O CORAÇÃO DAS TREVAS
ROGEL SAMUEL
Em «O coração das trevas», de Conrad, há uma extraordinária cena em que um navio de guerra francês bombardeia a costa africana. Nada havia lá, no continente africano: «não havia uma única choça à vista, e no entanto o navio estava bombardeando o litoral». Na realidade, estava o navio bombardeando a África!
Nada havia lá, no continente africano: «não havia uma única choça à vista, e no entanto o navio estava bombardeando o litoral».
Na realidade, estava o navio bombardeando a África!
«Heart of darkness» inspirou um dos melhores filmes de Francis Ford Coppola, «Apocalypse now».
Gosto tanto deste filme que o possuo em VHS, revendo-o periodicamente. Nele inclusive há uma das melhores aparições de Marlon Brando, interpretando o Coronel Kurtz. O som, a fotografia e o ator coadjuvante Robert Duvall ganharam Oscar. O filme recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Sou herdeiro da guerra do Vietnã. Explico-me melhor: passei a juventude lendo, diariamente, pelo Correio da Manhã, as notícias da guerra. Além dos comentários de Otto Maria Carpeaux a respeito.
Tenho até, na gaveta, esquecida entre os escritos esquecidos, uma novela cujo pano de fundo é aquela guerra e mais a nossa guerra intestina, a nossa ditadura militar.
* * *
É o que nos lembra os ataques diários ao Governo e ao PT por parte da grande mídia no último mês.
«Bum, fazia um dos canhões de seis polegadas, e uma chamazinha brilhava rápida e se extinguia, uma fumacinha branca se desvanecia no ar, um minúsculo projétil silvava debilmente... e nada acontecia».
Aquelas balas não poderiam pulverizar todo o continente africano, mas o estavam castigando!
O inimigo era a própria existência da África.
O espetáculo sinistro, entretanto, revela uma coisa: hoje a África está destruída.
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