terça-feira, 30 de dezembro de 2008
A palavra pesada
A palavra pesada
Rogel Samuel
Bilac era intelectual e emocionalmente inquieto, instável, liricamente ansioso, tanto que o titulo de seu livro é “Alma Inquieta”, onde se lê que a palavra não consegue exprimir a sua inquietude, aquilo que ele nem diz nem escreve, porque não encontra a apropriada voz ou não consegue, pois a palavra inútil não responde ao turbilhão fervente do que está só em pensamento – o pensamento, o sentimento é evanescente, leve, para a palavra pesada, fria, espessa, de pedra, uma laje, um sepulcro a palavra inútil, a palavra abafada, sem o perfume sutil que revoa e ilumina com a luz que refulge da idéia - pois quem vai conseguir moldar a expressão de tudo? quem vai conseguir colocar o risco do céu na mão da terra? quem vai dar apropriada voz à ira e ao asco e ao desespero e à fé e às confissões de amor que não saem à luz do dia?
Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
- Ardes, sangras, pregada a' tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...
O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e dano, refulgia e voava.
Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?
E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!
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