quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

ANO NOVO

(FOTO DE CUSTÓDIO COIMBRA)

ANO NOVO

Atrás do obstáculo, encontra-se a liberdade: entrando pelo novo ano

 

Rogel Samuel

 

O novo sempre é agradável de sentir, de viver, de estar. Não é constituído de palavras. É algo vivo, pulsa, tem energia. Viajamos no novo, entrando numa novidade. A nova ação produz as novas amizades, novas cores, flores.

Disse Dugpa Rinpoche: “Volte os olhos para a simplicidade natural do mundo”.

Dugpa Rinpochê é um escritor budista. Seus preceitos são simples, claros, curtos, poéticos. Ele os escrevia em pedacinhos de papel, meditava neles durante muito tempo, e depois os liberava, dava-os ao visitante. Acompanhou o Dalai Lama na fuga deste do Tibet, na época da invasão chinesa. Morou em Dharamsala, na Índia, e depois foi para Nagarkot, no Nepal, a três mil metros de altitude, perto daquelas montanhas, o Annapurna, o Melung Tse, o Everest.

 Não deve ter tido uma vida fácil. Deve ter perdido a família e pátria. Viu o sofrimento de milhares de tibetanos. Talvez sua família tenha sido morta ou torturada, como tantas outras, naquela terrível invasão. Mas não esqueceu a surpresa da novidade, a alegria, o amor. Não deixou de ver o mundo e a vida como uma coisa nova e bonita, com alegria, sem depressão. Faleceu em Dharamsala, em 1989. A vida não é fácil, nunca é fácil. Mas sempre é uma coisa nova. E é muito curta para que a possamos sofrer, para que a transformemos em tragédia. É fácil fazer da vida uma tragédia. Difícil é o contrário, fazer dela uma alegria nova.

Sei que estou fazendo pose, que estou fazendo frases, que estou tecendo frases de efeito, frases de estilo. Mas vou ou procuro entrar nesse novo ano com um espírito renovado, sem os aborrecimentos do passado.

Podemos entrar no novo ano por um novo caminho interior, bem diferente, sem os padecimentos do passado, deixando no velho o peso morto.

Dugpa Rinpochê, “Quem deseja a sorte alcança-a sempre. Não deprecie nunca os seus sonhos. Deve fazer um pacto com eles. Eles são a nascente e a força inesgotável que levarão à vitória. Atrás do obstáculo, encontra-se uma liberdade virginal, um horizonte mais vasto”.

Sei que estou lidando com frases. Mas, além das frases, que mais existe?

 

 


domingo, 28 de dezembro de 2014

NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL

NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL
NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL
 
 
I - INTRODUÇÃO

 (continuação)
 
Entretanto, uma importante advertência devo aqui salientar: esta teoria não é bachelardiana como parece ser. Utilizo-me de alguns pensamentos de Bachelard, aproprio-me de algumas de suas idéias e estarei aqui em permanente diálogo com seus textos, mas o argumento que me orienta relaciona-se com a hermenêutica (a renovada hermenêutica do final do século XX e início do século XXI), proporcionando-me distinguir no texto alheio o reflexo de meus próprios conhecimentos. Por tais motivos, hermeneuticamente estarei dialogando com a filosofia de Bachelard, uma filosofia ligada à razão, à sabedoria, às origens do pensamento do homem e suas causas posteriores; uma orientação filosófica que tem por base uma fenomenologia que imerge na mais profunda raiz do pensamento ocidental. E, de certo modo, conscientemente poderei dizer que este é o meu Bachelard, isto é, tenho de Bachelard uma certa leitura e aproximação muito mais literária do que filosófica.
 
Restabelecendo um importante juízo de Bachelard, registrado em seu livro A DIALÉTICA DA DURAÇÃO, no qual admite a possibilidade de intervalos temporais propiciando o surgimento de obstáculos, desvios, impedimentos, que poderão ou não quebrar as cadeias causais (ou seja, entre causa e efeito há sempre uma intervenção de acontecimentos possíveis que não estão ligados ao dado causal), colocarei aqui em evidência meus pensamentos dialetizados, situando-os exatamente nesse plano de probabilidades. Este meu ponto de vista teórico-crítico, interagindo aqui com a filosofia bachelardiana, é uma teoria não-causal no plano da Arte, uma vez que estarei buscando novas argumentações críticas (transmutando pensamentos já avaliados, aspirando a uma renovação nos atuais estudos da literatura brasileira), próximas de nossa realidade cultural, objetivando desenvolver um intercâmbio de idéias comunitárias com nossos artistas literários.
 
Não estarei presa simplesmente à causa, mas interessada em ultrapassar os obstáculos, visando muito mais o que poderá surgir como novidade no âmbito da Teoria ou da Crítica Literária, neste início de Terceiro Milênio. Penso assim movimentar-me para um novo início teórico-crítico, que abarque a realidade literária da qual faço parte, como leitora-intérprete consciente da urgência de invenção de uma variante crítica autóctone que acompanhe a criação literária de nossos escritores. Uma teoria causal, objetivando um fim imediato, por ora, seria impossível, devido aos inevitáveis obstáculos, mas nada irá impedir-me de aventurar-me nas veredas das probabilidades quantificadas, probabilidades estas que darão conta posteriormente dos resultados que procuro obter.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL

NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL
NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL
 NEUZA MACHADO - DO PENSAMENTO CONTÍNUO À TRANSCENDÊNCIA FORMAL
  
RIO DE JANEIRO
2006
 
 
        Machado, Neuza,    1946-
              Do pensamento contínuo à transcedência formal. 1. ed. – Rio de Janeiro: NMachado, 2006 
 
        Bibliografia e Notas
1 . Teoria Literária   -  Crítica Literária   -   Sociologia da Literatura   -  Filosofia   - Literatura Brasileira
I .  Machado, Neuza,  1946-       II .
 
 
SUMÁRIO
 
 
I -.... INTRODUÇÃO ...................... 11
 
 
 
II -... UM SERTÃO INESQUECÍVEL  .............................................................          33
II.1 -... Sertão: Casa da Infância    33
II.2 -... O Artista e suas Máscaras                50
II.3 -... Sertão: Cenário da verdadeira representação
                        do Eu Ficcional do ArtistA..............................................         60
II.4 -... Aprendendo a administrar
Conflitos .........................   74
II.5 -... Resgatando Lembranças    85
II.6 -... O Tempo suspenso entre o antes
e o depois .........................   93
II.7 -... A Filosofia do Vazio em
contraposição à do Cheio         96
II.8 -... Passagem dos Cogitos 104
II.9 -... O Sonho do Artista: Elo de Ligação
com o Cogito(4) .............. 127
II.10-.. Psicanálise da Criação       132
II.10.1  Da reprodução à autêntica criação           132
II.10.2  Uma perspectiva dialética          152
II.10.3  Mudanças no discurso narrativo                161
II.10.4  Sob a influência do fogo      169
II.10.5  Da agitação ao conflito        182
II.10.6  O colorido do sertão roseano             191
II.10.7  Uma perspectiva maravilhada            200
II.10.8  Sertão: sofrimento e conflito              210
II.10.9  Os graus da imaginação na obra roseana                219
II.10.10 A temática da água .... 225
II.11-.. Ascensão ao Concreto        244
II.11.1  Uma perspectiva substancial infinita                244
II.11.2  O narrador perde a vez         255
II.11.3  O elemento Ar: a um passo do infinito              263
II.11.4  Além do cogito(3) ........ 272
II.11.5  Conclusão: Recriando o passado              282
 
 
 
III -.. CONCLUSÃO ....................... 285
 
 
 
IV -.. BIBLIOGRAFIA ....................   297
 
 
 
V -                 NOTAS .......................................................................................................        301
 
 


 
 
Quer queira quer não, o romancista revela o fundo de seu ser, ainda que se cubra literalmente de personagens. Em vão ele se servirá "de uma realidade" como uma tela. É ele que projeta essa realidade, é ele sobretudo que a encadeia.
 
*Gaston Bachelard
 
 
Nasci no ano de 1908. (...). Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não têm princípio nem fim. E meus livros são aventuras; para mim, são minha maior aventura. Escrevendo, descubro sempre um novo pedaço de infinito; o momento não conta. Vou revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo, repito o que vivi antes. E para estas duas vidas um léxico apenas não me é suficiente.
 
Nasci em Cordisburgo, uma cidadezinha não muito interessante, mas para mim, sim, de muita importância. Além disso, em Minas Gerais, sou mineiro. E isto sim é o importante, pois quando escrevo, sempre me sinto transportado para esse mundo: Cordisburgo.
 
Eu sou antes de mais nada um "homem do sertão"; e isto não é apenas uma afirmação biográfica, mas também, e nisto pelo menos eu acredito firmemente, que ele, esse "homem do sertão", está presente como ponto de partida mais do que qualquer outra coisa.
 
Este pequeno mundo do sertão, este mundo original e cheio de contrastes, é para mim o símbolo, diria mesmo o modelo de meu universo.
 
Fui médico, rebelde, soldado. Foram etapas importantes de minha vida. (...). Estas três experiências formaram até agora meu mundo interior; e, para que isto não pareça demasiadamente simples, queria acrescentar que também configuram meu mundo a diplomacia, o trato com os cavalos, vacas, religiões e idiomas.
 
É impossível separar minha biografia de minha obra.
 
Tudo isto é curioso, mas o que não é curioso na vida? Não devemos examinar a vida do mesmo modo que um colecionador de insetos contempla os seus escaravelhos?
 
**GUIMARÃES ROSA


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

OS AMANTES

OS AMANTES 

clarice de oliveira

Quando eu morrer, quando sair da gaiola, sonho em atravessar as águas das cachoeiras; quero sentir meu fantasma ser perpassado pelas águas; desejo surfar sobre as ondas do mar de Ipanema, uma das praias mais perigosas do Rio de Janeiro.
Agora livre, verei os muitos fantasmas que percorrem as areias da Barra da Tijuca, e a enganadoura quietude das margens das lagoas e canais dessa mágica Barra da Tijuca, que guarda as memórias dos tamoios, que aqui deixaram sua magia, chamada pelas suas indÍgenas-ondinas, as muitas vindas dos seres que gostavam das praias.
As lagoas e os canais da Barra, a misteriosa Barra, que guarda seus segredos de antes do aprisionamento das águas, do tempo em que uma baleia teve sua volta ao mar impedida por esse transtorno, e morreu, deixando seu esqueleto para um futuro morador branco ou mulato fazer uma cerca em volta de seu quintal, com as costelas do imenso mamiÍfero aquático.
Meu fantasma, na Barra da Tijuca, vai sentir o vento que nunca se aquieta lá, atravessar sua existência informe, porque não quero a aparência que tive nesta vida, minha vida sobre a Terra, no Brasil.
As cinzas do meu corpo serão jogadas ao mar. Meu fantasma passará dias e dias acompanhando as cinzas na sua viagem para as costas da Índia do Sul. Penetrarei no templo de minha antiga aldeia e chorarei de saudades de minha família e do meu namorado de quando lá viví.
Primeiro, quero a liberdade para a minha Alma – ela, a minha Alma fez algumas conquistas valiosas – valiosas, porque as conquistas Espirituais que são feitas na Terra têm um valor todo especial, já que a "mineração" dessas "gemas valiosas" custaram os sacrifícios, lágrimas e ferimentos.
Mas não quero cicatrizes na minha Alma – desejo que, ela, minha Alma, esteja bela e sedutora, pois quero reconquistar o grande amor que deixei na Índia – o belo rapaz de olhos negros, os olhos negros que nunca tiveram rival nas mais antigas histórias do planeta Terra.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Tudo passa, diz Vieira, no Natal

Tudo passa, diz Vieira, no Natal
 
ROGEL SAMUEL
 
Era o Primeiro Domingo do Advento, em 1655, e o Padre Antonio Vieira, do púlpito,  pregava.
O revolucionário Padre não postulava valores verdades eternas, mas passageiras.
O advento, ou "chegada", é o primeiro tempo do ano litúrgico, o que antecede o Natal.
 
Tempo de perdão, de preparação e alegria, e expectativa, quando se espera o nascimento de Cristo.
 
Corresponde às quatro semanas que antecedem ao Natal.
 
Um vento que vinha do mar.
Pássaros da madrugada.
Na orla da praia os pés afundavam na areia.
Ao longe, ouviam-se estalidos de trovoadas obscuras, como canhões.
 
Vieira voltou-se para a estrada.
O mundo se tinha apagado, como se morto.
Na noite escura, um silêncio ausente, sinistro.
E ele continuava, passos pela estrada do falar.
No céu, apareceu o cometa, que apontava.
Os viajantes crentes foram chegam ao mesmo tempo.
Dos campos da vizinhança, foram chegando.
De repente, aparecia-lhes Vieira.
 
Mas o Padre, do alto do púlpito, pregava:
 
“Tudo passa, e nada passa.”
 
“Tudo passa para a vida, e nada para a conta.”
 
“A verdade e desengano de que tudo passa (que é o nosso primeiro ponto) posto que seja por uma parte tão evidente, e que parece não há mister prova, é por outra tão dificultoso, que nenhuma evidência basta para o persuadir”.
 
“Lede os filósofos, continuou, lede os profetas, lede os apóstolos, lede os santos padres, e vereis como todos empregaram a pena, e não uma senão muitas vezes, e com todas as forças da eloqüência, na declaração deste desengano, posto por si mesmo tão claro.”
 
“Sabiamente falou quem disse que a perfeição não consiste nos verbos, senão nos advérbios: não em que as nossas obras sejam honestas e boas, senão em que sejam bem feitas.”
 
“E para que esta condicional tão importante se estendesse também às coisas naturais e indiferentes, inventou o apóstolo S. Paulo um notável advérbio.”
“E qual foi?
“Sois casado? (diz o apóstolo) pois empregai todo o vosso cuidado em Deus, como se o não fôreis.”
“Tendes ocasiões de tristezas? pois chorai, como se não choráreis. Não são de tristeza, senão de gosto? pois alegrai-vos, como se não vos alegráreis.”
“Comprastes o que havíeis mister, ou desejáveis? pois possuí-o, como se não possuíreis. Finalmente usais de alguma outra coisa deste mundo? pois usai dela, como se não usáreis. De sorte que quanto há, ou pode haver neste mundo, por mais que nos toque no amor, na utilidade, no gosto, a tudo quer S. Paulo que acrescentemos um, como se não, tanquam non.”
“Como se não houvera tal coisa, como se não fora nossa, como se não nos pertencera.”
“E por quê?
“Vede a razão: Præterit enim figura hujus mundi. Porque nenhuma coisa deste mundo pára, ou permanece; todas passam.”
“E como todas passam e são como se não foram, assim é bem que nós usemos delas, como se não usáramos: Tanquam non utantur.”
“Por isso a essas mesmas coisas não lhes chamou o oráculo do terceiro céu coisas, senão aparências, e ao mundo não lhe chamou mundo, senão figura do mundo: Præterit enim figura hujus mundi.”
“Considerai-me o mundo desde seus princípios, e vê-lo-eís sempre, como nova figura no teatro, aparecendo e desaparecendo juntamente, porque sempre está passando”.
 
Vieira foi um ativista que muito viajou no séc. XVII, percorreu a Europa, o Norte e Nordeste do Brasil, preso por corsários, sofreu naufrágios, exílios e prisões.
 
Um gigante.
 
Mas tudo, infelizmente, passa.

Lucilene Gomes Lima

Lucilene Gomes Lima
 
 
 
            Nosso estudo encontra-se dividido em quatro momentos ou partes. Procedemos inicialmente a um apanhado dos fatores históricos caracterizadores do ciclo. Esse procedimento teve como objetivo apresentar as determinações econômicas do ciclo como forma de situar as obras nesse contexto. Na segunda parte do estudo, apresentamos um apanhado do universo de obras do “ciclo da borracha” na literatura amazonense a fim de identificarmos a constância da abordagem. Na terceira parte do estudo, apresentamos as obras que constituem o recorte em torno da problemática da diversificação e desenvolvemos uma análise particular de cada uma delas. Encerramos o estudo, procedendo a interligação entre as três obras e os seus respectivos autores, fazendo uma análise comparativa em que procuramos apontar tanto os pontos de contato quanto os de afastamento entre os autores e as obras.
            O referencial teórico que dá suporte ao nosso estudo concentra-se principalmente no argumento que Mário Ypiranga Monteiro desenvolve em Fatos da literatura amazonense, a saber: a literatura amazonense em torno do “ciclo da borracha” não apresenta diversificação em relação ao tratamento do tema. Nessa carência, o autor aponta como exceção o romance A selva, de Ferreira de Castro. A selva é igualmente apontada por Márcio Souza em A expressão amazonense como o único romance que conseguiu desfazer o círculo de ostentação das letras amazonenses, baseado numa retórica vazia e acrítica. Segundo o autor, a obra desvela realisticamente o processo do “ciclo da borracha”.
            Empreendendo a análise de A selva apontamos detalhadamente a coerência da organização estrutural do romance em relação à abordagem do tema. Acrescentamos, todavia, as nossas considerações acerca do determinismo acentuado na obra, o qual prejudicou a sua construção crítica sobre o ciclo.
            Na abordagem de Beiradão, consideramos e dialogamos com o estudo empreendido por Neide Gondim em Simá, Beiradão, Galvez, imperador do Acre: ficção e história. Especialmente a assertiva de que Beiradão rompeu com o protótipo do coronel de barranco foi de valia para o nosso estudo que se pauta pela ocorrência de diversificação nas obras do ciclo. Consideramos e nos apoiamos também no estudo de Heloína Monteiro dos Santos: Uma liderança política cabocla – Álvaro Maia - apontando a ideologia subjacente no posicionamento político do autor.   Por fim, a análise que procedemos em relação à obra O amante das amazonas teve como suporte teórico o texto Crítica da escrita,  do próprio autor, mediante o qual podemos compreender as concepções estéticas explicitadas na criação de sua obra ficcional.

domingo, 21 de dezembro de 2014

SOBRE A MEDITAÇÃO



A meditação molda o cérebro. Os efeitos positivos de uma técnica multimilenar
Estudo mostra que até mesmo um iniciante em meditação pode mudar sua estrutura cerebral em poucas semanas e beneficiar-se dessas alterações.

 

NEUZA MACHADO: SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS


NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE


SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL

O narrador do século XX, ficcionalmente, intuitivamente ou não, percebeu os dogmas imperialistas sobre o assunto e os ultrapassou. A sua infração sócio-ficcional se notabiliza ao longo de sua narração sobre os Numas. Por minha parte, para interpretar a cena em que o narrador Ribamar de Sousa afirma ter sido o primeiro “a ver uma fêmea Numa”, vejo-me na eventualidade de buscar, uma vez mais, auxílio cognitivo em A água e os sonhos, de Gaston Bachelard, lembrando aqui que o filósofo francês, por seu turno, não se esquivou da busca de digressões metafísicas em outros pensadores. No capítulo II do livro anteriormente assinalado (AS ÁGUAS PROFUNDAS - AS ÁGUAS DORMENTES - AS ÁGUAS MORTAS), há uma citação de Nietzsche, retirada do livro Schopenhauer, página 33: “É preciso adivinhar o pintor para compreender a imagem” . Aproprio-me da citação nietzschiana, via Bachelard, para compreender este diferenciado parágrafo.
É preciso adivinhar o pintor para compreender a imagem, afirmou Nietzsche, e Bachelard referendou-o. E se Marie Bonaparte, endossada também por Gaston Bachelard, “descobriu” “a principal razão psicológica” da “tonalidade profunda do devaneio criador” dos contos de Edgard Alan Poe, porque não poderia agir da mesma forma, esta analista e ao mesmo tempo fenomenóloga tupiniquim, ao dialogar com este texto diferenciado do final do século XX? E por que não repensar também algumas idéias de Foucault, reveladas à França e ao mundo lá pelos idos dos anos de 1970, ainda atuantes por aqui, nestas plagas também tupiniquins, nestes anos iniciais do Terceiro Milênio.




quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

CHARTRES - DETALHE

FOTO R. SAMUEL

NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE


NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE
SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL


Como divindades do ar, matéria volátil esta que, no momento, está acasalada à água mítica, eterna, os Numas/Numes não têm como se alertarem da presença do narrador e não sentirão o peculiar e autêntico cheiro humano. Enquanto Numas/Numes voláteis permitem a elevação da imagem ficcional para o plano mítico, e vice-versa, recuperando assim conceitualmente a imagem inicial feminina. Por esta espiral interpretativa dos planos superpostos, não importa/não importará a forma de polarização sexual dos Numas/Numes. Seja na forma masculina ou feminina, o ato sexual/amoroso dos Numas/Numes torna-se mitificado, desrealizado, por intermédio do olhar de quem narra. Em verdade, os Numas são seres aéreos miticamente indefinidos.
Entretanto, foi o narrador-personagem Ribamar de Sousa, “o primeiro a ver uma fêmea Numa”. É verdade. Os ficcionistas anteriores, os considerados como verdadeiros criadores ficcionais, não ousaram infringir as leis dos pensamentos preconceituosos já instituídos, preservadores da hipocrisia familiar, esta, por sua vez, avessa à libertação de juízos formalizados a respeito de afinidade sexual entre indivíduos do mesmo sexo. E esses pensamentos institucionalizados, repressores, impediram, até ao final do século XX e do milênio, a exposição denotativa do assunto, mesmo que fosse pela forma ficcional.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

NOVA REIMPRESSÃO

NOVA REIMPRESSÃO

DIA 26/11/2014, SAIU MAIS UMA EDIÇÃO DO NOSSO "NOVO MANUAL DE TEORIA LITERÁRIA" - TRATA-SE DA 2ª REIMPRESSÃO DA 6ª EDIÇÃO QUE VENDEU EM MENOS DE UM ANO.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE


NEUZA MACHADO: O FOGO DA LABAREDA DA SERPENTE
SOBRE O AMANTE DAS AMAZONAS DE ROGEL SAMUEL

“Mas a vida é um caminho que de repente se bifurca” e este mesmo “rio” poderá ser revisto, fenomenologicamente, pelo ângulo da subjetividade “de um psiquismo acentuado”, como foi visto na obra de Edgar Alan Poe, por Gaston Bachelard, correndo “pesadamente, dolorosamente, misteriosamente”, também ele (o mesmo rio), “como um sangue maldito”, como um “sangue que transporta a morte”. E é importante assinalar, de antemão, que todos os rios amazonenses, nesta obra em especial, se revelarão como passagens para diversas mortes, inclusive, como referenciais dolorosos de mortes simbólicas, como, no final, a do narrador à moda antiga, tradicional, exemplar, contador de histórias apreciáveis e memoráveis (o primeiro narrador).
Mas, por enquanto, visto por este prisma interiorizado, este “rio” íntimo, particular, que banha os corpos sexualizados das duas indiazinhas Numas, poderá ser visto como “uma poética do drama e da dor”, à moda bachelardiana. A palavra “sangue”, colocada ali, no romance, sob aparência aleatória, também não é um “sangue feliz”. “É preciso, pois, inventar; é preciso apelar para o inconsciente”, urge dar forma ficcional confiável a essa dor que, no momento, está a atingir o narrador pós-modernista. A “água” e a cena do amor entre as indiazinhas Numas terão de ser “inventadas”, porque os Numas/Numes “não ficavam visíveis, às claras, de frente, nítidos” e só poderiam ser “difusamente entrevistos e só pressentidos na obliqüidade do olhar”.
E é exatamente esta “obliqüidade do olhar” que me permite, como leitora privilegiada, interagir com as camadas míticas, inseridas neste romance diferenciado. Penso que não está a faltar-me o sinal de valorização da palavra “sangue”, subentendida a partir do relacionamento amoroso das indiazinhas. Ali, o que se evidencia e que se valoriza é o mítico “sangue” da primitiva humanidade, um “sangue” originário, ímpar, sexualizado e andrógino, “movendo-se sempre” [nas artérias aquáticas], “movendo-se sempre nas igualmente imaginárias áreas do Rio Pique Yaco, do Rio Toro, e do além mais” , oriundos, todos esses rios, do Olimpo imensurável das Montanhas Andinas.




domingo, 14 de dezembro de 2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

COMO CURAR UMA DOENÇA INCURÁVEL

Metta A tradução: Vou fazer aquilo que penso ser a transcrição fiel da parte relevante do vídeo. Eu abaixo explico porque há partes que poderá não perceber respeitantes ao theravada e porque o inglês pode ser uma dificuldade. "From my experience I just use... like when I walk and I walk, when I sit down, and lay down, I just feel, like, the earth, the earth kasina and feel my body and my self part of the earth. And feel my body and my self part of the earth. And when it back to the earth and then when it take enough time underneath, time to feel back to the body but leave the... leave the, leave the liver behind. Just take the fresh thing, not the whole thingness, or something. And when Luang Phor Thiang (parece-me ser este o nome do mestre, mas não tenho a certeza)And when Luang Phor Thiang he healed cancer, the kidney cancer he said that he used... fire to burn it and then he used the wind, the air kasina to broke it out, something like that. so just do it nagain and again, more and more._And the white kasina?_The white kasina is also... it means purification so to purify things with the white. So it's also all about focusing, like you use the sunlight and what do you call it?_Magnifying glass._ Yeah to focus on something. So kasina practice use kasina you can use the devices to focus your mind on something strongly. So when Luang Phor Thiang (?) did that he has done it really well. And so he can stay I think more than 10 years." Então a explicação que espero ser fiel ao que o mestre ensinou. :) No theravada há objectos comuns para praticar a concentração como a respiração, ou a compaixão. Um dos tipos de objectos são os chamados kasinas. Por exemplo o kasina vermelho é um disco vermelho no qual se foca a atenção. Ou o kasina do elemento espaço/eter é um buraco numa parede com a forma de um disco. No caso deste vídeo, os kasinas são os do fogo (temperatura), da terra (solidez), do ar (tudo o que é gasoso) e da luz branca, se não me engano. Agora, kasina no contexto deste vídeo parece-me significar que o mestre usa a sua experiência com a concentração nestes elementos para tomar proveito das suas vantagens. Portanto este mestre quando anda, senta, ou deita-se sente a solidez do chão. Depois, quando se deita, "mergulha" na terra. Quando se sente a voltar, ele apenas tenta trazer de volta aquilo que é fresco, e não todo o corpo com a doença. O mestre de que ele fala, por outro lado, utilizou o elemento do fogo para queimar o cancro dos rins e depois usou o elemento do ar para "partir" ou expulsar-lo. Depois este monge fala de como a luz branca significa purificação. E também de que a eficácia destas práticas depende sobretudo da concentração. E neste caso, o tal mestre, por ter usado estas técnicas, vai ficar mais 10 anos. Em relação à parte do vídeo que não transcrevi, o monge descreve que uma prática excessiva da concentração, sem ter atenção ao insight, também pode ser uma forma de ficar estagnado. Resumidamente, foi isto. Lamento não ter percebido qual o nome do mestre. Ou é Luang Phor Chah, ou Luang Phor Thiang, ou Luang Phor Chang. Mas pelo que percebi é um dos disciplos de Ajahn Mun, o mestre de Ajahn Chah. Se precisar de referências sobre estas práticas eu posso fornecê-las. Não hesite em pedir. Metta Vou enviar dois manuais super famosos que descrevem, entre outras coisas, como praticar os kasinas formalmente. http://www.accesstoinsight.org/lib/authors/nanamoli/PathofPurification2011.pdf http://urbandharma.org/pdf1/Path_of_Freedom_Vimuttimagga.pdf