segunda-feira, 3 de novembro de 2008

ATRAVESSAR FLORESTAS

Rogel Samuel


Diz Baudelaire que a natureza faz o homem através de vivos pilares das árvores e é lá que
ouvimos aquelas vozes da unidade, os rumores que cantam os perfumes do nosso destino, através de nossos símbolos, dos nossos sentidos, das nossas estradas que têm a mesma extensão da expansão do universo. Baudelaire é, aqui, o poeta da grandeza, da mais vasta escuridão e larga claridade.

Correspondências



A Natureza é um templo onde vivos pilares

Podem deixar ouvir confusas vozes: e estas

Fazem o homem passar através de florestas

De símbolos que o vêem com olhos familhares.

Como os ecos além confundem seus rumores

Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,

Tão vasta como a noite e como a claridade,

Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores.

Perfumes frescos há como carnes de criança

Ou oboés de doçura ou verdejantes ermos

E outros ricos, triunfais e podres na fragrância

Que possuem a expansão do universo sem termos

Como o sândalo, o almíscar, o benjoim e o incenso

Que cantam dos sentidos o transporte imenso.

BAUDELAIRE, Charles. As Flores do Mal. São Paulo: Círculo do Livro, 1995. Tradução, posfácios e notas de Jamil Almansur Haddad.




Livro on-line de Dilson Lages





"1. CHÃO EM ARDORES



- Aqui o Marataoã parece que saiu do lugar – repetia a balconista, com o leque em mãos. O leque dançando, dançando ao som seco e abafado do vento. O leque atritando o ar em coreografias." Continue lendo o primeiro capítulo de O morro da casa grande. Acesse aqui:

http://www.dilsonlages.com.br/coluna_cont.asp?id=1075


O LEQUE DA BALCONISTA

Rogel Samuel



No início do primeiro capítulo, "Chão em ardores", do livro de Dílson Lages Monteiro vemos dois tipos de deslocamentos: um aparente, outro coreográfico.
O primeiro é topológico - o Rio Marataoã aparentemente se desloca. O segundo é nervoso, feminino e excita o ar com suas coreografias: o leque da balconista.
Ainda que não sabemos o que vai acontecer depois, aí está um "deslocamento". Será que o livro vai contar uma ação transformadora, de mudança social, de ação verbal, de revolução social?
O leque da balconista está inquieto, erótico, sedutor.
A seguir, diz o texto:
"O rio já baixava o curso d’água. Dali nem se necessitava atravessar as figueiras, nem descer rua abaixo até a margem... Dali se via a bola de luzes queimar os olhos e deitar o fogo do céu sob a lâmina d’água. O mesmo fogo que ruborizava os corpos e confundia a visão da manhã".
Descreve o quadro, o fato, mas já com ações de baixar, atravessar, descer, sob o sol abrasador.
Depois continuo.

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