A árvore da gentileza
Rogel Samuel
A velha árvore em frente à minha janela foi completa, correta, perfeita, extremamente gentil – ao desabar depois da tempestade não prejudicou ninguém.
Para não atrapalhar o trânsito caiu no meio-fio, para não amassar um carro segurou-se na fiação e galhos, para não por em risco a vida das pessoas não se agarrou no cabo de alta-tensão, não caiu sobre minha janela – foi perfeita, morreu heroicamente e nobre.
Nem sei quantos anos ela estava ali, belíssima, portentosa.
Vai fazer muita falta, para mim, para os pássaros e macaquinhos que por ela desciam.
Para homenageá-la no seu túmulo recitei:
As Árvores
Na celagem vermelha, que se banha
Da rutilante imolação do dia,
As árvores, ao longe, na montanha,
Retorcem-se espectrais à ventania.
Árvores negras, que visão estranha
Vos aterra? que horror vos arrepia?
Que pesadelo os troncos vos assanha,
Descabelando a vossa rumaria?
Tendes alma também... Amais o seio
Da terra; mas sonhais, como sonhamos,
Bracejais, como nós, no mesmo anseio...
Infelizes, no píncaro do monte,
(Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos
À esperança e ao mistério do horizonte.
(Olavo Bilac)
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