(continuação)
Entretanto, uma importante advertência devo aqui salientar: esta teoria não é bachelardiana como parece ser. Utilizo-me de alguns pensamentos de Bachelard, aproprio-me de algumas de suas idéias e estarei aqui em permanente diálogo com seus textos, mas o argumento que me orienta relaciona-se com a hermenêutica (a renovada hermenêutica do final do século XX e início do século XXI), proporcionando-me distinguir no texto alheio o reflexo de meus próprios conhecimentos. Por tais motivos, hermeneuticamente estarei dialogando com a filosofia de Bachelard, uma filosofia ligada à razão, à sabedoria, às origens do pensamento do homem e suas causas posteriores; uma orientação filosófica que tem por base uma fenomenologia que imerge na mais profunda raiz do pensamento ocidental. E, de certo modo, conscientemente poderei dizer que este é o meu Bachelard, isto é, tenho de Bachelard uma certa leitura e aproximação muito mais literária do que filosófica.
Restabelecendo um importante juízo de Bachelard, registrado em seu livro A DIALÉTICA DA DURAÇÃO, no qual admite a possibilidade de intervalos temporais propiciando o surgimento de obstáculos, desvios, impedimentos, que poderão ou não quebrar as cadeias causais (ou seja, entre causa e efeito há sempre uma intervenção de acontecimentos possíveis que não estão ligados ao dado causal), colocarei aqui em evidência meus pensamentos dialetizados, situando-os exatamente nesse plano de probabilidades. Este meu ponto de vista teórico-crítico, interagindo aqui com a filosofia bachelardiana, é uma teoria não-causal no plano da Arte, uma vez que estarei buscando novas argumentações críticas (transmutando pensamentos já avaliados, aspirando a uma renovação nos atuais estudos da literatura brasileira), próximas de nossa realidade cultural, objetivando desenvolver um intercâmbio de idéias comunitárias com nossos artistas literários.
Não estarei presa simplesmente à causa, mas interessada em ultrapassar os obstáculos, visando muito mais o que poderá surgir como novidade no âmbito da Teoria ou da Crítica Literária, neste início de Terceiro Milênio. Penso assim movimentar-me para um novo início teórico-crítico, que abarque a realidade literária da qual faço parte, como leitora-intérprete consciente da urgência de invenção de uma variante crítica autóctone que acompanhe a criação literária de nossos escritores. Uma teoria causal, objetivando um fim imediato, por ora, seria impossível, devido aos inevitáveis obstáculos, mas nada irá impedir-me de aventurar-me nas veredas das probabilidades quantificadas, probabilidades estas que darão conta posteriormente dos resultados que procuro obter.
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