DIÁRIO SECRETO
Rogel Samuel
Li com sofreguidão, com entusiasmo, querendo que o
livro de 384 páginas não acabasse, o primeiro volume de “Diário secreto” de
Humberto de Campos, livro admirável, empolgante, bem escrito, retrato de uma
época, com páginas antológicas sobre a vida cultural da cidade, só comparável
com os Jornais de Ascendino Leite que os li todos.
O meu volume está em frangalhos, rasgada a capa,
amareladas as páginas e quase soltas... mas qual o quê! O estilho é moderno e
ágil, e é incrível como um escritor da geração posterior a de Rui Barbosa, de
Euclides da Cunha, de Coelho Neto possa escrever tão plasticamente moderno, sem
floreados acadêmicos.
Estou esperando a vinda do segundo volume, que já
encomendei a um sebo.
Por que este livro foi tão amaldiçoado?
Creio que porque faz críticas (e profundas) à
Academia Brasileira de Letras, para Humberto uma instituição em decadência.
Humberto veio pobre para Rio, autodidata, e tornou-se
o escritor mais popular de sua época.
Vendia muitíssimo!
Vivia do que escrevia, até tornar-se deputado.
A vida política e intelectual do Brasil aparece no
seu livro.
O site da ABL fala mal dele, vinga-se.
Grande amigo de Coelho Neto e Bilac, o leitor de
Humberto convive com todos os problemas de Neto e do poeta.
Interessante, ou estranho, é que hoje ninguém mais
lê Humberto de Campos, e seus livros só se encontram nos Sebos.
Como é vã a glória literária! Como passa tão rápido
tudo quanto passa!
Humberto era ateu, doente, trabalhou como simples
balconista, morou mal, passou necessidades, não estudou, e morreu pobre e cego.
Escreveu dezenas de livros. Era famoso no Brasil todo e no exterior. Conviveu
com autoridades e Presidentes da República.
Para mim, até agora, seu Diário, escrito ao longo
da vida, é sua obra-prima.
Mas ele escreveu dezenas de livros.
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