Uma coleção de raridades
Acervo da fundação cearense Edson Queiroz, em exposição em Fortaleza, rivaliza com obras dos melhores museus
13 de junho de 2013 |
Antonio Gonçalves Filho - O Estado de S.
Paulo
FORTALEZA - A ação colecionista do empresário cearense Airton Queiroz,
chanceler da Universidade de Fortaleza (Unifor), já foi comparada pelo crítico
capixaba Paulo Herkenhoff à seleção rigorosa de alguns museus de São Paulo e ao
Instituto Cultural Inhotim, em Minas Gerais. Não é exagero. O presidente da
Fundação Edson Queiroz reuniu ao longo dos últimos 30 anos um acervo que cobre
grande parte da história da arte acadêmica, moderna e contemporânea brasileira,
de Almeida Júnior a Tunga, passando por Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Segall,
Goeldi, Pancetti, Guignard, Portinari, Volpi, Antonio Bandeira, Ivan Serpa,
Lygia Clark, Antonio Dias, Sergio Camargo, Mira Schendel e Ana Maria Maiolino,
entre outros. Em comemoração aos 40 anos da Unifor, a universidade abriga a
exposição Trajetórias, com 250 obras desses artistas, que tem como
curadores Paulo Herkenhoff e Marcelo Campos. A mostra deverá ser montada também
em São Paulo, na Pinacoteca do Estado, em data ainda não definida.
Entre as universidades brasileiras, o acervo da Unifor, segundo Herkenhoff, só é superado por dois museus de universidades públicas, o D. João VI da UFRJ e o MAC/USP. No entanto, quando Airton Queiroz comprou sua primeira obra, um tríptico do pintor cearense Antonio Bandeira (1922-1967), pioneiro do abstracionismo informal no Brasil, o chanceler não havia sequer definido qual seria o foco de sua coleção – concentrada em torno da obra dos modernistas brasileiros. Há na mostra peças antológicas de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Ismael Nery e Brecheret, além de alguns dos melhores óleos de Di Cavalcanti, Guignard e Ernesto De Fiori, também representado por vigorosas esculturas na coleção.
O tempo cuidou de fazer desse acervo uma referência histórica da evolução da arte brasileira, desde os pré-modernistas do século 19 (Castagneto, Parreiras) até contemporâneos como Elizabeth Jobim e Adriana Varejão, representadas no segmento definido pelo curador como "geometria líquida". Uma coleção assim orgânica não poderia ficar limitada. Em busca dos antecedentes do modernismo, Airton Queiroz volta agora sua atenção aos pintores viajantes, investindo em nomes como Rugendas, Taunay e Frans Post, após ter adquirido acadêmicos que renovaram a paisagem brasileira com olhar estrangeiro, caso do italiano Eliseu Visconti.
"Aos 50 anos me dei de presente um Frans Post", conta o chanceler, filho do empresário cearense Edson Queiroz (1925-1982), fundador de um dos maiores conglomerados do País, que começou com a distribuição de gás butano e hoje gera 14 mil empregos em setores como metalurgia e linha branca, distribuição de água mineral, educação e agropecuária. O Frans Post da coleção particular de Airton Queiroz é uma vista de Olinda no século 17. Preocupado em fazer do acervo da fundação que leva o nome de seu pai uma coleção de cunho pedagógico, que ensine a história do Brasil e da arte brasileira por meio da obra de grandes artistas, ele tem investindo pesado para ter peças de referência na coleção. O Abaporu de Tarsila, ícone do movimento modernista, passou por suas mãos dois anos antes de ser finalmente comprado, em 1995, pelo empresário argentino Eduardo Costantini, fundador do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires). "O Abaporu ficou dois dias lá em casa, mas não é a única lacuna da coleção, que precisa ainda ter os pintores viajantes e mais representantes do construtivismo."
A falta do Abaporu, o "canibal" pintado por Tarsila em 1928, é compensada por dois ícones do acervo da fundação, escolhidos pelo próprio empresário, Homem de Chapéu (1945), um pequeno (38 x 46 cm) grande quadro híbrido de Portinari, e o excepcional Amigas (1913) de Segall, óleo produzido pelo pintor de origem lituana no mesmo ano em que realizou sua primeira individual no Brasil, introduzindo aqui o expressionismo europeu. A tela, reproduzida na capa do catálogo da exposição Trajetórias, é representativa do período inicial do pintor em Dresden e foi emprestada pela fundação brasileira, no ano passado, ao museu da cidade alemã.
Um dos pontos altos da exposição é o segmento dedicado a Volpi (1896-1988). A coleção tem um dos mais preciosos exemplares dos anos 1940, quando o pintor italiano trocou o óleo pela têmpera. Casario do Cambuci é um dos derradeiros exemplos em óleo do mestre. Na sala dedicada ao artista, que tem 28 pinturas, os demais trabalhos são em têmpera, representando praticamente todos os períodos de sua produção brasileira, dos anos 1940 aos anos 1970.
Para compensar a grande ausência no Brasil da coleção dos concretos do empresário paulista Adolpho Leirner, vendida em 2007 ao Museu de Belas Artes de Houston, no Texas, o acervo concretista da Fundação Edson Queiroz está crescendo. O chanceler Airton Queiroz começou a comprar arte concreta há cinco anos e já tem um número considerável de bons artistas concretos e neoconcretos, entre eles Amilcar de Castro, Geraldo de Barros, Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Luiz Sacilotto e Willys de Castro. Os interessados em ver a coleção têm até 8 de dezembro para conferir a mostra, no Espaço Cultural Unifor, no câmpus da universidade em Fortaleza. Ou esperar que ela chegue a São Paulo, possivelmente em 2014.
Entre as universidades brasileiras, o acervo da Unifor, segundo Herkenhoff, só é superado por dois museus de universidades públicas, o D. João VI da UFRJ e o MAC/USP. No entanto, quando Airton Queiroz comprou sua primeira obra, um tríptico do pintor cearense Antonio Bandeira (1922-1967), pioneiro do abstracionismo informal no Brasil, o chanceler não havia sequer definido qual seria o foco de sua coleção – concentrada em torno da obra dos modernistas brasileiros. Há na mostra peças antológicas de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Ismael Nery e Brecheret, além de alguns dos melhores óleos de Di Cavalcanti, Guignard e Ernesto De Fiori, também representado por vigorosas esculturas na coleção.
O tempo cuidou de fazer desse acervo uma referência histórica da evolução da arte brasileira, desde os pré-modernistas do século 19 (Castagneto, Parreiras) até contemporâneos como Elizabeth Jobim e Adriana Varejão, representadas no segmento definido pelo curador como "geometria líquida". Uma coleção assim orgânica não poderia ficar limitada. Em busca dos antecedentes do modernismo, Airton Queiroz volta agora sua atenção aos pintores viajantes, investindo em nomes como Rugendas, Taunay e Frans Post, após ter adquirido acadêmicos que renovaram a paisagem brasileira com olhar estrangeiro, caso do italiano Eliseu Visconti.
"Aos 50 anos me dei de presente um Frans Post", conta o chanceler, filho do empresário cearense Edson Queiroz (1925-1982), fundador de um dos maiores conglomerados do País, que começou com a distribuição de gás butano e hoje gera 14 mil empregos em setores como metalurgia e linha branca, distribuição de água mineral, educação e agropecuária. O Frans Post da coleção particular de Airton Queiroz é uma vista de Olinda no século 17. Preocupado em fazer do acervo da fundação que leva o nome de seu pai uma coleção de cunho pedagógico, que ensine a história do Brasil e da arte brasileira por meio da obra de grandes artistas, ele tem investindo pesado para ter peças de referência na coleção. O Abaporu de Tarsila, ícone do movimento modernista, passou por suas mãos dois anos antes de ser finalmente comprado, em 1995, pelo empresário argentino Eduardo Costantini, fundador do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires). "O Abaporu ficou dois dias lá em casa, mas não é a única lacuna da coleção, que precisa ainda ter os pintores viajantes e mais representantes do construtivismo."
A falta do Abaporu, o "canibal" pintado por Tarsila em 1928, é compensada por dois ícones do acervo da fundação, escolhidos pelo próprio empresário, Homem de Chapéu (1945), um pequeno (38 x 46 cm) grande quadro híbrido de Portinari, e o excepcional Amigas (1913) de Segall, óleo produzido pelo pintor de origem lituana no mesmo ano em que realizou sua primeira individual no Brasil, introduzindo aqui o expressionismo europeu. A tela, reproduzida na capa do catálogo da exposição Trajetórias, é representativa do período inicial do pintor em Dresden e foi emprestada pela fundação brasileira, no ano passado, ao museu da cidade alemã.
Um dos pontos altos da exposição é o segmento dedicado a Volpi (1896-1988). A coleção tem um dos mais preciosos exemplares dos anos 1940, quando o pintor italiano trocou o óleo pela têmpera. Casario do Cambuci é um dos derradeiros exemplos em óleo do mestre. Na sala dedicada ao artista, que tem 28 pinturas, os demais trabalhos são em têmpera, representando praticamente todos os períodos de sua produção brasileira, dos anos 1940 aos anos 1970.
Para compensar a grande ausência no Brasil da coleção dos concretos do empresário paulista Adolpho Leirner, vendida em 2007 ao Museu de Belas Artes de Houston, no Texas, o acervo concretista da Fundação Edson Queiroz está crescendo. O chanceler Airton Queiroz começou a comprar arte concreta há cinco anos e já tem um número considerável de bons artistas concretos e neoconcretos, entre eles Amilcar de Castro, Geraldo de Barros, Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Luiz Sacilotto e Willys de Castro. Os interessados em ver a coleção têm até 8 de dezembro para conferir a mostra, no Espaço Cultural Unifor, no câmpus da universidade em Fortaleza. Ou esperar que ela chegue a São Paulo, possivelmente em 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário