A PANTERA 20.
ROGEL SAMUEL
Nossa vida com o tio Carlos foi divertida.
Contratei operários para pintar a casa, fizemos uma reforma rápida e finalmente consegui que viesse do Rio um afinador de piano.
Tínhamos empregados temporários que cuidavam da horta, dos jardins e da cozinha.
Um dia ele me disse, sentado na cadeira de embalo da varanda.
- Eu gostaria de rever Paris...
E depois de um tempo:
- Antes de morrer...
Eu já esperava que ele dissesse isso. Sabia o que ele queria dizer e que tinha umas economias, mas eu não queria acompanhá-lo, devido à minha situação política.
Mas prometi apoiá-lo.
Passei aqueles tempos ouvindo os discos de meu tio, principalmente A Paixão segundo Mateus de Bach, que meu tio tinha, em Long Play. Eu ouvia aquilo diariamente, como um ritual, e o velho aparelho de som com suas grandes caixas de som serviam para abrir nos espaços aquela música sublime.
Com o piano recuperado, limpo e afinado, pedi a meu tio que tocasse algo de Bach.
E assim vivíamos nós, de pura música.
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