terça-feira, 31 de agosto de 2010

PAPELITO




Os dirigentes da companhia San Esteban Minera, proprietária da mina de cobre de San José, cujo desmoronamento deixou soterrados 33 homens que sobrevivem a 700 metros de profundidade há mais de três semanas, foram chamados a responder pelo acidente perante um painel de deputados do Parlamento do Chile.
Memorial junto da estrada principal a caminho da mina de San José, onde os 33 mineiros estão presos (Ivan Alvarado/Reuters)

Os donos da empresa, Alejandro Bohn e Marcelo Kemeny, foram inquiridos sobre as condições e os procedimentos de segurança da mina, que tem um longo historial de irregularidades, falhas e acidentes fatais, o último a 11 de Julho, quando a queda descontrolada de rocha esmagou a perna de um mineiro.

“O país precisa de explicação para o facto de não terem sido respeitadas as obrigações impostas pelo Governo, nomeadamente uma série de medidas correctivas”, declarou antes do início da audiência o deputado Alejandro Garcia-Huidobro, que dirige o comité de segurança mineira criado pelo Executivo.

O sinistro originou o encerramento temporário da mina, próxima da localidade de Copiaco, a 500 quilómetros da capital Santiago. Mas essa não foi a primeira vez que um acidente forçou o fecho da mina: a empresa perdeu a licença e esteve parada mais de um ano, entre 2007 e 2008, depois de 16 pessoas terem morrido em acidentes.

A reabertura da mina, a 28 de Julho, foi assinada por um oficial do Ministério da Saúde, Raúl Martínez Guzmán, que esta terça-feirase demitiu. A rapidez com que a empresa foi autorizada a retomar a produção leva Garcia-Huidobro a suspeitar de suborno e corrupção. “Esta foi a única mina que reabriu sem ter sido feita uma inspecção depois da denúncia de irregularidades. Isso significa que foram feitas pressões”, concluiu, em declarações a uma rádio.

Salários por pagar

Entretanto, Bohn e Kemeny disseram que as investigações governamentais, as acções judiciais interpostas depois do acidente e a paragem da produção da mina de San José poderão levar a empresa a declarar falência – pondo em causa o pagamento dos salários e de possíveis indemnizações aos mineiros que ficaram soterrados.

Um juiz já ordenou o congelamento de 1,8 milhões de dólares de receitas como medida de prevenção e poderá exigir que os donos da mineira sejam impedidos de sair do Chile enquanto durar a investigação.

O sindicato que representa os mineiros pediu ao Governo para assumir as responsabilidades da empresa e garantir o pagamento dos salários aos trabalhadores. No entanto, o secretário de Estado do Trabalho, Bruno Abranda, explicou que “o Governo não pode, legalmente, substituir-se à empresa para pagar salários e outros benefícios”.

Os 33 homens presos no subsolo foram entretanto “realojados” numa outra cavidade a 200 metros do seu anterior refúgio, onde o grau de humidade não é tão elevado. Vários exibiam feridas cutâneas provocadas por fungos resultantes das altas temperaturas. O ministro da Saúde, Jaime Mañalich, garantiu que os sobreviventes estão sob rigorosa vigilância médica: todos os dias são controladas a pressão arterial, a temperatura e a circunferência abdominal de forma a calcular as doses de água, nutrientes e suplementos que lhes são enviados por sonda.

Os homens estão a receber vitamina B e ácido fólico em substituição de vinho – que é o produto por que mais têm reclamado, assim como tabaco. Muitos bebiam bastante, alguns serão alcoólicos. Em vez disso, têm ainda vídeos e PlayStations portáteis.


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