sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O prazer do pensamento

O prazer do pensamento
Rogel Samuel
Alain no seu delicioso "Propos sur le bonheur" diz que com mau humor ninguém consegue nada. O mau humor, diz ele, é mais causa do que efeito. Ele até arrisca a dizer que uma das causas das doenças dos humanos é o esquecimento da gentileza, da polidez. O mau humor é, para ele, uma violência do corpo sobre si mesmo.
Aquele que busca a felicidade, que gosta mesmo dela, deve aprender a sorrir. Reagir contra o mau humor não é fácil. Dizia Chagdud Tulku Rinpochê que o ser humano de mau humor vira porco-espinho: ninguém se aproxima dele. Fica só.
Acredito que a solidão é do solitário, não das gentes - é o solitário quem quer. O solitário diz implicitamente: “não se aproximem”. 
Alguns têm o riso fácil e quase nunca se irritam. "Nós temos a liberdade de amar, de escolher. Não és tu quem decide, com as tuas angústias e as tuas contradições, mas a vida soberana que está em ti, aquela a quem os lamas chamam a Grande Deusa", diz Dugpa Rinpochê.
Que é a felicidade? "A felicidade é primeiramente uma disposição de espírito, uma maneira diferente de olhar para o mundo. Chega até nós porque nós a desejamos apaixonadamente, segundo a lei de atração e de harmonia que rege o universo", diz o Dugpa Rinpochê.
Afinal entre estar irritado ou triste e estar feliz a diferença é de uma interpretação. Basta pensar: “poderia estar pior”.
Há um ditado tibetano que diz: “Se algo não tem cura, pra quê se preocupar? Se tem cura, pra quê se preocupar?”
Os gregos diziam que a eudaimon, que é a palavra para “feliz”, ou eudaimonia, significa “que tem um poder divino (daimon) bem disposto". A felicidade era uma disposição divina, acima das disposições humanas. Algo divino, como para Aristóteles, tem a ver com a auto-suficiência.
"De um modo estrito, o termo "eudaimonia" é uma transliteração da palavra grega para
prosperidade, boa fortuna, riqueza ou felicidade", diz Scott Carson. Mas sem a concepção utilitarista de felicidade, apesar de ambas as noções poderem, em alguns pensadores, contar como aspectos da eudaimonia.
A palavra é composta pelo prefixo eu- (bem) e pelo substantivo "daimon" (espírito).
Pode-se dizer que a eudamonia é uma predisposição para a felicidade. E que os gregos de um modo geral entendiam que a eudamonia, ou felicidade, era o fim último da vida, algo que estamos sempre buscando, da vida a finalidade. Seja prazer, riqueza etc.
Somos condenados à felicidade.
A sociedade moderna fez nascer a solidão.
Em “Um Ensaio Autobiográfico”, Jorge Luis Borges diz: "Suponho que já escrevi meus melhores livros. Isso me dá uma espécie de tranqüila satisfação e serenidade. No entanto, não acho que tenha escrito tudo. De algum modo, sinto a juventude mais próxima de mim hoje do que quando era um homem jovem. Não considero mais a felicidade inatingível, como eu acreditava tempos atrás. Agora sei que pode acontecer a qualquer momento, mas nunca se deve procurá-la. Quanto ao fracasso e à fama, parecem-me totalmente irrelevantes e não me preocupam. Agora o que eu procuro é a paz, o prazer do pensamento e da amizade. E, ainda que pareça demasiado ambicioso, a sensação de amar e ser amado" (http://vejabrasil.abril.com.br/rio-de-janeiro/editorial/m1707/o-que-e-felicidade).
Ele tinha 71 anos quando escreveu isso.

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