sábado, 3 de julho de 2010

Não basta abrir a janela


Não basta abrir a janela

Para ver os campos e o rio.

Não é bastante não ser cego

Para ver as árvores e as flores.

É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.

Há só cada um de nós, como uma cave.

Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;

E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,

Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.



Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos

2 comentários:

Jefferson Bessa disse...

Só abrir e ver como quem simplesmente vê. Alberto Caeiro diz em algum de seus versos: "a nossa única riqueza é ver". Vendo é que compreendemos o mundo. Toda filosofia e todas as ideias são uma doença.
Bela postagem, amigo!
Grande abraço.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

obrigado, grande poeta