domingo, 1 de setembro de 2013

BUDISMO COM AÇÚCAR

Budismo com açucar
Nova novela das seis explora a crença da reencarnação e preocupa líderes religiosos
CAMILA CARON
SILVANA ARANTES
DE SÃO PAULO
Prestes a ocupar a faixa das 18h da Globo, a novela "Joia Rara" mistura a filosofia budista a uma história de amor proibido na década de 1930.
A joia rara em questão é a filha do casal de protagonistas reconhecida como reencarnação de um mestre budista dos Himalaias, que ajudou a salvar a vida de seu pai.
A exemplo do que ocorreu com outros folhetins do canal abordando temas espirituais, a trama já é discutida por seguidores do budismo.
"Para mim, eles já começaram errado. Não se pode colocar a reencarnação numa novela", diz o lama (professor) Zopa Norbu, do centro de difusão do budismo dos Himalaias Jardim do Dharma, em São Paulo.
"No budismo se ensina isso, mas não é um conhecimento para se colocar numa novela, para [ser visto por] milhões de pessoas que não têm essa crença", diz o lama.
Na opinião dele, o alcance da novela pode despertar "o problemão" da intolerância religiosa. A melhor das hipóteses, para Norbu, é que a audiência ignore os aspectos budistas "e veja simplesmente como uma novela".
Já Thelma Guedes, que divide a autoria da novela com Duca Rachid, afirma: "É um erro subestimar a capacidade do público de receber os temas. O público espera ver um folhetim. Se você o fizer, com os clichês que estruturam esse gênero, e abordar dentro dessa estrutura qualquer outro tema, o público estará disponível para recebê-lo".
A lama Sherab, professora residente no Templo de Três Coroas (RS), afirma que "existe o risco de haver um entendimento pela metade" a respeito do budismo, mas diz estar "superfeliz" com a oportunidade de divulgação.
Virgínia Casé, consultora da novela sobre o budismo tibetano, que é irmã da apresentadora Regina Casé, diz que "a grande preocupação foi ser o mais fiel possível aos ensinamentos do Buda".
Casé fez um acordo com as autoras: "Quando os monges estão presentes [nas cenas], vai ter uma fala do buda".
"A gente não está pregando, nem querendo dar aula sobre budismo. Apenas achamos legal dizer que isso existe", completa Duca Rachid.
Próxima novela das seis é superprodução
'Joia Rara' estreia dia 16 na Globo com a missão de aumentar a audiência do horário e das tramas seguintes
Folhetim conta com os mesmos diretores de 'Avenida Brasil', atores do horário nobre e cenas feitas no Nepal
CAMILA CARONDE SÃO PAULO
"Joia Rara" pode, de fato, ser considerada uma aposta da Rede Globo. A novela, assinada por Thelma Guedes e Duca Rachid, leva à faixa das 18h um investimento digno de novela do horário nobre, que inclui a equipe de diretores e o elenco.
"A Globo não trabalha com orçamento fechado. Novela das 21h não tem que ser mais cara do que novela das 18h", diz o diretor de núcleo Ricardo Waddington.
Folha apurou que "Joia Rara" supera o valor médio por capítulo de uma trama das 18h, na casa dos R$ 500 mil. A novela gasta em cada episódio cerca de R$ 600 mil e se aproxima do investimento de novelas do horário nobre, R$ 700 mil por capítulo.
Tamanha produção tem a missão de inflar a audiência do horário, para que o mesmo volte a atingir 30 pontos de Ibope.
"Flor do Caribe", que ocupa a faixa atualmente, marcou nas últimas semanas uma média de 23 pontos. Cada ponto equivale a 62 mil domicílios na Grande SP.
Das mesmas autoras,"Cordel Encantado" (2011) chegou a registrar 30 pontos de audiência às 18h. Na época, cada ponto equivalia a 58 mil domicílios na Grande SP.
Aos olhos do canal, os bons resultados de "Joia Rara" deverão alavancar a audiência das novelas seguintes.
PROJETO DO CORAÇÃO
As autoras continuam na faixa de seu último folhetim, "Cordel Encantado", mas, desta vez, a própria dupla decidiu qual projeto iria tocar.
"A gente terminou Cordel [Encantado]' e o Manuel Martins (diretor de entretenimento da Globo) nos perguntou qual era nosso projeto do coração", lembra Thelma.
A trama envolve o romance vivido por Franz (Bruno Gagliasso), jovem rico e materialista, e a operária Amélia (Bianca Bin).
Além de voltar as lentes para a luta de classes da época, a novela terá um cabaré dirigido pelo personagem de Marcos Caruso.
Waddington dirige o folhetim junto à diretora-geral Amora Mautner, mesma parceria de "Avenida Brasil".
Foi Amora quem bateu o pé para que a equipe viajasse até o Nepal, onde, por 20 dias, foram gravadas cenas do núcleo budista da trama.
O time de atores da novela são rostos conhecidos do horário nobre do canal. José de Abreu é um deles.
"A produção sempre pergunta qual será o tamanho do parquinho' na próxima novela, e desta vez digo que é a Disneylândia", fala, aos risos, a autora Thelma Guedes.
 

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