terça-feira, 12 de maio de 2009

As flores do mal de Maria Azenha



Rogel Samuel

Maria Azenha vai pelas oblíquas montanhas onde as mulheres desenham com os dedos os rostos muçulmanos velados escondidos falidos mulheres em terror elas não se querem mostrar e se escondem como freiras absurdas que dizem "nao ria"... Azenha deu voz a essas mulheres mudas veladas cansadas de sofrer cansadas de morrer...


AS FLORES DO MAL


Maria Azenha



pelas montanhas oblíquas
desenham as mulheres
o rosto com os dedos
rostos sempre tapados
para o terror dos vivos
não sei se elas se mostram
o que ao mundo querem dizer
freiras absurdas do vento e do medo
murmuram: “irmão, não deves rir”
não sei se elas se mostram
não sei se elas vão ser
não sei se elas agora choram
se cantam um burburinho forte
ou se são fadas com gemidos
sempre sempre sempre a dormir

não sei se elas são estátuas
não sei se são de vidro
se podem cantando chorar
pelos filhos e pelo marido

que grito hão-de dizer?
que grito hão-de soltar
se no exílio têm ficado
cansadas de morrer?

e o vento sopra
há poeira no deserto
sobre as montanhas oblíquas
afinal quem muito sofre
é quem nunca diz sofrer

de que serve tudo isto
de que serve isto tudo
com este véu sinistro?
quem foi que as viu nascer?

pássaros mortos.
um dia apodrecem.

e alá expõe a sua terrível máscara
repleta de sangue e horror

Um comentário:

M.A. disse...

...claro que pode retirar o que quiser aos " fragmentos do deserto"...

Abraço grande,

diamante d'água