,
Nuvens de prata, ouvi! - Ouça na altura a estrela,
Ouça de baixo o oceano, ouça o luar albente:
Ela canta! - e, embalado ao som do canto dela,
Sobre as ondas oscila o batel docemente.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
domingo, 9 de novembro de 2008
O IGARAPÉ DO INFERNO
LEIA HOJE
O IGARAPÉ DO INFERNO
de Rogel Samuelem
BLOCOS ONLINE
HOJE DIA 10 DE NOVEMBRO EM BLOCOS ONLINE!
(Desenho da artista plástica Ira Esteves, 1984, hoje residente em Los Angeles)
O ciclo de Bilac
Rogel Samuel
De manhã o sangue a promessa, o assomo, o sonho, a juventude, a força. Depois a flor e o noivado, perfume, árvore, cântico amor. De tarde o esplendor da glória e do triunfo, o pensar maduro. A noite de saudade, as lágrimas, as folhas, o passado, o dormir. A vida toda perpassa no poema de Bilac, com a elegância e sonoridade do príncipe dos poetas do Brasil.
Ciclo
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!
Dia. A flor, - o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A arvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!
Noite. Oh! saudade!... A dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!
De manhã o sangue a promessa, o assomo, o sonho, a juventude, a força. Depois a flor e o noivado, perfume, árvore, cântico amor. De tarde o esplendor da glória e do triunfo, o pensar maduro. A noite de saudade, as lágrimas, as folhas, o passado, o dormir. A vida toda perpassa no poema de Bilac, com a elegância e sonoridade do príncipe dos poetas do Brasil.
Ciclo
Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!
Dia. A flor, - o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A arvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!
Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!
Noite. Oh! saudade!... A dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!
sábado, 8 de novembro de 2008
A EMOÇÃO DEMOCRÁTICA
A EMOÇÃO DEMOCRÁTICA
Eis o email na íntegra sem retoques que minha amiga Ira Esteves enviou no dia seguinte da eleição de Obama:
"Oi querido,que bonito o que voce escreveu sobre o meu voluntariado pro Obama,realmente a gente doava o que podia,se nao era dinheiro,era a nossa conta de celular,o nosso tempo e o nosso amor a causa.Mas deu certo.Ligando pros estados que eram republicanos de carteirinha ha decadas,os voluntarios e o proprio Obama,com seus discursos,conseguiram mudar o curso da historia.Escrevi varias paginas,no embalo da emocao,com todos os dados que recolhi durante esse trabalho,coisas que eu nao sabia e aprendi e que sei que muito brasileiro nao sabe,e dei a Obama uma alcunha,um titulo que para mim resume seu papel durante esses 21 meses de campanha mas que ele o sera daqui pra frente e para sempre: Obama, o unificador.Num pais dividido.alias sempre o foi,porque racismo aqui eh visceral,eh cultural,infundido a ferro e fogo, ele conseguiu unir os desafetos ancestrais e mais recentes,culturas que se odeiam dentro do mesmo espaco ,asiaticos,hispanos,negros,brancos lado a lado,gritando Obama! Obama! e rindo uns pros outros e se ajudando e trocando ideias echorando e dancando.Eu vi.Eu chorei e ri junto e na hora em que acabamos nosso trabalho,nos despedimos com a consciencia de um dever cumprido mas certos de uma vitoria que viria fatalmente,e eu disse pra moca bonita cheia de cachinhos ruivos: until the victory! e ela gritou: Yes,we can! e vim pra casa com aquela mesma alegria e aquele mesmo sentimento de plenitude e felicidade que senti durante todas as campanhas do Lula,que era operario,nao era negro,mas no nosso pais um presidente operario era impensavel,tipo racismo,segregado a um limbo onde permaneciam os nao pertencentes,os fora da lei,os pobres e desvalidos do meu pais.Mas Lula teve a audacia da esperanca,que eh o que se diz aqui de Obama,escreveram ate um livro sobre ele com esse titulo,e venceu apos tantas derrotas e ate se diz,roubo.Mas Obama levou de roldao tudo o que a direita feroz e reacionaria dizia dele.esmagou como um rolo compressor os ataques que o diziam socialista,amigo de ativistas do oriente Medio,mulcumano,gay,sem experiencia nenhuma,nada impediu sua vitoria avassaladora.Yes,we can! eu escrevi em portugues no painel onde os voluntarios deixavam suas emocoes: Sim,podemos! e assinei,Ira Esteves,from Brazil e puz a data,circulando tudo com um coracao.Ivan,o terrivel,encontrou tipo agrupamentos como tribos,dentro da sua Russia,todos se odiando ferozmente,matando-se diariamente,brigando sem uma causa realmente seria ou justa.E virou a mesa.E unificou seu povo,que se transformou numa das maiores nacoes do mundo.Mas o fez a ferro e fogo.Obama unificara com seu carisma e sua brilhante inteligencia,mas pricipalmente por amor a sua terra,ao seu povo e com o respeito que um autentico lider tem nao so pelos que o apoiaram,mas por todos,mesmo por aquelesque o rejeitaram,pois ele tem a consciencia de que ele sera o presidente de todos e o responsavel pela mudanca desta nacao.Eh o inicio de uma Nova Ordem.Yes,we can! Beijo da amiga irma Baby.Ah, e nao dei 90 telefonemas,dei 240.Me manda de volta esse email,eu quero te-lo,porque escrevi emocionada."
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Bilac patriótico
Bilac patriótico
Rogel Samuel
Bilac era um conhecido patriota, fazia conferências, incentivava o serviço militar
obrigatório, escreveu o Hino à bandeira do Brasil e era o Patrono do Serviço Militar,
o divulgador do Tiro de Guerra, escreveu obras como “Através do Brasil”,
sobre o Brasil.
Mas principalmente era um poeta forte, circulando no cerne do país, latejando nele
no seu lenho, como perfume, e sombra, e sol, e orvalho, e seiva, e voz possante.
Amazônico, fala dos liquens, cipós, frondes, ninhos, frutos.
O poema, apesar de tudo, é erótico, um tanto feminino, "em teu seio se esconde,
rebento em luz e em cânticos me espalho!"
Leiamos:
Pátria
Pátria, latejo em ti, no teu lenho, por onde
Circulo! e sou perfume, e sombra, e sol, e orvalho!
E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde,
E subo do teu cerne ao céu de galho em galho!
Dos teus liquens, dos teus cipós, da tua fronde,
Do ninho que gorjeia em teu doce agasalho,
Do fruto a amadurar que em teu seio se esconde,
De ti, - rebento em luz e em cânticos me espalho!
Vivo, choro em teu pranto; e, em teus dias felizes,
No alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto!
E eu, morto, - sendo tu cheia de cicatrizes,
Tu golpeada e insultada, - eu tremerei sepulto:
E os meus ossos no chão, como as tuas raízes,
Se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto!
Rogel Samuel
Bilac era um conhecido patriota, fazia conferências, incentivava o serviço militar
obrigatório, escreveu o Hino à bandeira do Brasil e era o Patrono do Serviço Militar,
o divulgador do Tiro de Guerra, escreveu obras como “Através do Brasil”,
sobre o Brasil.
Mas principalmente era um poeta forte, circulando no cerne do país, latejando nele
no seu lenho, como perfume, e sombra, e sol, e orvalho, e seiva, e voz possante.
Amazônico, fala dos liquens, cipós, frondes, ninhos, frutos.
O poema, apesar de tudo, é erótico, um tanto feminino, "em teu seio se esconde,
rebento em luz e em cânticos me espalho!"
Leiamos:
Pátria
Pátria, latejo em ti, no teu lenho, por onde
Circulo! e sou perfume, e sombra, e sol, e orvalho!
E, em seiva, ao teu clamor a minha voz responde,
E subo do teu cerne ao céu de galho em galho!
Dos teus liquens, dos teus cipós, da tua fronde,
Do ninho que gorjeia em teu doce agasalho,
Do fruto a amadurar que em teu seio se esconde,
De ti, - rebento em luz e em cânticos me espalho!
Vivo, choro em teu pranto; e, em teus dias felizes,
No alto, como uma flor, em ti, pompeio e exulto!
E eu, morto, - sendo tu cheia de cicatrizes,
Tu golpeada e insultada, - eu tremerei sepulto:
E os meus ossos no chão, como as tuas raízes,
Se estorcerão de dor, sofrendo o golpe e o insulto!
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Morre Ima Sumac
Morre Ima Sumac
Rogel Samuel
Uma das maiores cantoras de todos os tempos, morre aos 86 anos Ima Sumac (Setembro 13, 1922 – Novembro 1, 2008).
O público jovem brasileiro talvez nem se lembre ou não a conheça. Pois bem:
Ela lançou e cantou o "Babalu" que a nossa Angela Maria gravou no Brasil.
Seus discos mais famosos foram "Mambo" de 1954 e "A lenda da virgem do sol".
Atualmente é muito difícil ouvi-la. Mas tenho a maioria de seus discos conseguidos
das mais estranhas maneiras, inclusive pela Internet.
Mas hoje o ouvinte atento não precisa sofrer como eu sofri para conseguir seus
discos, pois o Youtube está cheio de belos vídeos.
Ela conservou sua beleza até aos 80 anos.
Ela usou de todos os recursos de sua voz que tinhas várias tonalidades e grande
extensão.
Podemos começar ouvindo Babalu em:
http://www.youtube.com/watch?v=hBKvrgOi9Dg
Depois ouça:
http://www.youtube.com/watch?v=9YO9DpEDh3E&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=fbuqH_Gkgq0
Rogel Samuel
Uma das maiores cantoras de todos os tempos, morre aos 86 anos Ima Sumac (Setembro 13, 1922 – Novembro 1, 2008).
O público jovem brasileiro talvez nem se lembre ou não a conheça. Pois bem:
Ela lançou e cantou o "Babalu" que a nossa Angela Maria gravou no Brasil.
Seus discos mais famosos foram "Mambo" de 1954 e "A lenda da virgem do sol".
Atualmente é muito difícil ouvi-la. Mas tenho a maioria de seus discos conseguidos
das mais estranhas maneiras, inclusive pela Internet.
Mas hoje o ouvinte atento não precisa sofrer como eu sofri para conseguir seus
discos, pois o Youtube está cheio de belos vídeos.
Ela conservou sua beleza até aos 80 anos.
Ela usou de todos os recursos de sua voz que tinhas várias tonalidades e grande
extensão.
Podemos começar ouvindo Babalu em:
http://www.youtube.com/watch?v=hBKvrgOi9Dg
Depois ouça:
http://www.youtube.com/watch?v=9YO9DpEDh3E&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=fbuqH_Gkgq0
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Vem aí
O IGARAPÉ DO INFERNO
de Rogel Samuel
em
BLOCOS ONLINE
AGORA DIA 10 DE NOVEMBRO EM BLOCOS ONLINE!
(Desenho da artista plástica Ira Esteves, 1984, hoje residente em Los Angeles)
ATRAVESSAR FLORESTAS
Rogel Samuel
Diz Baudelaire que a natureza faz o homem através de vivos pilares das árvores e é lá que
ouvimos aquelas vozes da unidade, os rumores que cantam os perfumes do nosso destino, através de nossos símbolos, dos nossos sentidos, das nossas estradas que têm a mesma extensão da expansão do universo. Baudelaire é, aqui, o poeta da grandeza, da mais vasta escuridão e larga claridade.
Correspondências
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas
Fazem o homem passar através de florestas
De símbolos que o vêem com olhos familhares.
Como os ecos além confundem seus rumores
Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.
Perfumes frescos há como carnes de criança
Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos
E outros ricos, triunfais e podres na fragrância
Que possuem a expansão do universo sem termos
Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso
Que cantam dos sentidos o transporte imenso.
BAUDELAIRE, Charles. As Flores do Mal. São Paulo: Círculo do Livro, 1995. Tradução, posfácios e notas de Jamil Almansur Haddad.
Livro on-line de Dilson Lages
"1. CHÃO EM ARDORES
- Aqui o Marataoã parece que saiu do lugar – repetia a balconista, com o leque em mãos. O leque dançando, dançando ao som seco e abafado do vento. O leque atritando o ar em coreografias." Continue lendo o primeiro capítulo de O morro da casa grande. Acesse aqui:
http://www.dilsonlages.com.br/coluna_cont.asp?id=1075
O LEQUE DA BALCONISTA
Rogel Samuel
No início do primeiro capítulo, "Chão em ardores", do livro de Dílson Lages Monteiro vemos dois tipos de deslocamentos: um aparente, outro coreográfico.
O primeiro é topológico - o Rio Marataoã aparentemente se desloca. O segundo é nervoso, feminino e excita o ar com suas coreografias: o leque da balconista.
Ainda que não sabemos o que vai acontecer depois, aí está um "deslocamento". Será que o livro vai contar uma ação transformadora, de mudança social, de ação verbal, de revolução social?
O leque da balconista está inquieto, erótico, sedutor.
A seguir, diz o texto:
"O rio já baixava o curso d’água. Dali nem se necessitava atravessar as figueiras, nem descer rua abaixo até a margem... Dali se via a bola de luzes queimar os olhos e deitar o fogo do céu sob a lâmina d’água. O mesmo fogo que ruborizava os corpos e confundia a visão da manhã".
Descreve o quadro, o fato, mas já com ações de baixar, atravessar, descer, sob o sol abrasador.
Depois continuo.
Diz Baudelaire que a natureza faz o homem através de vivos pilares das árvores e é lá que
ouvimos aquelas vozes da unidade, os rumores que cantam os perfumes do nosso destino, através de nossos símbolos, dos nossos sentidos, das nossas estradas que têm a mesma extensão da expansão do universo. Baudelaire é, aqui, o poeta da grandeza, da mais vasta escuridão e larga claridade.
Correspondências
A Natureza é um templo onde vivos pilares
Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas
Fazem o homem passar através de florestas
De símbolos que o vêem com olhos familhares.
Como os ecos além confundem seus rumores
Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.
Perfumes frescos há como carnes de criança
Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos
E outros ricos, triunfais e podres na fragrância
Que possuem a expansão do universo sem termos
Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso
Que cantam dos sentidos o transporte imenso.
BAUDELAIRE, Charles. As Flores do Mal. São Paulo: Círculo do Livro, 1995. Tradução, posfácios e notas de Jamil Almansur Haddad.
Livro on-line de Dilson Lages
"1. CHÃO EM ARDORES
- Aqui o Marataoã parece que saiu do lugar – repetia a balconista, com o leque em mãos. O leque dançando, dançando ao som seco e abafado do vento. O leque atritando o ar em coreografias." Continue lendo o primeiro capítulo de O morro da casa grande. Acesse aqui:
http://www.dilsonlages.com.br/coluna_cont.asp?id=1075
O LEQUE DA BALCONISTA
Rogel Samuel
No início do primeiro capítulo, "Chão em ardores", do livro de Dílson Lages Monteiro vemos dois tipos de deslocamentos: um aparente, outro coreográfico.
O primeiro é topológico - o Rio Marataoã aparentemente se desloca. O segundo é nervoso, feminino e excita o ar com suas coreografias: o leque da balconista.
Ainda que não sabemos o que vai acontecer depois, aí está um "deslocamento". Será que o livro vai contar uma ação transformadora, de mudança social, de ação verbal, de revolução social?
O leque da balconista está inquieto, erótico, sedutor.
A seguir, diz o texto:
"O rio já baixava o curso d’água. Dali nem se necessitava atravessar as figueiras, nem descer rua abaixo até a margem... Dali se via a bola de luzes queimar os olhos e deitar o fogo do céu sob a lâmina d’água. O mesmo fogo que ruborizava os corpos e confundia a visão da manhã".
Descreve o quadro, o fato, mas já com ações de baixar, atravessar, descer, sob o sol abrasador.
Depois continuo.
domingo, 2 de novembro de 2008
Diário do Povo destaca barrenses no Amazonas
Barras
por Manoel Lages (barras@45graus.com.br)
Diário do Povo destaca barrenses no Amazonas
Artigo publicado pelo escritor Dílson Lages Monteiro na edição de hoje, 26, no Diário do Povo, ressalta a participação de barrenses na História do Amazonas, a partir do novo romance de Rogel Samuel, um dos mais destacados críticos literários do Brasil. Fileto Pires Ferreira e Thaumaturgo, segundo o artigo, tiveram enorme participação na vida política daquela região no final do século XIX. Reproduzimos ao deleite dos conterrâneos o artigo, seguido de entrevista concedida por Rogel, do Rio de Janeiro, onde mora, para Dílson Lages, Ei-la:
Piauienses viraram ficção na Amazônia
TEATRO DO AMAZONAS: romance sobre a casa de espetáculos joga luz nas figuras de Fileto Pires Ferreira e Thaumaturgo de Azevedo
(*) Dílson Lages Monteiro
Especial para o Diário do Povo
Um é descrito como "magro, ágil, elétrico, homem de fino trato, olhar inteligente, meio romântico, ousado, impetuoso, um tanto ingênuo, elegante de espírito (...) bem nascido, família abastada, dona do Norte do Piauí, a terra do gado". O outro, como um combativo homem público de ampla atuação, a seu tempo, no Norte do País. Fileto Pires Ferreira e Thaumaturgo de Azevedo, piauienses que governaram o Amazonas, respectivamente, entre 1896-1898 e 1891-1892, são personagens do romance "Teatro do Amazonas", de autoria do amazonense Rogel Samuel.
A obra conta a história de uma das mais opulentas casas de espetáculos do país, o Teatro do Amazonas, inaugurado em 31 de dezembro de 1896 e, dentre outras características, redimensiona o papel de Fileto e Thaumaturgo na história do Amazonas.
O romance põe em relevo a atuação do protagonista da obra, Fileto Pires, na vida política daquele Estado. Para o autor, Pires Ferreira foi um dos grandes governadores do Amazonas, porém, injustiçado.
Para construir o perfil dos personagens, Rogel realizou vasta pesquisa histórica, vasculhando desde os livros clássicos sobre a história amazo-nense aos estudos genealógi-cos. Até mesmo cemitérios o autor visitou durante a pesquisa. Mas foi na Biblioteca Nacional que encontrou preciosidades, desconhecidas dos piauienses e mesmo de historiadores amazonenses, e, baseado nelas, deu fôlego à obra.
O livro permite mergulhar em detalhes da Manaus do final do século XIX e início do século XX. "A vida em Manaus era exuberante, elegante e rica, e bem alegre, já naquela época. Era o início do apogeu de uma sociedade que enriquecia rapidamente, com a extração da borracha."
Ainda retratando Manaus, no capítulo quarto, o Natal de 1900, descreve o autor:
"Poucos anos depois a economia do Amazonas entrou em decadência e ruína. Ma-naus quase foi transformada numa cidade fantasma. O manto negro de uma recessão a cobriu durante cinqüenta anos, povoando suas ruas uma legião de mendigos. O Teatro Amazonas fechou as portas por meio século e durante algum tempo se transformou em depósito de borracha crua. Todos os espelhos de cristal, os quadros, as estátuas, as cortinas de veludo, os lustres, os tapetes de linho, os jarros de porcelana, os móveis de luxo, as mesas e cadeiras móveis foram roubados."
A publicação dos capítulos de Teatro do Amazonas ocorre originalmente nos endereços eletrônicos Blocosonline e, simultaneamente, em Entre-textos e no próprio site do escritor. A cada quinzena, novo capítulo é publicando nesses sites. Atualmente, 11 capítulos estão à disposição do internauta.
Rogel Samuel é poeta, escritor, webjornalista e colunista do Blocos On Line e Entre-textos, além de ser professor aposentado adjunto e doutor do Departamento de Ciência da Literatura na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
Dentre as suas obras, já publicou: "Crítica da Escrita", em 1979; "Manual de Teoria Literária", já com 14 edições; "Literatura Básica, em 3 volumes, em 1985; "O que é Teolit?", em 1986; "120 Poemas, em 1991"; "Novo manual de Teoria Literária", 4ª. Edição, em 2007 e o romance "O Amante das Amazonas", 2005. O autor assina o blog http://literaturarogelsamuel. blogspot.com/
Romance é publicado na Internet
Como nos folhetins antigos, que tinham seus capítulos publicados nas páginas dos jornais, o autor de "Teatro do Amazonas" usa a rede mundial de computadores e divulga o romance em seu diário virtual.
DIÁRIO DO POVO - Como nasceu, escritor, a idéia de construir este romance?
Rogel - A minha intenção inicial era escrever sobre Eduardo Ribeiro, governador do Amazonas. Cheguei a escrever vários capítulos, que se perderam. Dele pouco se sabe.
DP - O Teatro do Amazonas é o tema de seu romance de mesmo nome. O Teatro foi construído no final do século XIX. Que tempo é esse na narrativa de Teatro do Amazonas?
Rogel - Procuro reconstruir o ambiente da época, ou pelo menos na minha imaginação. É um tempo romanesco.
DP - O romance histórico é resultado não apenas do talento do escritor em escrever ficção, mas também de pesquisa. Quais as fontes de pesquisa em que o senhor mergulhou e que foram decisivas na construção de espaços, personagens e da própria trama?
Rogel - Foram decisivas algumas fontes, como os livros de Fileto Pires Ferreira, Thaumaturgo de Azevedo e Eduardo Ribeiro, que quase ninguém leu. Além de Mário Ypiranga e Genesino Braga.
DP - Um dos protagonistas do romance é Fileto Pires Ferreira, piauiense, que governou o Amazonas. Em linhas gerais, como é o Fileto personagem? Por que ele figura como um dos protagonistas?
Rogel - Fiquei impressionado com o livro de Fileto "A verdade sobre o caso do Amazonas", muito bem escrito. Descobri que, apesar de só governar 19 meses, foi o grande governador de sua época e de todos os tempos no Amazonas. Descobri também que ele é esquecido e injustiçado.
DP - Por que Fileto Pires Ferreira seria um injustiçado na história do Amazonas?
Rogel - Sim, um injustiçado. Era honesto, empreendedor e romântico. Aliás, ainda estávamos no Romantismo, no Amazonas. Fileto amava tanto o Amazonas que seus três filhos tiveram nome de índio.
DP - Pesquisando para construir o romance, o senhor descobriu bastante sobre Fileto e também sobre o piauiense Taumaturgo de Azevedo, outro personagem que integra o enredo. Que informações descobertas sobre essas figuras foram motivo de encantamento?
Rogel - Thaumaturgo foi um herói nacional, mas reconhecido ainda hoje. Governou o Piauí e o Amazonas. Não foi esquecido, como Fileto. Entretanto, não há uma rua ou escola em Manaus com o nome deles. E pouca gente sabe que foi Thaumaturgo quem traçou o plano da cidade de Manaus.
DP - No século XIX, os romances históricos eram declaradamente nacionalistas. Já no século XX, passaram a agregar elementos psicológicos e a voltar-se para as mentalidades em relação ao passado. Qual precisamente o viés de o "Teatro do Amazonas"? A missão dele é reinterpretar o passado?
Rogel - Não sei, ao sabor da pena, não tenho distan-ciamento estético para saber. Só sei é que é algo que estava há muito dentro de mim, e que há muitos anos precisava sair de mim. O viés é pessoal. É um ajuste de contas comigo mesmo, está nas minhas entranhas, no meu sangue.
DP - A publicação dos capítulos ocorre gradativamente em Blocos online, em seu site e no site Entre-textos. O que muda na recepção da obra, em sua análise, quando ela é publicada dessa forma e na internet?
Rogel - Acredito na Internet, creio que por aí se vai encontrar o futuro. O atual governo pretende instalar dezenas de milhões de computadores nas escolas de primeiro e segundo grau, com Internet banda larga. Se não me engano serão 37 milhões. Você pode imaginar o que isso vai significar em número de leitores novos, de futuros leitores. Em breve, cada romance como o meu, publicado na Internet, terá não mais milhares de leitores, mas alguns milhões.
(*) Dílson Lages Monteiro é escritor
O LEQUE DA BALCONISTA
O leque da balconista
Rogel Samuel
No início do primeiro capítulo, "Chão em ardores", do livro de Dílson Lages Monteiro vemos dois tipos de deslocamentos: um aparente, outro coreográfico.
O primeiro é topológico - o Rio Marataoã aparentemente se desloca. O segundo é nervoso, feminino e excita o ar com suas coreografias: o leque da balconista.
Ainda que não sabemos o que vai acontecer depois, aí está um "deslocamento". Será
que o livro vai contar uma ação transformadora, de mudança social, de ação verbal,
de revolução social?
O leque da balconista está inquieto, erótico, sedutor.
A seguir, diz o texto:
"O rio já baixava o curso d’água. Dali nem se necessitava atravessar as figueiras, nem descer rua abaixo até a margem... Dali se via a bola de luzes queimar os olhos e deitar o fogo do céu sob a lâmina d’água. O mesmo fogo que ruborizava os corpos e confundia a visão da manhã".
Descreve o quadro, o fato, mas já com ações de baixar, atravessar, descer, sob o sol abrasador.
Depois continuo.
Rogel Samuel
No início do primeiro capítulo, "Chão em ardores", do livro de Dílson Lages Monteiro vemos dois tipos de deslocamentos: um aparente, outro coreográfico.
O primeiro é topológico - o Rio Marataoã aparentemente se desloca. O segundo é nervoso, feminino e excita o ar com suas coreografias: o leque da balconista.
Ainda que não sabemos o que vai acontecer depois, aí está um "deslocamento". Será
que o livro vai contar uma ação transformadora, de mudança social, de ação verbal,
de revolução social?
O leque da balconista está inquieto, erótico, sedutor.
A seguir, diz o texto:
"O rio já baixava o curso d’água. Dali nem se necessitava atravessar as figueiras, nem descer rua abaixo até a margem... Dali se via a bola de luzes queimar os olhos e deitar o fogo do céu sob a lâmina d’água. O mesmo fogo que ruborizava os corpos e confundia a visão da manhã".
Descreve o quadro, o fato, mas já com ações de baixar, atravessar, descer, sob o sol abrasador.
Depois continuo.
O MORRO DA CASA GRANDE
LEIA O PRIMEIRO CAPÍTULO DO ROMANCE ON-LINE DE
DILSON LAGES MONTEIRO
"O MORRO DA CASA GRANDE"
1. CHÃO EM ARDORES
- Aqui o Marataoã parece que saiu do lugar – repetia a balconista, com o leque em mãos. O leque dançando, dançando ao som seco e abafado do vento. O leque atritando o ar em coreografias." Continue lendo o primeiro capítulo de O morro da casa grande. Acesse aqui:http://www.dilsonlages.com.br/coluna_cont.asp?id=1075
DILSON LAGES MONTEIRO
"O MORRO DA CASA GRANDE"
1. CHÃO EM ARDORES
- Aqui o Marataoã parece que saiu do lugar – repetia a balconista, com o leque em mãos. O leque dançando, dançando ao som seco e abafado do vento. O leque atritando o ar em coreografias." Continue lendo o primeiro capítulo de O morro da casa grande. Acesse aqui:http://www.dilsonlages.com.br/coluna_cont.asp?id=1075
sábado, 1 de novembro de 2008
O MUNDO DOS SONHOS
O mundo dos sonhos
Rogel Samuel
Certa vez traduzi do francês um poema de Vladimir Soloviev (Moscou, 1853-1900) e um leitor do meu blog fez um comentário interessante:
POEMA
VLADIMIR SOLOVIEV
(Moscou, 1853-1900)
Amada criança não vê você
Tudo que percebemos
Reflexo é, uma sombra
Do invisível para nós?
Criança amada não compreende
Que da vida cotidiana o fracasso
É eco deformado
Das triunfantes harmonias?
Amada criança você não sente
Que o que importa nesta Terra
É o que um coração diz a outro coração
Na mensagem silenciosa?
(Trad. Rogel Samuel)
"De Sousa disse...
Creio que o poema é muitíssimo bom.
Mas a tradução não consegue dar uma pálida imagem da sonoridade e do ritmo que seria necessário tentar transpor para a língua portuguesa. Mesmo assim, bem haja pela tentativa e pelo resultado!
Avelino de Sousa"
Eu agradeço ao leitor, que sei ser um especialista em literatura russa.
A primeira estrofe me lembra algo que li em Nietzsche.
Nietzsche parte do sonho como fenômeno psicológico para estabelecer os fundamentos de sua estética. A arte do poeta é dizer a arte do sonho.
A beleza do mundo dos sonhos é para nós a condição prévia de todas as artes plásticas e também uma parte essencial da poesia.
Entretanto, o sonho nos deixa a impressão de não ser mais do que uma aparência. Todo homem dotado de espírito filosófico pressente que, por trás da realidade que se descortina aos sentidos, se encontra uma “outra” muito diferente, sendo que a primeira não passa de uma aparição da segunda.
O filósofo percebe a realidade como um puro fantasma, como uma imagem de sonho.
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