O CORAÇÃO DAS TREVAS
ROGEL SAMUEL
Em «O coração das trevas», de Conrad, há uma extraordinária cena em que um navio de guerra francês bombardeia a costa africana. Nada havia lá, no continente africano: «não havia uma única choça à vista, e no entanto o navio estava bombardeando o litoral». Na realidade, estava o navio bombardeando a África!
Em «O coração das trevas», de Conrad, há uma extraordinária cena em que um navio de guerra francês bombardeia a costa africana.
Nada havia lá, no continente africano: «não havia uma única choça à vista, e no entanto o navio estava bombardeando o litoral».
Na realidade, estava o navio bombardeando a África!
O espetáculo desta sinistra e singular cena reside no fato de um país europeu rico, de um país do primeiro mundo, militarmente poderoso, estar ali, descarregando seus «longos canhões de seis polegadas», sobre o solo africano.
Isso me lembra que meu falecido pai contava que, do alto de seus navios ao longo do Rio Amazonas, os ingleses se exercitavam no tiro ao alvo matando os jacarés ao sol sobre as praias.
Ou pior ainda: Num dos inúmeros livros que pesquisei, para escrever meu «O amante das amazonas» (Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 2005) deparei com a horrorosa descrição de um grupo de senhores europeus disparando suas Winchesters sobre as crianças, indiozinhos que tinham vindo à margem do rio curiosos à passagem do grande e belo navio, «destampando as cabecinhas a tiros»!
Mas em «Heart of darkness» de Joseph Conrad o poderoso vaso de guerra tinha ancorado perto da costa e «ali estava ele, incompreensivelmente, em meio àquela imensa e vazia extensão de água, céu e terra, dando tiros para o continente».
«Heart of darkness» inspirou um dos melhores filmes de Francis Ford Coppola, «Apocalypse now».
Gosto tanto deste filme que o possuo em VHS, revendo-o periodicamente. Nele inclusive há uma das melhores aparições de Marlon Brando, interpretando o Coronel Kurtz. O som, a fotografia e o ator coadjuvante Robert Duvall ganharam Oscar. O filme recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Sou herdeiro da guerra do Vietnã. Explico-me melhor: passei a juventude lendo, diariamente, pelo Correio da Manhã, as notícias da guerra. Além dos comentários de Otto Maria Carpeaux a respeito.
Tenho até, na gaveta, esquecida entre os escritos esquecidos, uma novela cujo pano de fundo é aquela guerra e mais a nossa guerra intestina, a nossa ditadura militar.
* * *
É o que nos lembra os ataques diários ao Governo e ao PT por parte da grande mídia no último mês.
«Bum, fazia um dos canhões de seis polegadas, e uma chamazinha brilhava rápida e se extinguia, uma fumacinha branca se desvanecia no ar, um minúsculo projétil silvava debilmente... e nada acontecia».
Aquelas balas não poderiam pulverizar todo o continente africano, mas o estavam castigando!
O inimigo era a própria existência da África.
O espetáculo sinistro, entretanto, revela uma coisa: hoje a África está destruída.
Nada havia lá, no continente africano: «não havia uma única choça à vista, e no entanto o navio estava bombardeando o litoral».
Na realidade, estava o navio bombardeando a África!
«Heart of darkness» inspirou um dos melhores filmes de Francis Ford Coppola, «Apocalypse now».
Gosto tanto deste filme que o possuo em VHS, revendo-o periodicamente. Nele inclusive há uma das melhores aparições de Marlon Brando, interpretando o Coronel Kurtz. O som, a fotografia e o ator coadjuvante Robert Duvall ganharam Oscar. O filme recebeu a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Sou herdeiro da guerra do Vietnã. Explico-me melhor: passei a juventude lendo, diariamente, pelo Correio da Manhã, as notícias da guerra. Além dos comentários de Otto Maria Carpeaux a respeito.
Tenho até, na gaveta, esquecida entre os escritos esquecidos, uma novela cujo pano de fundo é aquela guerra e mais a nossa guerra intestina, a nossa ditadura militar.
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É o que nos lembra os ataques diários ao Governo e ao PT por parte da grande mídia no último mês.
«Bum, fazia um dos canhões de seis polegadas, e uma chamazinha brilhava rápida e se extinguia, uma fumacinha branca se desvanecia no ar, um minúsculo projétil silvava debilmente... e nada acontecia».
Aquelas balas não poderiam pulverizar todo o continente africano, mas o estavam castigando!
O inimigo era a própria existência da África.
O espetáculo sinistro, entretanto, revela uma coisa: hoje a África está destruída.
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