domingo, 12 de agosto de 2012

A Urca em aquarela

A Urca em aquarela

Livro propõe passeio pelos recantos e pela arquitetura do bairro carioca




Aquarela de Ivonesyo Ramos mostra o castelinho normando que fica na Avenida São Sebastião
Foto: Marco Antonio Rezende


Aquarela de Ivonesyo Ramos mostra o castelinho normando que fica na Avenida São Sebastião Marco Antonio Rezende
De carro, bicicleta ou a pé, não importa. Basta virar na Avenida Pasteur que o clima parece mudar. Ali, naquele pedacinho de Rio onde começa um dos mais charmosos bairros da cidade, a imponência dos prédios da UFRJ, do Instituto Benjamin Constant e do Museu da Ciência da Terra, em sequência, parece preparar o visitante (mesmo o carioca) para uma volta à tranquilidade passada. E ela começa logo adiante, assim que se vira à esquerda, na Rua Ramon Franco. É esse passeio pelas ruelas internas e avenidas à beira-mar da Urca que o arquiteto, artista plástico e morador do bairro Ivonesyo Ramos propõe no livro “Urca — água e cor por todos os lados”, que ele prepara com suas aquarelas de recantos bucólicos, prédios históricos e casinhas coloridas de estilos diversos.
Do castelinho normando da década de 1930, na Avenida São Sebastião, ao prédio do rei Roberto Carlos, na Avenida Portugal, passando pelas casas com inspiração no estilo português e os edifícios art déco, nada deve ficar de fora desse levantamento informal e colorido feito por Ramos. Ora detalhadas, ora abstratas, também estarão lá as paisagens famosas, com vistas diversas para o Pão de Açúcar e o mar, o Forte São João, a mureta e seus pescadores e bebedores do Bar Urca.
— Mas não pretendo ser didático. Quero passar as informações, nas imagens e no texto, com a mesma poesia que a Urca tem — conta Ivonesyo.
Para isso, o livro vai lembrar algumas das histórias que dão à Urca sua aura de encantamento à primeira vista. Uma delas, a construção do prédio do Cassino, em 1922, à beira-mar nos moldes europeus para abrigar o Hotel Balneário e mais tarde seus anos de glamour, decadência e polêmicas.
— Como morador, sei que o bairro tem problemas. Mas é impossível entrar aqui e não se encantar. Acho que isso acontece não só pela beleza natural do bairro, mas também por suas características urbanas como os muros baixinhos que parecem aumentar a rua e tiram da gente aquela sensação de enclausuramento comum em outros bairros da cidade — analisa o artista.
Privilégio só conquistado graças a uma briga comprada por seus moradores, que, em 1978, conseguiram que a cidade fizesse o seu primeiro projeto de estruturação urbana, o PEU 01. Em vigor até hoje, ele estabelece gabarito de cinco pavimentos nas áreas afastadas das divisas e de dois pavimentos nos terrenos com até 360 metros quadrados (maioria no bairro).
— Isso permitiu que a Urca se mantivesse bucólica — explica o arquiteto e professor da UFRJ Luiz Fernando Janot.
O predomínio do art déco nas antigas construções
Mas não impediu que as construções fossem sendo descaracterizadas ao longo dos anos, por reformas que não obedeciam às características de seus estilos originais. Com isso, o que se vê hoje, quase sempre, são casas com inspiração em determinados estilos. Os principais são o normando, com seus telhados pontudos e madeira aparente nas fachadas brancas; o chalé, com tijolos aparentes e telhados inclinados; e o português, com seu pé-direito baixo.
— Acho que só os edifícios art déco da década de 1930 resistiram. As outras construções foram sendo modificadas por seus proprietários, como os militares naquela parte mais próxima ao Forte, e pelos empresários, que, a partir da década de 1930, começaram a procurar o bairro, fugindo do crescimento de Copacabana — conclui Janot.
Foi naquela época, aliás, que o bairro — que nasceu no início da década de 1920 com o aterramento de parte da Baía de Guanabara, feito com parte da terra do desmonte do Morro do Castelo — começou a atrair os olhares da elite carioca de então. A expansão seguiu forte até 1950. Dez anos mais tarde, começaram a surgir os primeiros prédios, principalmente na região da Pasteur e do Quadrado da Urca, onde há até um exemplar modernista (hoje em reforma). Exatamente onde Ivonesyo vai terminar seu passeio via aquarela.

Nenhum comentário: