domingo, 17 de março de 2013

Enquanto a lua for calada e branca

Enquanto a lua for calada e branca



Enquanto a lua for calada e branca


Rogel samuel


Os livros do poeta amazonense Ernesto Penafort (1936-1992) são hoje as maiores raridades bibliográficas. Nem em sebos se encontram. Ele escreveu Azul Geral (Madrugada, 1973), 1982 A Medida do Azul (Imprensa Oficial, 1982), Os Limites do Azul (Imprensa Oficial, 1985), Do Verbo Azul (Gov. do Estado do Amazonas, 1988). Penafort nasceu e morreu em Manaus.
Na década de 60, estudou Ciências Sociais na Universidade do Brasil, sem concluir
o curso, voltou para Manaus, fez Direito. Foi presidente do Clube da Madrugada e
era muito conhecido em sua época. Eu não o conheci pessoalmente ainda que devemos ter-nos encontrado na Universidade ou em Manaus. Mas sempre ouvi falar dele. Eu incentivei um meu orientando do curso de Mestrado em Teoria literária para fazer uma pesquisa sobre a poesia de Penafort, o que daria a monografia de sua dissertação final. Mas meu aluno abandonou o curso e nunca concluiu o trabalho.
Um dos seus poemas é este:

enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, este esquisito,
este invisível vulto, apenas visto
quando o vento, de leve açoita as folhas.
enquanto a lua for calada e branca
eu serei sempre o mesmo, apenas visto
quando um raio de sol morre na lágrima
que se despede de uma folha verde.
eu serei sempre assim, apenas sombra,
apenas visto quando a voz de um gesto
colhe no bosque alguma flor azul.
apenas visto quando em fundo azul
voar a garça (o meu adeus ao mundo?),
enquanto a lua for calada e branca.

(Azul geral)

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