segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Veio d'água










Veio d'água


Rogel Samuel



O poema de Álvaro Maia é muito ecológico, amazônico, sonoro, sincopado, belo. Sua
póetica é muito boa, ainda que antiga, pouco importa. Álvaro Maia (1893-1969) era um poeta "pós-moderno", ou seja, nos anos 20 e 30 escreveu sonetos parnasianos e até poemas românticos, de uma sonoridade antiquada, desusada. Por isso os pseudo-crtíticos de sua terra o desprezam, ainda que seja valorizada a sua ficção, que é inferior. Leiamos este "Veio dágua", onde se ouve o líquido puro entre recantos escondidos no coração da selva escura, a alma da terra. E ao toque é água fria, sonoras águas. Só quem conheceu esses veios dágua dentro da floresta amazônica pode avaliar a maravilhosa saudade daqueles tempos.



VEIO D'AGUA



Gosto de ouvir-te, veio de agua pura,
recortando os recantos escondidos
de soluços, de vozes, de arruidos,
entre hinos de alegria e de amargura ...
Choras no coração da selva escura
a saudade dos trilhos percorridos,
e ao teu pranto, lembrando os tempos idos,
a verde alma da terra se mistura ...
És calmo e frio em fases diferentes,
ora na rude angustia das vazantes,
ora no desespero das enchentes ...
E, corda de harpa rebentando em festas,
ergues ao ceu, em notas delirantes,
a epopeia convulsa das florestas ...

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