Livro elege 1.001 músicas essenciais no mundo
Escolhas suscitam debate sobre brasileiros escolhidos; João Gilberto e Tom Jobim estão entre selecionados
Jotabê Medeiros - O Estado de S. Paulo
Você colocaria Tem Espaço na Van, do Ed Motta, como uma das músicas fundamentais da nossa época? Ou Luz e Blues, do Olodum? Ou Só Tinha de Ser Com Você, com Fernanda Porto?
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Divulgação
'Corcovado', com Jobim e Sinatra, está na seleção
A novidade desta nova seleção de Dimery é que ele, ao final das 1.001 canções, faz uma nova lista de 10.001 músicas fundamentais para que as pessoas baixem e ouçam. As canções mencionadas no início desta reportagem estão nessa categoria. Basta uma pequena chacoalhada que a seleção vai sendo questionada até por quem está nela.
"Não me meto em escolha de ninguém; mas, pra contrariar, sugiro O Motobói e Maria Clara, do disco Tropicália Lixo Lógico (2012)", brincou Tom Zé, que teve Desafio (dele e de Gilberto Assis, do disco Jogos de Armar, 2003) selecionada.
"Fico feliz que tenha uma música minha. A letra é do Seu
Jorge", disse Ed Motta, que, se pudesse escolher, também preferiria
outra: Outono No Rio. "Musicalmente escolheria qualquer uma dos meus discos Dwitza e Aystelum, ou do musical 7, até agora o melhor que eu fiz".
Na lista das 1.001 canções essenciais, os brasileiros são os clássicos: Jorge Benjor (Taj Mahal), Tom Jobim e Elis Regina (Águas de Março), Mutantes (Minha Menina), João Gilberto (The Girl from Ipanema, com Stan Getz) e Tom Jobim (Corcovado, com Frank Sinatra).Mas houve pelo menos uma zebra: Let’s Make Love and Listen to Death from Above, do grupo paulistano Cansei de Ser Sexy, está entre as escolhidas. "Pegue cinco mulheres bacanas, incluindo a exuberante cantora que veste collant, Lovefoxxx, e um homem com vários talentos e o que você tem? O sexteto brasileiro Cansei de Ser Sexy, cujo nome deriva de uma frase atribuída a Beyoncé", escreve a londrina Olivia McLearon, escritora obcecada por Madonna.
Entre as regras da seleção está a escolha de músicas que tenham letras (excluindo-se assim as instrumentais) e que abranjam boa parte do século 20. "Essas músicas mudaram o mundo", defende o organizador, Robert Dimery, autor de diversos livros e colaborador de publicações como Time Out e Vogue. "A escolha se provou um trabalho hercúleo, com as listas sendo constantemente modificadas, músicas obscuras dando lugar a seleções mais populares, e vice-versa, e naturalmente, mais debates acalorados."
Em 2007, quando do lançamento de 1001 Discos, Dimery falou com exclusividade ao Estado. Disse acreditar que a noção de álbum, colocada em xeque pelo comércio de música digital, ainda era importante. "Acho que esse lado da coisa não vai desaparecer - basicamente, as pessoas querem baixar música barata e colocar nos seus iPods e muitos deles não estão preocupadas com a embalagem. O que, no meu modo quadrado e fora de moda de ver as coisas, é uma vergonha".
Mas, três anos depois, já aderia ao download publicando este 1001 Songs You Must Hear Before You Die: And 10.001 You Must Download, em 2010. Nesse trabalho, contou com prefácio do colecionador, produtor e músico Tony Visconti, que sugere em seu texto: "Você realmente deve comprar, roubar, baixar ou pedir emprestadas as 1.001 músicas recomendadas neste livro. Não sei se conseguirei fazer isso um dia, mas, como o título sugere, morrerei tentando".
Embora precioso do ponto de vista do auxílio historiográfico, o trabalho de Dimery não se pretende de rigor científico. Nessa seleção nova, por exemplo, ele acrescenta um símbolo nas resenhas (uma seta indicativa) que revela que aquela música em questão foi "influenciada" por uma outra. "Entenda essa parte do livro como uma divertida especulação que sugere uma herança musical comum entre essas duas músicas".
Ao descrever Taj Mahal, de Jorge Benjor (do álbum Ben, de 1972), o crítico lembra que foi esse riff de guitarra que formou a base de Da Ya Think I’m Sexy?, de Rod Stewart. A atitude de Dimery é simplesmente a de um apreciador da música - que tem a pretensão de não ter preconceitos. "Acredito na preservação da identidade musical das diferentes culturas, e não gosto de música que abandona completamente suas raízes". O leitor vai encontrar de O Sole Mio, de Caruso (da primeira década do século), a Time to Pretend, do MGMT (2008).
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