quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

As portas da FNFi


 
As portas da FNFi
 
A primeira pessoa que encontrei na porta da Faculdade foi Anísio Teixeira.
Mas eu não sabia. O primo de meu pai, Gervásio, me levou até bem perto do prédio e lá fui eu, com 18 anos de idade.
– Aqui é a Faculdade Nacional de Filosofia? – perguntei para aquele senhor mal-vestido, de óculos velhos de aros “de tartaruga”. Pensei que era o porteiro. Era Anísio Teixeira, conforme depois soube, meu professor de Filosofia da Educação.
Ele me orientou, da porta, e eu fui inscrever-me no Vestibular, recém-chegado de Manaus.
Não passei, naquele primeiro vestibular.
No dia da prova de francês, estava com febre de 40 graus e D. Marcella Mortara me reprovou, ou melhor, inutilizou minha prova com um risco diagonal e escreveu como nota: “Ilegível”, e aplicou um zero.
Sempre tive uma péssima letra. Até hoje. Eu devia ter estudado caligrafia, como se faziam os antigos.
Por isso, estudei ali no Curso Vestibular da própria Faculdade, gratuito, por um ano. E foi bom.
O curso era do Diretório Acadêmico (um ano depois eu era professor ali), e os professores eram os alunos... mas uns gênios.
Fui aluno do Antônio Pio (onde andará), de latim. Lia latim e grego como eu hoje leio jornal. Anos depois foi aposentado precocemente vitimado por misteriosa doença. Fui aluno de Antonio Augusto, depois assistente do Celso Cunha. Ali só havia gênios.
Eu morava em quartos alugados e comia no Calabouço, restaurante da UME, União Minicipal dos Estudantes, que ficava nas imediações do Aeroporto Santos Dumont.
O Aterro estava sendo feito.
Tive a sorte de passar em primeiro lugar (foi o que me disse depois Aluísio Trinta) para o Vestibular de Letras Clássicas. Pura sorte.
Havia 20 vagas, só passamos creio que 12. Provas escritas e orais.
Celso Cunha, na prova, mandou que justificássemos o verso de Camões: “Mas porém a que cuidados”. Ele queria se explicasse o “mas porém”.
E por aí foi.
O meu quarto, no Maracanã, dava para um beco e uma casa abandonada.
Dali eu só tinha a visão daquele muro velho e, à esquerda, uma árvore antiga daquela rua Eurico Rabelo.
Como eu precisava de mesa, comprei um “bureau” usado, antigo, de madeira preta, que pertencera a um ministério. Era gigantesco.
O Maracanã ficava em frente, e nos grandes jogos cada gol soava como uma onda que se elevasse saída de um vulcão furioso.
Era possível entrar no Maracanã vazio, ir até o gramado, olhar do centro para a periferia, para aquelas galerias monstruosas e vazias, descritas por Clarice Lispector num belo conto.
Passei a explorar o Rio, de ponta a ponta.
Nos dias livres tomava um ônibus e visitava Caxias, Meriti, São Gonçalo etc.
Chegava no fim da linha, pegava o ônibus de volta.
Foi aí que desenvolvi o espírito de viajante. Mais tarde percorri o Nordeste, o Sul, e depois o mundo, Katmandhu, Sydney, Paris...
O espírito de aventura. Que perdi, depois de velho.
 

Desemprego no Brasil fecha 2012 em 4,6% e atinge menor nível histórico

Desemprego no Brasil fecha 2012 em 4,6% e atinge menor nível histórico

O IBGE informou ainda que, em 2012, a taxa média de desemprego ficou em 5,5%, também recorde de baixa na série histórica iniciada em março de 2002

Reuters |         

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

FALA INICIAL


FALA INICIAL


 

Rogel Samuel


 

 

No primeiro verso: “Não posso / mover / meus passos”, há sete sílabas, com três tônicas: PO / VER / PAS – e marcam a sucessão de tônicas e átonas, compassada sucessão dos iniciais passos do “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles.

Mas já que o Romanceiro começa por um “não” – “não” de “não posso”, ou seja, “não” de interdição, do Interdito, do Proibido, do Negado, “não” da “morte e destruição”, daquela revolução que se perdeu, trágica, “que transita sobre angústias”.

Quem diz, no início: “não posso”, numa introdução negativa, negada, invertida, inversa – diz também “não entrarás, ó leitor”, e/ou “não vou ser capaz de fazer”, ó poeta. É a anti-proposição,  do Romanceiro.

Não, não posso entender o que aconteceu, naquele labirinto da História, onde o Brasil é esquecido, nó cego, morto, apagado, não da memória daquela estória de amores e de ódios. Não, não compreendo eu, o que estava acontecendo, naquele vinte e um de abril, no instante de lá, a terra está confusa, no ar sinto sinos, na boca ouço “o roçar das rezas”, na pele me arrepia a morte, ao ouvir a condenação, a culpa, o degredo, o Não.

 

Não posso mover meus passos

por êsse atroz labirinto

de esquecimento e cegueira

em que amôres e ódios vão:

-pois sinto bater os sinos,

percebo o roçar das rezas,

vejo o arrepio da morte,

à voz da condenação;

 

Mas vejo, e já pressinto, a masmorra, a sombra, o carcereiro que transita pisando angústias com o coração fechado, as altas madeiras do cadafalso, a morte pública, o pasmo da multidão.

          O poema todo é acompanhado pela batida sincopada de um “ÃO”, - ão! – ão! – ão! -  que se repete, com a regularidade da marcha fúnebre, cadavérica, do bater de pesados, soturnos sinos, funerários: vão, condenação, coração, multidão, oração, proclamação etc. até o fim, com o fim mortal “eterna escuridão”.

 

-avisto a negra masmorra

e a sombra do carcereiro

que transita sobre angústias,

com chaves no coração;

-descubro as altas madeiras

do excessivo cadafalso

e, por muros e janelas,

o pasmo da multidão.

 

O próximo verso é magistral: “batem patas de cavalos”. Por quê digo magistral? Primeiro, pelas consoantes que batem: o “b”, o “p”, o “t”, o “k” (de cavalos) – todas batem naqueles cinco “aa” – ba – pa – ca – va ---- de tal modo que quase é possível, com certa imaginação sonora, ouvir as patas dos cavalos batendo nas calçadas, nas pedras daquelas ruas de Vila Rica, no dia vinte e um de abril de 1789, cavalos dos soldados da morte, cavalos signos masculinos do poder de vida e morte.

Ah, aliás todo o poema é sonoro: dá para “ouvir” o bater dos sinos, o sussurrar das rezas, o tilintar das chaves, as patas dos cavalos, a voz do Brigadeiro... – aquilo fala da desgraça, das vozes daquele fatídico dia.

 

Batem patas de cavalos.

Suam soldados imóveis.

Na frente dos oratórios,

que vale mais a oração?

Vale a voz do Brigadeiro

sobre o povo e sobre a tropa,

louvando a augusta Rainha,

-já louca e fora do trono

na sua proclamação.

 

 

Ali, o poema cai na “cova do tempo”. Lá, as “intrigas de ouro e de sonho” se confundiram sinistramente com a condenação e a morte. Ali, se misturam “quem ordena, julga e pune” com “quem é culpado e inocente”. Lá, a “tinta das sentenças” e “o sangue dos enforcados” morrem no mesmo pântano lúgubre e terrível. Ali, “o castigo e o perdão” caem na mesma cova.  Lá, confundem-se “liras, espadas e cruzes”. E ali no mesmo vão obscuro, “as palavras, o secreto pensamento, as coroas e os machados, mentira e verdade estão.”  Lá os “ossos, nomes, letras, poeira...”.  Sim, rostos, almas, herdeiros, rastros - o mundo está no mesmo chão do esquecimento.

 

Ó grandes muros sem eco,

presídios de sal e treva

onde os homens padeceram

sua vasta solidão...

 

Você sabe o que é “muros sem eco”? Muros sem fala, nem eco? Muros dos presídios amargos e escuros? Presídios de solidão vasta e padecer?

 

Não choraremos o que houve,

nem os que chorar queremos:

contra rocas de ignorância

rebenta a nossa aflição.

 

Choramos êsse mistério,

êsse esquema sôbre-humano,

a força, o jôgo, o acidente

da indizível conjunção

que ordena vidas e mundos

em pólos inexoráveis

de ruína e de exaltação.

 

Ó silenciosas vertentes

por onde se precipitam

inexplicáveis torrentes,

por eterna escuridão!

 

         No alto da praça principal de Ouro Preto há estátua de mulher que sorri, no cimo do prédio onde é hoje o Museu da Inconfidência, mas que era Cadeia: um museu da tortura (tão próprio nesse país), a Casa do Poder Repressivo, na época da Inconfidência, sim, há uma estátua, e ela representa a justiça, ela é mulher com afiada e pontiaguda faca, espada na mão, espada que aponta o espaço, lá onde se pode imaginar o vão do ventre de um ser humano, espada fina, na ameaçadora mão, da Justiça, que ri, que sorri, que perigosamente sorri, de prazer, de gozo, sorriso do mistério, nunca desvendado, sorriso das lendas mortas, das silenciosas vertentes, das falas, dos mitos, da substância inexplicável das correntes escuras da escravidão, sorriso da morte, do escuro destino, da sombra da Noite, da destruição das vidas e dos amores, de amadas, de poetas, de ouro, de diamantes, daquele esquema ultramarítimo da espoliação capitalista, da força da devassa, do santo inquérito, do cadafalso, da tortura, das masmorras de pedra, do esquartejamento, do ouro!

TEMPORARIAMENTE INATIVO


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A INAUGURAÇÃO DO TEATRO AMAZONAS

A INAUGURAÇÃO DO TEATRO AMAZONAS
 
Rogel Samuel
 
“La Gioconda”, que inaugurou o Teatro Amazonas, é um dramalhão com estilo de Victor Hugo. O libreto é inspirado num conto de Victor Hugo, o “Angelo, tirano de Padoue”. O enredo é confuso, complexo. E longo. O cenário é Veneza do Século XVII.
 
Logo na Introdução há um grande baile comemorativo à vitória de um nobre na corrida de barcos. Todos dançam e bebem, uma população inteira. Muitos atores, é o exemplo da Grande Ópera italiana. Com vários papéis principais, um para cada voz.
 
 
A inauguração do TA estava ameaçada pela boataria do inimigos do Governador Fileto Pires Ferreira, que espalharam a mentira de que o teatro estava prestes a ruir, a desabar. O povo se retraiu. Houve medo. O Governo teve de reduzir o preço dos ingressos para conseguir lotar o teatro. Houve uma estranha “frieza” na população, que antes brigava na disputa de cadeiras do Éden Teatro, agora se recusava a ir ao novo teatro.
 
 
Mas, apesar de tudo, a inauguração do teatro foi um sucesso de público.
 
Não consegui ler nenhuma crítica teatral da época que me descrevesse a estreia.
 
Com os dados de que dispus, descrevi assim a inauguração, no meu romance Teatro Amazonas. Mas é uma obra de ficção, qualquer semelhança é mera coincidência:
 
“No dia 31 de dezembro de 1896 se inaugurou o Teatro Amazonas.
 
Inaugurou-se com “La Gioconda”, de Amilcare Ponchielli, sob a regência do maestro brasileiro Joaquim de Carvalho Franco, que foi diretor da Academia Amazonense de Belas Artes.
 
Carvalho Franco nasceu em Campinas, em 1858/59 e morreu em Manaus em 1927, onde se estabeleceu. Está enterrado no cemitério de São João Batista.
 
“La Gioconda” era uma novidade. Em 1896. Sua estréia mundial fora em 1876, com grande sucesso. A única das composições de Ponchielli (1834-1886) a ter sucesso e a manter-se no repertório dos teatros até hoje. Estreou no Teatro alla Scala de Milão, em 08 de abril de 1876 e Ponchielli revisou a obra pelo menos três vezes até o final da vida.
 
“La Gioconda” está na transição entre o romantismo e o realismo, reunindo elementos dos dois. Estilo de “grand-opera” francesa, carregada de melodrama, a ambientação exótica, com um balé no meio do espetáculo – a conhecida “Dança das Horas”, imortalizada por Walt Disney.
 
A ópera revela grandiosidade, cenários luxuosos, efeitos de cena, como o incêndio do segundo ato, grandes número de coro, orquestração densa. Exige um elenco de 12 cantores, seis dos quais podem ser considerados principais, com pelo menos uma grande ária para cada um deles.
 
Mas “La Gioconda” é precursora da escola realista da ópera italiana, com o vilão Barnaba, teatral, mais declamado do que cantado, e a violenta cena final, quando a protagonista comete suicídio num ato de extremo desespero.
 
O libreto é de Arrigo Boito, um dos artistas que fizeram a renovação do gênero. Mas Boito não acreditou no sucesso da ópera, e preferiu assinar com um anagrama, Tobia Gorrio.
 
O soprano que interpretar Gioconda tem as partes mais difíceis do espetáculo, cheio de recursos emotivos, alternando sentimentos de ternura, amor, ódio e desespero. O soprano canta exaustivamente nos três primeiros atos, antes de enfrentar o fim, no mais extremo esforço cênico e vocal, quando está dentro de um palácio em ruínas e prefere suicidar-se a ser morta.
 
É uma ópera cara, difícil.
 
A Gioconda de Manaus era Líbia Drog, soprano dramática. Ela era uma italiana belíssima, cotada na Itália, na Espanha e em São Petesburgo. Mas ficou famosa porque no Metropólitan Opera House, em novembro de 1894, na ópera Guillermo Tell, esqueceu o texto da ária de Matilde –Selva opaca - pondo em perigo toda a função.
 
Mas em Manaus ela teve uma atuação impecável.
 
A multidão que assistia do lado de fora a entrada dos convidados à inauguração viu chegar Raul de Azevedo e sua esposa, Sara. O casal ficou a passear nos jardins do teatro antes de entrar, pois o escritotor aproveitou para fumar.
A seguir apareceram Afonso de Carvalho, a esposa e alguns amigos. Era um grupo animado. Entraram logo.
Logo veio Joaquim Cardoso Ramalho Junior, com o filho (a esposa adoentada não veio). Mas quando apareceu Erico de Aguiar Picanço todas as pessoas que assistiam a entrada exclamaram um “oh!” de surpresa e admiração, pois Esmeralda Picanço portava as suas famosas esmeraldas: era um colar e brincos de esmeraldas e diamantes famosos na alta sociedade manauara, realçados pelo belo pescoço e o vestido de seda preta de sua dona. O vestido não tinha nenhum bordado nem enfeite. As esmeraldas e brilhantes iluminaram a entrada.
 
E assim foram chegando os convidados, que era elite do Norte do Brasil. Um dos últimos a chegar foi o Governado Fileto Pires Ferreira, com a esposa. E o último o ex-governador Eduardo Gonçalves Ribeiro, aplaudido pelo povo que estava na rua, desprezado pelos convidados de dentro. Eduardo Ribeiro, como sempre, veio com uniforme militar, acompanhado por dois soldados. Entrou rapidamente, atravessou o hall sem cumprimentar ninguém, subiu as escadarias com velocidade e sumiu no camarote. Os dois soldados não entraram, ficaram de guarda, na porta.
 
O Teatro ainda não estava ainda totalmente pronto. No “Salão Nobre”, em taças de cristal, servia-se o champanha La Grand Dame Veuve Clicquo. E se fazia política, conspirava-se. Conspirava-se contra o Governador Fileto Pires Ferreira, que já estava no camarote do Governo, conspirava-se contra Eduardo Ribeiro, que se escondera na penumbra. Em sussurros, no pé do ouvido, algumas figuras diziam: “- Fileto vai viajar para Paris...”
- Agora que Fileto e o negro estão rompidos é hora de agir, disse o outro.
 
No início do espetáculo falou o Governador Fileto Pires Ferreira, do alto do seu camarote central. Grande orador, inflamado, de improviso, inaugurou o Teatro. Seu discurso foi recebido friamente pela elite que já conspirava contra ele. E embora tivesse de relações rompidas com o ex-governador, anunciou:
 
- Temos a satisfação de ver entre nós o grande realizador da obra, o construtor deste imponente Teatro, o Governador Eduardo Ribeiro.
 
Neste momento irrompeu uma grande vaia, vinda de todos os lados.
 
E mais tarde, no meio da ópera, na “Dança das horas”, ouviu-se alguém gritar:
 
- É preciso eliminar o negro! – e uma gargalhada geral.
 
Eduardo Ribeiro naquele momento se retirou e nunca mais voltou ao teatro.”
 
 É possível assistir à ópera em interpretações modernas em vídeo, como com o excelente Plácido Domingo e Eva Marton, regência de Adam Fischer.
 
 

domingo, 27 de janeiro de 2013

O acrobata vai à Lua: na corda bamba, rumo ao satélite

O acrobata vai à Lua: na corda bamba, rumo ao satélite

: A façanha do equilibrista Dean Potter, andando sobre uma corda bamba entre rochedos do Cathedral Peak, na Califórnia, ao mesmo tempo em que a Lua sobe no horizonte, rendeu um dos vídeos mais lindos e hipnóticos dos últimos tempos

24 de Janeiro de 2013 às 17:59

TRAGÉDIA

Fogo teria tomado conta da boate em três minutos

Incêndio teria iniciado após o acionamento de um sinalizador por um dos integrantes da banda

 
  • Fogo teria tomado conta da boate em três minutos  Jean Pimentel/Agencia RBS
Incêndio teria iniciado após o uso de um sinalizador no palco da boate Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS
De acordo com Ingrid Goldani, 20 anos, que trabalhava na boate há 45 dias, o fogo teve começo depois que um integrante de uma banda — durante a noite, duas bandas se apresentaram — acendeu uma espécie de sinalizador que acabou por incendiar parte da estrutura do palco. Segundo ela, o fogo teria tomado conta da boate em cerca de três minutos.
— A segunda banda chegou a tocar por 10 a 15 minutos. Ele (da banda) começou a brincar com uma espécie de um pequeno artifício de fogo. Ele ficou brincando com isso por cerca de três minutos. Foi o tempo suficiente para que tudo mudasse. Eles (da banda) tentaram apagar o fogo com água, mas não conseguiram. Depois disso, tentaram com o extintor de incêndio. Não sei se eles não conseguiram manusear (o extintor). Só sei que foi tudo muito rápido — relata a servidora.
Jovens e pessoas que conseguiram escapar do incêndio da boate Kiss relataram às autoridades pessoais que, no momento do incêndio, alguns seguranças teriam tentado impedir a saída das pessoas. De acordo com relatos de jovens, os seguranças teriam trancado as portas por entender que o grande fluxo de jovens tentando escapar, teria como objetivo sair sem pagar. Os proprietários da boate não foram localizados para explicar se o fato teria ocorrido.
Segundo o capitão da Brigada Militar (BM) Edi Paulo Garcia, a boate Kiss teria apenas uma saída. De acordo com Garcia, 90% dos corpos estariam nos dois banheiros da boate — um feminino e outro masculino. Ainda conforme Garcia, aqueles que não morreram pelo fogo, foram vítimas de asfixia (em função da forte fumaça) ou foram pisoteados.
Veja também
Confira imagens do local onde aconteceu a tragédiaConfira a lista de feridos em incêndio em boate em Santa MariaTragédia em Santa Maria cancela rodada do Gauchão

Confira onde aconteceu a tragédia

Imagem: Arte ZH

Acompanhe as últimas informações

TRAGÉDIA!

Irresponsabilidade criminosa matou 245

: Bombeiros atestam que alvará de funcionamento da boate Kiss estava vencido; tragédia matou 245 pessoas e ainda há dezenas de feridos; donos do estabelecimento, que já havia sido notificado para regularizar a situação, não foram localizados; maior número de mortes ocorreu por asfixia; vídeo

27 de Janeiro de 2013 às 12:35

sábado, 26 de janeiro de 2013

EM HOMENAGEM A WALMOR CHAGAS

POSTADO ORIGINALMENTE EM BLOCOS ONLINE


O Suicida

Por Affonso Romano Santanna


O sucídio
Não é algo pessoal.
todo suicida
nos leva
ao nosso funeral.


O suicida
Não é só cruel consigo.
É cruel, como cruel
só sabe ser
o melhor amigo.


O suicida
é aquele que pensa
matar seu corpo a sós.
Mas seu eu se enforca
num cordão de muitos nós.


O suicida
não se mata em nossas costas
Mata-se em nossa frente
usando seu próprio corpo
dentro de nossa mente,


O suicida
não é o operário.
É o próprio industrial em greve.
É o patrão
que vai aonde
o operário não se atreve.


Todo homem é mortal.
Mas alguns, mais que outros,
Fazem da morte
Um ritual.


O suicida, por exemplo
É um vivo accidental.
E o general
que se equivocou de inimigo
e cravou a sua espada
na raiz do proprio umbigo.
Mais que o espectador
que saiu no entreato
o suicida
é um ator
que questionou o teatro.


O suicida
é um retratista
que às claras se revela.
Ao expor seu negativo
queima o retrato
e se vela.


O suicida, enfim, ‘
é um poeta perverso
e original
que interrompeu seu poema
antes do ponto final.


Affonso Romano Santanna

J. G. de Araujo Jorge

" Criação "

O diabo é que não sou complicado
sempre sei o que sinto, o que quero,
pelo menos no momento que passa.

Por isso não tenho dificuldade em meu verso,
na verdade, não tenho nenhum trabalho,
ele vem e me diz: aqui estou!

Pois bem: que cante!

( Poema de JG de Araujo Jorge  extraído
do livro " Harpa Submersa " 1a ed. 1952 )





" Canto Banal "

Não te quero dizer palavras difíceis e deformantes
nem inventar imagens que embelezam talvez
mas que não reconheces.

Não tocarei música para os teus ouvidos
nem criarei poesia para a tua imaginação,
nem nada esculpirei que já não estejas em ti...

Nesse instante serei banal,
não respeitarei nem mesmo o silêncio,
nada que nos eleve além do plano em que estamos,
não serás estrela, não serás a nuvem, não serás a flor...

Quando chegares, e eu tomar teu corpo
em meus braços nervosos, te direi apenas:
- meu amor!


( Poema de JG de Araujo Jorge  extraído
do livro " Harpa Submersa " 1a ed. 1952 )





" Estranho Instrumento "

Meu coração, como uma harpa submersa,
jaz no fundo de que ignorado oceano?

Que estranhas correntes arrancam de suas cordas
sons líquidos e redondos que se perdem côncavos
antes de chegar à tona?...

Que peixes cegos tiram notas imprevistas
e se vão tontos na ondulação do canto que despertam
entre espectros calcários e verdes algas trementes?

Que músicas borbulhantes se agitam, nascidas
de que movimentos sem origens, incognoscíveis,
marcando um tempo morto e imensurável?

Meu coração é como uma harpa submersa,
sem dedos, sem cordas, tocando sozinha
uma canção que desvenda os mistérios da vida
para os peixes ouvirem.


( Poema de JG de Araujo Jorge  extraído
do livro " Harpa Submersa " 1a ed. 1952 )






Amo !"


     Amo a terra ! Amo o sol ! Amo o céu ! Amo o mar !
Amo a vida ! Amo a luz ! Amo as árvores ! Amo
a poesia que escrevo e entusiasta declamo
aos que sentem como eu a alegria de amar !

Amo a noite ! Amo a antiga palidez do luar !
A flor presa aos cabelos soltos de algum ramo !
Uma folha que cai ! Um perfume no ar
onde um desejo extinto sem querer inflamo !

Amo os rios ! E a estranha solidão em festa,
dessa alma que possuo multiforme e inquieta
como a alma multiforme e inquieta da floresta !

Amo a cor que há nos sons ! Amo os sons que há na cor !
E em mim mesmo - amo a glória de sentir-me um Poeta
e amar imensamente o meu imenso amor !.


( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro
"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"
Vol. I -  1a edição 1965 )







Soneto


Bom o tempo que ficou, — amei-te na alegria
de uma tarde azulada e linda de Setembro,
— disso tudo hoje triste eu muita vez me lembro
enquanto uma saudade o peito crucia...

Amei-te, como nunca outro alguém te amaria,
eras o meu sonhar de Janeiro à Dezembro...
Depois... Tu me deixas-te, e ainda hoje se relembro,
Amargo a mesma dor cruel daquele dia...

Agora sem viver, — sou um corpo sem alma, —
conformo-me com tudo, e vou chegando ao fim
— como a tarde que cai bem suavemente em calma.

Já não sinto... não sofro... já nem vivo até.
— Se a vida ainda era vida ao ter-te junto à mim
hoje, longe de ti, - nem vida ao menos é!

                                                           J. G. de Araujo Jorge


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Beldade de Parintins é eleita Miss Amazonas 2013

Beldade de Parintins é eleita Miss Amazonas 2013

: A noite da terça-feira (23) foi de festa para a representante do município de Parintins, Tereza Azeredo; ela foi escolhida a Miss Amazonas 2013, em evento realizado no Centro de Convenções Diamond, em Manaus; a jovem de 18 anos disputou com outras 18 candidatas e será a representante do Estado no concurso que escolherá a Miss Brasil

 

O NAUFRÁGIO DA PRINCESA LAURA


O NAUFRÁGIO DA PRINCESA LAURA

 

 

Rogel Samuel

 

 

O naufrágio da «Princesa Laura», na Boiuçu de 6 km de largura, me levou às estórias que na minha infância se contavam daquela imensa região, como a do naufrágio da Bitar, o desastre da gaiola Izidoro Antunes, tragédias freqüentes no Amazonas de ontem, como o desaparecimento da Izidoro Antunes, em sua primeira, única e última viagem, tinha acabado de chegar da Inglaterra, moderna, confortável, aparelhada com luz elétrica, estava cheia de mercadorias quando desapareceu. Depois disso o Otero, o Perseverança, o Prompto, a Macau, o Etna, o Colomy, o Júlio de Roque, o Waltin, o Mazaltob, o Ajudante (abalroado), o Manauense (adernado), o Itucumã, o Paes de Carvalho (incendiado), o Miguel, o Paraense, o Mamoriá, a lancha Jaquirana, a Mercedes, o Cruzeiro, a lancha Hilda, o Chamié, o Içá, o Tefé, o Canutama, o Explorador, o Santos Dumont, o Teixeirinha, o São Vicente, o Rio Madeira, o Puruzinho, o Coritiba, o Curty, o Lira Castro, o Purus, o Veneza, o Alagoas, o Ajuricaba, a lancha Amethista, o Barcelos, o Brasília, o Colibri, o Antonio Lemos, o Guaná, o Mondego, o Watrin, o Elias, o Acreano, o Rio Amazonas, o Aripuani, a lancha Felicidade, o Mazagão, o Lauro Sodré, o Amazonas, o Macapá, a lancha Tauary, o Paumary, o Ituxi, o Japurá, o João Augusto, o Tarauacá, o Sabiá, a lancha Tiete, o São Martinho, o lanchão Alagoas, o Douro, o Herman, o Parijós, o Tocantins, o Sertanejo, o Aracy, o rebocador Mário, o Ipixina - todos debaixo d’água, arrastando consigo homens que desapareceram naquelas águas barrentas e escuras, maduras e de fúnebres murmúrios, indecisas, imprecisas e indiferentes, veladas de véus de lama, densas e fundas na dissolução dos líquidos da vida, na horizontalidade daqueles infindáveis rios estendidos no lento movimento do tempo - cadáveres elementares decompostos nos alagados de vitórias-régias, comidos de peixes, lânguidos, mergulhados na matéria dissolvida da planície de salmoura

por não temer viajar naquelas águas cheias de paus, troncos, bancos de areia, torrões, pedrais, salões e muiunas, rebojos, ituranas, panolas, panelões, praias, sacados, jupiás, ipuêras, baixios, cambões, caldeirões, esqueletos, praias de duas cabeças, voltas - todos obstáculos e perigos da navegação ordinária, de grande ou de pequeno calado, para navios, motores, canoas, montaria e igarités, tudo, toda uma massa de uma teoria infernal de perigos a evitar, a contornar, a vigiar, a desafiar, a temer. Não navegavam dia e noite? Na Foz do Juruá o Rio Solimões mede 12 km de largura e pássaros de vôo curto (o jacamim, o mutum, o cojubim) não conseguem atravessar, morrendo cansados afogados no fundo de ondas pinceladas de amarelo da travessia. Em 8 dias de navegação pelo Juruá se chega no Rio Tarauacá e São Felipe, de 45 casas, vila bonita, e arrumada. 9 dias depois se entra no Rio Jordão, de onde não se prossegue senão de canoa pelo Igarapé Bom Jardim, subindo pois e encontrando nosso termo e destino, a ponta do nosso nó, o término, o marco extremo de nós mesmos, o mais longínquo e interno lugar do orbe terrestre – o atingir finalmente o Igarapé do Inferno, limite do fim do mundo onde se encontra, e envolto no peso de sua surpresa e fama, o lendário, o mítico, o infinito Seringal Manixi, personagem do nosso «Amante das Amazonas»...

 

*   *   *

 

 

Por quarenta anos meu pai navegou pelos rios da Amazônia. Era um grande conhecedor da região. Escreveu: « Um prático de cem anos atrás não saberia navegar no rio para o qual estudou, prestou exames e recebeu carteira de habilitação profissional da Escola de Marinha Mercante do Pará. Esta carteira profissional é apenas para o Rio Amazonas ou um dos seus afluentes. Existem práticos que tiram carteira de habilitação de dois, três ou mesmo quatro rios. Isto é o máximo. A vida humana é curta demais para conhecer todos os afluentes do Amazonas, a Mãe de todos eles. O estudante, para tirar Carteira Profissional, necessita viajar nele durante muitos anos, ao termo dos quais deve conhecer um percurso de mil a duas mil milhas, além das passagens de pedras, naus e praias, a copa mais alta de algumas árvores que servem de referência para a travessia do rio durante as noites sem lua. Poderá, então, levar o destino de centenas de passageiros que confiarem nele. Mesmo assim, todos os anos, naufragam numerosas embarcações de todos os tamanhos e cujas posições serão assinaladas nas “derrotas” dos práticos. Estas “derrotas” são mapas regionais em rolos compridos que assinalam obstáculos -nos rios. No Rio Purus, por exemplo, existem mais embarcações em baixo das águas do que navegando por cima.»

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Ele teve várias lanchas: Solar, Solarina, Solarita, Ananda 1 e 2. Nunca nos deixava viajar  em navio de linha, como eram chamados. Sabia dos riscos, imprevistos. Sabia também da irresponsabilidade.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

DOCES FANTASMAS

DOCES FANTASMAS
 
Rogel Samuel 
 
 
 
            Doces fantasmas esvoaçam os ares dentro de meu quarto. Parecem pássaros, invisíveis voam. Eles passeiam, bailam, mas não aparecem, ou não os vejo, somem nas cortinas da noite, mas me despertam, como no super-soneto de Pessoa:
 
Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.
 
            E eu acendo luzes, ouço a madrinha da madrugada. Medito. Ligo a TV, mas logo desisto, desligo. No fim perco o sono, e...:
 
Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.
 
            Acordo. Tento entender o terror antigo, insepulto. Resolvo ouvir música, assim baixinho, no headphone. Afinal é tarde, muito tarde. Perco as horas. Ouço o CD, comprado durante aquela tarde, onde Wilhelm Backhaus, em gravações de 1929 e 1932, toca o concerto n01, de Brahms. O disco ainda estava lacrado.
 
E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.
 
            Backhaus, diz um crítico, está para os outros pianistas com o monte Everest sobre as outras montanhas. «Majestade e sutileza, técnica sobre-humana, presença e graça». Tocou por cerca de 70 anos, e foi um dos primeiros a gravar um disco. Dizem que ele teve duas fases, antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Antes demonstrava vitalidade, emoção. Depois, entristeceu. 
 
Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.
 
Escreveu Backhaus, «quanto mais simples, mais belo». Ele não era chegado às aparições espetaculares. Era modesto, ainda que idolatrado, reconhecido, famoso. Suas interpretações equilibradas, a delícia de seus ouvintes, não para a demonstração de sua virtuosidade pianística.
 
Depois do concerto volto a dormir. Em êxtase. Os doces fantasmas da música me conduzem a um lugar de extraordinária e lúcida beleza, embora onírica, e «sinto que sou ninguém salvo uma sombra», que «em nada existo como a treva fria».