segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Juiz decide que arquivo de Kafka deve se tornar público

Juiz decide que arquivo de Kafka deve se tornar público

Grande coleção de cartas e manuscritos era disputada entre Biblioteca de Israel e duas irmãs


O escritor Franz Kafka
Foto: Reprodução
O escritor Franz Kafka Reprodução
JERUSALÉM — Após uma longa jornada que poderia ter sido escrita pelo próprio Franz Kafka, um tesouro desconhecido do autor surrealista deverá se tornar público, de acordo com a decisão de uma corte israelense revelada nesta segunda-feira. A posse dos textos era disputada entre a Biblioteca Nacional de Israel e duas irmãs, que herdaram a vasta coleção de raros documentos da mãe e insistia em mantê-los privados.
A decisão tomada sexta-feira pela Corte de Família de Tel Aviv ordena que a coleção seja transferida para a biblioteca em Jerusalém, de acordo com o desejo expresso por Max Brod, amigo próximo de Kafka, em seu testamento. A coleção de papéis incluíria o diário pessoal de Brod e escritos de Kafka, incluindo a correspondência que os dois mantinham, o que poderia esclarecer as influências de um dos mais influentes autores do século XX.
Kafka, um judeu de Praga que escrevia em alemão, é conhecido por seus contos sombrios com toques de surrealismo. Seus trabalhos se tornaram clássicos, entre eles “A metamorfose”, no qual um vendedor acorda transformado em um grande inseto, e “O processo”, no qual um bancário passa por um julgamento sem nunca saber quais acusações pesam contra ele.
Kafka entregou os papéis a Brod pouco antes de morrer de turberculose, em 1924, com instruções para que o amigo queimasse tudo sem ler. Brod, no entanto, decidiu publicar boa parte do material, que incluía os livros “O processo”, “O castelo” e “Amerika”, e levou o resto consigo quando fugiu de Praga para Tel Aviv, em 1939.
Quando Brod morreu, em 1968, deixou para sua secretária, Esther Hoffe, todos os seus escritos, e também os de Kafka. O material ficou guardado no apartamento de Hoffe em Tel Aviv, onde um especialista pôde examiná-lo nos anos 1980. Em 1988, ela vendeu uma manuscrito de “O processo” por US$ 2 milhões. Ela morreu em 2007, deixando os papéis de herança para as filhas.
O Arquivo Nacional da Alemanha não tomou parte do julgamento, mas apoiava o desejo das irmãs, com a esperança de comprar os papéis, que eles afirmam pertencer ao país europeu. Ulrich Raulff, diretor do Arquivo, afirma que o interesse nos textos é muito grande, pois eles provavelmente revelerão muito sobre anos da vida de Kafka sobre os quais sabe-se muito pouco.
“Espero que a Biblioteca Nacional de Israel dê acesso livre ao material o mais rápido possível”, disse ele, “Pesquisadores esperam por esses textos há muitos anos.”
Aviad Stollman, curador de coleções judaicas da Biblioteca Nacional, afirma que a maior parte dos manuscritos é de Brod, não Kafka, mas ainda assim contêm imenso valor para pesquisadores.
“Por décadas esses manuscritos permaneceram escondidos e agora podemos exibi-los e preservá-los de maneira adequada”, disse ele, “São 40 mil páginas, uma quantidade imensa. Quem gosta de Kafka encontrará sua assinatura... Esperamos disponibilizar o material na internet em breve.”
A decisão determina que as irmãs terão direiro a receber royalties por qualquer publicação futura dos documentos.

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