sábado, 23 de maio de 2009

A catedral









A catedral

Rogel Samuel


Meu pai cresceu ao lado dessa catedral. Quase cantou no seu coro. Eu amo a catedral de Strasburgo não é por isso. É pelo seu mistério. Espero vê-la ainda várias vezes, antes de morrer. É um lugar tão imponente que vale uma viagem só para vê-la. Mas a melhor hora de visita é pouco antes das 18 horas. Fique perto do relógio lá dentro e espere. Às 18 horas sai um boneco de metal, uma caveira, sai de dentro de uma portinhola e bate um sininho cujo som se expande e domina toda a nave. E o grande sino lá em cima responde. A caveira representa o tempo, a morte, a transitoriedade de tudo, nos diz que vamos morrer um dia. O sino maior não está em uso, está no chão, você pode ver e tocar nele. É tão grande que seu som estava abalando a estrutura de 142 metros de altura daquela construção... para ter uma idéia veja, compare com a altura das pessoas que estão no chão na foto, click para ampliar. Mas há outro sino, mais sinistro ainda, mais trágico, que só toca poucas vezes em cada Século, ainda bem, só em grandes calamidades mundiais, guerras, pragas... meu pai o ouviu, durante a Primeira Guerra Mundial... Depois dela, daquela sinistra caveira, sai outro boneco pelo outro lado... e bate o sininho de som fino, agudo, terrível... e o possante e grande sino responde... e depois vem outro boneco, e bate, e responde, e bate, e responde até que o grande órgão da igreja literalmente desaba como uma catástrofe sonora, numa tempestuosa massa de sons crescentes maiores mais possantes mais volumosos até que você tem que se segurar para não cair desmaiado ou morto ou desfalecido e em prantos...

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