O mar não tem tamanho, tem dimensão.
Rogel Samuel
Quem consegue entender? Pois disse Dugpa Rinpochê: "Constrói uma ilha para ti e para
aqueles a quem amas, um templo, uma fortaleza inexpugnável... mas deixa a tua porta aberta dia e noite".
Que a porta está aberta, da fortaleza inexpugnável, do castelo, do templo, da ilha.
A porta da ilha é o amplo mar, com suas algas e ilhas e vôo de gaivota.
Toda a vez que penso, que vejo o mar me lembro do poema de Sebastião Norões, que foi meu professor de geografia.
“Eu quero é o meu mar, o mar azul.
Essa incógnita de anil que se destrança
em ânsias de infinito e me circunda
em grave tom de inquietude langue.
O mar de quando eu era, não agora.
Quando as retinas fixavam tredas
a incompreensível mole líquida e convulsa.
E o pensamento convidava longes,
delimitava imprevisíveis rumos
viagens de herói e de mancebo guapo.
Quando as distâncias fomentavam sonhos.
Rebenta em mim essa aspersão tamanha
que a imagem imatura concebeu
de quando o mar era meu, o mar azul.”
O mar é isso, é a glória do espaço da liberdade, das ânsias de liberdade de voar, o mar antigo. O mar de Austrálias e de luzes. Viagens de Ulisses e de mancebos guapos, de heróis e de barcos bêbados de ondas. O mar dos azulejos de amestistas, o mar que era meu, o meu mar, o mar azul.
Nada mais belo do que isso: ser dono do mar, imaginar-se dono do mar. De quando o mar era meu, essa aspersão ampla e tamanha de tudo, essa viagem de longes, de langues, de anil e de esmeraldas balançantes.
O mar não tem tamanho, tem dimensão.
O mar é o amar.
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