domingo, 24 de maio de 2009

Helena






Helena

Rogel Samuel

- Mas tem dado na televisão o tempo todo, me diz a vizinha e síndica do meu prédio.

Difícil explicar que não vejo TV assim como ela.

Minha amiga Annie, em Paris, nem tem televisão em casa. Minha falecida e querida Helena também, aqui no Rio, no Flamengo.

Nunca me recuperei da morte de Helena. Ela foi uma das pessoas a quem mais amei. Não, eu não soube corresponder à altura ao seu amor.

Helena era de família nobre, antiga, tradicionalíssima do Brasil.

- Tenho dois bispos na família, dizia ela, sem afetação.

Como estava empobrecida, já tinha vendido todas as jóias de família e então portava umas coisas de plástico, compradas em camelô de rua, que no seu colo pareciam autênticos Cartier.

Culta, educada no Estados Unidos, falava línguas e lia muito. Eu a conheci literalmente numa Biblioteca Pública. Bom lugar.

Tinha um porte fidalgo no andar, no falar, sem orgulho, com naturalidade. Mas não tinha TV.

Nunca me recuperei.

2 comentários:

JOSÉ RIBEIRO MARTO disse...

e ainda bem !
cordialmente
___________ JRMARTO

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

ainda bem que existiu Helena, amigo, obrigado, rogel