terça-feira, 11 de novembro de 2008

A marinha bilaquiana

A marinha bilaquiana

Rogel Samuel

O princípio das coisas oscila sobre o mar, sobre as ondas do mar. Docemente sopra o vento e geme – mas o gemido é de gozo. A cena é erótica e aumenta com o enfunar, o encher, o inflar, o inchar das velas, como de falos. Traços de luzes passam, tremeluzem, brilhos. No céu pára um luar, ou melhor, o céu prepara um luar. E “Tu, palpitante e bela, Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!”. No poema tudo se faz em Eros, sobre a feminidade das águas. A cena é retomada com o oscilar do batel, no ritmo da cópula do gozo.

Marinha


Sobre as ondas oscila o batel docemente...
Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.
Na água mansa do mar passam tremulamente
Áureos traços de luz, brilhando esparsos nela.

Lá desponta o luar. Tu, palpitante e bela,
Canta! Chega-te a mim! Dá-me essa boca ardente!
Sobre as ondas oscila o batei docemente...
Sopra o vento a gemer. Treme enfunada a vela.

Vagas azuis, parai! Curvo céu transparente,
Nuvens de prata, ouvi! - Ouça na altura a estrela,
Ouça de baixo o oceano, ouça o luar albente:
Ela canta! - e, embalado ao som do canto dela,
Sobre as ondas oscila o batel docemente.

Nenhum comentário: