sábado, 14 de fevereiro de 2009

Quando a lua é negra




Quando a lua é negra


Rogel Samuel


Em "Lua Negra", Márcia Sanchez Luz nos dá um poema anti-lírico, ou melhor, um soneto que é o negativo do sentido clássico de lua. É a foice, o unicórnio, o buraco negro,
inatingível, perigoso, que atrai, a solidão inacessível, o vazio, o elemento denso,
mas extremo, o fascínio, mas aniquilamento, o venenoso remédio da cura, o nefasto da
ferida, mas cuja dor nos fascina e ensina - sem esta lua o amor não existe, não atrai, não nasce. A lua negra é o lado escuro da alma, ou Lilith, o lado distante e obscuro da lua, perigoso, a lua bruxa, um buraco no Universo.

Na realidade ela é a anti-lua, sua parte sombria, por isso mesmo dissabor, descompasso e amor.


Amo demais que até ferida brota
na cálida, escondida lua negra
dos meus delírios (dor que desintegra
calma desnuda em chuva de gaivota).

Os olhos choram mares, geram grotas,
fabricam densa nuvem que se integra
ao corpo equivocado pela entrega
sofrida num adeus desfeito em gotas.

Amo demais, eu sei, mas o que faço
se de outro jeito não conheço o amor?
A minha sina é nunca combater

o que me atrai e gera descompasso.
Se por um lado existe o dissabor,
tenho da vida a flor que vi nascer.

© Márcia Sanchez Luz

17 comentários:

Jefferson Bessa disse...

Quando se faz da luz o lado negro do homem, o dissabor e a resitência persistem na alma! Abraços.

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Rogel Samuel, fez um discurso perfeito a respeito
deste belíssimo soneto de Márcia "Quando a lua é negra" ,
eu ainda acrescentaria um pouco de "alquimia" em Márcia nestes versos,
uma vez que ela faz exatamente o inverso do que todos escrevem sobre o grande Luar.
Meus cumprimentos a você Samuel, e a ela, com admiração,
Efigênia Coutinho
ps"deixo um convite para visitarem meu novo espaço,
como tenho mais de um, é o que deixo o Link aqui.
http://efigeniacoutinhopoesias.blogspot.com/

Unknown disse...

Um poema perfeito com um comentário que o deixa acima de todas as luas. Num patamar de muita LUZ.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

AGRADEÇO SENSIBILIZADO AOS TRES COMENTARIOS. O POEMA OS MOBILIZA!
R. SAMUEL

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

AGRADEÇO SENSIBILIZADO AOS TRES COMENTARIOS. O POEMA OS MOBILIZA!
R. SAMUEL

Daufen Bach disse...

Roger Samuel,

O soneto da Márcia por si só já é uma obra de arte, acompanhado pela tua crítica, ganhou a dimensaõ exata, perfeita...

Parabéns a vocês dois.

Grande Abraço.

daufen bach.

Jefferson Bessa disse...

Eu que agradeço, Rogel, pelo espaço onde podemos aprender e debater. Ainda existe a arte - que é o caminho mais flexível para podermos trocarmos idéias. Com respeito. Abraços de Jefferson.

Márcia Sanchez Luz disse...

Rogel, sua crítica me deixa por demais emocionada! Sua leitura, carregada de compreensão afetiva e cognitiva, dá uma dimensão especial ao soneto.
Obrigada pela generosidade de suas palavras e por seu gesto de carinho.

Um beijo,

Márcia

Márcia Sanchez Luz disse...

Jefferson, Efigênia, Antonio, Daufen...

Puxa! Estou comovida com tamanho carinho! Vocês moram no meu coração!
Obrigada, mil vezes obrigada pela gentileza da visita e pela doçura de seus comentários.

Beijos em seus corações,

Márcia

Dalton França disse...

Rogel, sua leitura transpõe os lados escuro, obscuros e profundos de uma alma atormentada, poeticamente desenhados pela autora. E você faz isso com intensa percepção do imenso lirismo que Márcia imprime em sua obra. Parabéns!

Marco Bastos disse...

Boa noite, Márcia.
Já me cansei de tanto amor cantado de outro jeito. De amor em luar desfeito, da poesia sem respeito ao profundo amor contraditório. O mundo nunca foi tão cor-de-rosa, a rosa nunca foi amor-perfeito. A vida respira o ar do tempo e o amor vai ganhando densidade. A lua me espreita e sabe em mim do claro-escuro. A semente que cai em solo duro, gera e germina quando termina a primavera. A Lua vai brilhar eternamente - a face clara é a neblina do evidente, a face escura só ilumina quem procura...

Obrigado mais uma vez por me mostrar o seu poema que inspira as palavras sábias do Rogel Samuel. Para mim é sempre satisfação ler aqui os dois poetas e lhes deixo os parabéns.
abraços.
Marco.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

AMIGOS E AMIGAS DA POESIA, O COMENTÁRIO EXCLUÍDO ERA MEU MESMO, POIS FALTAVA UM "S" NA CONCORDÂNCIA DOS "COMENTÁRIOS". FICO FELIZ EM VER QUANTOS LEITORES O POEMA TEVE, POIS É DE DIFÍCIL COMPREENSÃO. REVELA O ALTO NÍVEL QUE ALCANÇOU O SONETO.

Chris Herrmann disse...

Gostei demais, Rogel, da sua análise ao poema da Márcia. É mesmo um poema anti-lua, mas igualmente encantador sem esconder a real beleza dela que reside nos contrastes... no fascínio do desconhecido, do medo, da dor...

Grande abraço aos dois.

Chris Herrmann

Cordel disse...

"Quando a lua é negra",introspecta:
Rogel Samuel expressa com maestria.
Lilith de noite-a-dia, desluna nua:
Para além da lunárida fantasia...
Obscura,des.compassa notí.vaga:
Bruxoleia,des.encanta caosmologia.

Gustavo Dourado
www.gustavodourado.com.br

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Em "Lua Negra", Márcia Sanchez Luz nos dá um poema anti-lírico, ou melhor, um soneto que é o negativo do sentido clássico de lua.

RETORNANDO AO SEU COMENTÁRIO:

Macia ousou ao gênero de poesia consagrando à expressão dos sentimentos da alma duma poeta sentimental, que encontra na negra lua, toda a sua magia de sua lira poética. Novamente cumprimentos vocês dois,
Efigênia Coutinho

Tania Montandon disse...

Muito lindo e profundo, fazendo do vazio inevítável a n´s imposto fonte de tradução na língua poética do que há de produtivo disso que angustia.

beijos