O prazer do pensamento
Rogel Samuel
Alain no seu delicioso "Propos sur
le bonheur" diz que com mau humor ninguém consegue nada. O mau humor, diz
ele, é mais causa do que efeito. Ele até arrisca a dizer que uma das causas das
doenças dos humanos é o esquecimento da gentileza, da polidez. O mau humor é,
para ele, uma violência do corpo sobre si mesmo.
Aquele que busca a felicidade, que gosta
mesmo dela, deve aprender a sorrir. Reagir contra o mau humor não é fácil. Dizia
Chagdud Tulku Rinpochê que o ser humano de mau humor vira porco-espinho:
ninguém se aproxima dele. Fica só.
Acredito que a solidão é do solitário,
não das gentes - é o solitário quem quer. O solitário diz implicitamente: “não
se aproximem”.
Alguns têm o riso fácil e quase nunca se
irritam. "Nós temos a liberdade de amar, de escolher. Não és tu quem
decide, com as tuas angústias e as tuas contradições, mas a vida soberana que
está em ti, aquela a quem os lamas chamam a Grande Deusa", diz Dugpa
Rinpochê.
Que é a felicidade? "A felicidade é
primeiramente uma disposição de espírito, uma maneira diferente de olhar para o
mundo. Chega até nós porque nós a desejamos apaixonadamente, segundo a lei de atração
e de harmonia que rege o universo", diz o Dugpa Rinpochê.
Afinal entre estar irritado ou triste e
estar feliz a diferença é de uma interpretação. Basta pensar: “poderia estar
pior”.
Há um ditado tibetano que diz: “Se algo
não tem cura, pra quê se preocupar? Se tem cura, pra quê se preocupar?”
Os gregos diziam que a eudaimon, que é a
palavra para “feliz”, ou eudaimonia, significa “que tem um poder divino
(daimon) bem disposto". A felicidade era uma disposição divina, acima das
disposições humanas. Algo divino, como para Aristóteles, tem a ver com a
auto-suficiência.
"De um modo estrito, o termo
"eudaimonia" é uma transliteração da palavra grega para
prosperidade, boa fortuna, riqueza ou
felicidade", diz Scott Carson. Mas sem a concepção utilitarista de
felicidade, apesar de ambas as noções poderem, em alguns pensadores, contar
como aspectos da eudaimonia.
A palavra é composta pelo prefixo eu-
(bem) e pelo substantivo "daimon" (espírito).
Pode-se dizer que a eudamonia é uma
predisposição para a felicidade. E que os gregos de um modo geral entendiam que
a eudamonia, ou felicidade, era o fim último da vida, algo que estamos sempre
buscando, da vida a finalidade. Seja prazer, riqueza etc.
Somos condenados à felicidade.
A sociedade moderna fez nascer a
solidão.
Em “Um Ensaio Autobiográfico”, Jorge Luis Borges diz: "Suponho
que já escrevi meus melhores livros. Isso me dá uma espécie de tranqüila
satisfação e serenidade. No entanto, não acho que tenha escrito tudo. De algum
modo, sinto a juventude mais próxima de mim hoje do que quando era um homem
jovem. Não considero mais a felicidade inatingível, como eu acreditava tempos
atrás. Agora sei que pode acontecer a qualquer momento, mas nunca se deve
procurá-la. Quanto ao fracasso e à fama,
parecem-me totalmente irrelevantes e não me preocupam. Agora o que eu procuro é
a paz, o prazer do pensamento e da amizade. E, ainda que pareça demasiado
ambicioso, a sensação de amar e ser amado"
(http://vejabrasil.abril.com.br/rio-de-janeiro/editorial/m1707/o-que-e-felicidade).
Ele tinha 71 anos quando escreveu
isso.
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