quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Rogel Samuel: A árvore da gentileza













A árvore da gentileza

Rogel Samuel

A velha árvore em frente à minha janela foi completa, correta, perfeita, extremamente gentil – ao desabar depois da tempestade não prejudicou ninguém.

Para não atrapalhar o trânsito caiu no meio-fio, para não amassar um carro segurou-se na fiação e galhos, para não por em risco a vida das pessoas não se agarrou no cabo de alta-tensão, não caiu sobre minha janela – foi perfeita, morreu heroicamente e nobre.

Nem sei quantos anos ela estava ali, belíssima, portentosa.

Vai fazer muita falta, para mim, para os pássaros e macaquinhos que por ela desciam.
Para homenageá-la no seu túmulo recitei:

As Árvores

Na celagem vermelha, que se banha
Da rutilante imolação do dia,
As árvores, ao longe, na montanha,
Retorcem-se espectrais à ventania.

Árvores negras, que visão estranha
Vos aterra? que horror vos arrepia?
Que pesadelo os troncos vos assanha,
Descabelando a vossa rumaria?

Tendes alma também... Amais o seio
Da terra; mas sonhais, como sonhamos,
Bracejais, como nós, no mesmo anseio...

Infelizes, no píncaro do monte,
(Ah! não ter asas!...) estendeis os ramos
À esperança e ao mistério do horizonte.

(Olavo Bilac)

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