quinta-feira, 30 de abril de 2015
DHAMMAPADA - Tradução de Thanissaro Bhikkhu e R. Samuel
DHAMMAPADA - Tradução de Thanissaro Bhikkhu e R. Samuel
7-8 *:
Aquele que permanentemente busca o belo,
é desenfreado com os sentidos,
não tem nenhuma moderação em comida,
apático, sem energia:
Mara o supera
como o vento, uma árvore fraca.
Aquele que é atento aos seus próprios erros,
contido com respeito aos sentidos,
tem moderação em comida,
cheio de convicção e energia:
Mara não o supera
como o vento uma montanha de pedra.
9-10:
Ele que, depravado,
destituído
de veracidade
e autocontrole,
veste o manto de ocre,
não merece o manto de ocre.
Mas ele que é livre
de depravação
dotado
da veracidade
e autocontrole,
bem estabelecido
nos preceitos,
verdadeiramente merece o manto de ocre.
quarta-feira, 29 de abril de 2015
COMO FOI COMIGO EM KATMANDHU
COMO FOI COMIGO EM KATMANDHU
Rogel Samuel
Eu fui três vezes ao Nepal. Conheci meu Guru em
Katmandhu.
Eu o conheci no dia 2 de Janeiro de 1994, meu
aniversário. Não esqueci a data, eu tinha chegado do Brasil para encontrar o
Lama Lobsang Tenpa, que tinha estado conosco por dois anos e meio. Lobsang
Tenpa morava no mosteiro de Kopan, nas montanhas.
Minha viagem tinha sido um inferno. Era a primeira
vez que eu ia ao Oriente. Trazia três
pesadas malas: a minha, a outra, cheia de
oferecimentos para os Lamas (tinha até quilos de pedras coloridas) e a terceira,
dos livros do lama tibetano Lobsang Tenpa, que era a mais pesada. Saí do Rio e
cheguei em Amsterdan no dia do natal.
Uma confusão no aeroporto de Amsterdan, pois era de
noite, eu queria colocar as malas num porta-malas para não levá-las para o
hotel. Triste idéia, pois o aeroporto é uma cidade, levei uma hora para
descobrir onde era e arranjar as moedas pra poder abrir o armário. Cometi outro
erro: meu sobretudo ficou ali. Quando cheguei do lado de fora a temperatura
estava vários graus abaixo de zero.
No dia seguinte fui taxado com uma grande multa de
excesso de bagagem e viajei para New Delhi. Ali novos problemas: atravessei a “fronteira"
do Aeroporto, pois tinha visto da Índia, e a polícia não me deixou voltar,
já que meu
vôo para Katmandhu era no dia seguinte. Acontece que eu pretendia ficar no
Aeroporto, pois tinha pouco tempo para um hotel e o tráfego ali é terrível.
Vi-me na rua, cercado de mendigos que pediam e de meninos que puxavam minhas
malas e roupas, oferecendo-se para carregá-las (ou talvez sair correndo com
elas, um para cada lado).
Enfim descobri um canto no Aeroporto onde ficar.
Tinha mendigos ali também. Trauma de quem mora no Rio (pois a Índia é muito
mais segura).
Outro problema: como ir ao banheiro, abandonando as
malas? Não havia
carrinho. Enfim descobri duas jovens americanas com
quem deixei as
malas. O Aeroporto de Nova Delhi melhorou muito,
depois.
A chegada em Katmandhu foi outra odisséia. Mas não
conto.
Naquele mesmo dia falei do meu hotel com o Lama
Lobsang Tenpa pelo telefone, tomei um táxi e fui levar seus livros pela pior
estrada do munde. Fiquei ali umas horas, o táxi esperando (era barato), e no
dia seguinte mudei-me para o mosteiro de Kopan.
Ali quase morri de frio. Muito abaixo de zero era a
cabana onde me alojaram, sem calefação. Uma noite acendi todas as velas que
pude, perto de mim. Mas algo me dizia que não era aquilo. Tive sonhos estranhos.
Eu tinha de sair dali.
Um dia o Geshe (Lama) disse para mim: vá, veja os
lugares importantes lá fora. O abade me perguntou: "Você pensa em ficar
aqui?" Enfim, eu era gentilmente expulso do primeiro mosteiro budista onde
pretendia
permanecer em retiro.
Assim, no dia 2 de janeiro, abandonando minhas
complicadas malas (se você for ao
Oriente não leve nada, apenas uma bolsinha ou mochila),
desci a montanha num caminhão cheios de monginhos
que iam a um pic-nic e
faziam grande algazarra. Desci em Boudanath, perto
da grande estupa de Gerukansor. Aluguei um quarto no famoso Lotus Guest House.
Entrei numa loja, disposto a bisbilhotar. Era uma loja de artigos de Dharma, estátuas
de Bhuddhas etc. Ali conheci o dono, que ficou meu amigo e que sempre
reencontro quando volto lá. Ele
me disse: "You must see the King of Sakyas!". ("Você
tem de ver o Rei dos Sakyas!").
Eu não tinha a menor idéia de quem era aquele
"Rei". Já que por ali há vários Reis,
pensei tratar-se de um deles. Subi a rua indicada pelo meu amigo.
No mosteiro Tharlan, mil monges estavam do lado de
fora, ao redor.
Era um espetáculo muito bonito de ver. A Gompa estava fechada, mas às vezes a grande porta se entreabria e os monges se
prosternavam, em reverência. Eu sentia que lá dentro estava alguém da máxima
importância.
Eu comecei a tirar fotos. Sempre gostei. Já ganhei
até um prêmio nacional de fotografia. Já
tive laboratório em casa. Comecei a clicar,
pra todos os lados. Havia uma portinha lateral
aberta. Me deu uma curiosidade de ver lá dentro. Entrei devagar. Parei. Ninguém
me dizia
nada. Atravessei e... eis que me vejo dentro do
grande mosteiro vazio e no seu centro, sentado em meditação, na minha frente, Sua Santidade
Sakya Trizin que se estava preparando para conceder
a primeira iniciação da "Coleção de todas as sadhanas" (Dun Tab Kun
Tub).
Foi um choque. Fiquei estarrecido, imóvel. Olhou
para mim, e me cumprimentou, com a cabeça. Naquele momento eu soube que aquele
era o meu mestre, em pessoa.
Fiquei dois meses ali, com ele, de manhã à noite,
recebendo a Coleção das sadhanas, que estava começando.
Foi assim.
terça-feira, 28 de abril de 2015
Comerei teu corpo no crânio da tua cabeça
Comerei teu corpo no crânio da tua cabeça
São versos que jamais esqueci. Eu os li citados num livro antigo, do poeta Narciso Lobo, meu amigo, já falecido. Canção de vitória indígena que diz:
“Comerei teu corpo no crânio da tua cabeça
Sobre tuas cinzas dançarei
E exultarei!”
Narciso os cita. Narciso faleceu cedo, aos 59 anos, depois de lutar contra o vírus de várias doenças, o vírus da morte.
Ele envelheceu muito, antes de morrer. Quando o conheci, ele era um rapaz bem jovem e lépido, e escrevia belos poemas.
No momento em que escrevo, não encontro o seu livro onde cita os versos.
O crânio como recipiente é chamado de “capala”, no budismo tibetano. Inúmeras deidades têm capalas nas mãos. Os Protetores (os Mahakalas) costumam ter um colar de 50 crânios humanos no pescoço, e eu já tive um damaru, um tambor ritual, feito de duas metades de crânios, um masculino e outro feminino. Enfim, meditar em cemitérios, mesmo visualizados, e usar crânios humanos é uma prática comum ao budismo tântrico. Em Katmandu, conheci um grande lama tibetano, Ponlop Rinpochê, que almoçava usando uma capala humana como prato. Era um modo de acostumar-se com a ideia da morte, disse.
Comer numa capala humana – dizia ele – nos traz a presença da morte, aquilo que sempre queremos evitar.
Há uma meditação do budismo que diz: “A morte é certa, a vida é incerta”. Repetindo este lema dia e noite transforma nossa percepção dos problemas da vida. Os grandes problemas da vida são um nada, diante da imensidão arrasadora da morte.
A “fome é um não, que não admite explicação”, escreveu Cassiano Ricardo. Eu diria “a morte não tem explicação”:
A morte é um não, que não admite explicação.
A morte sempre está além da compreensão humana.
Diz Cassiano:
“A máscara
da fome
é um feroz não”.
– “ ... a fome dá muita raiva (disse Benedita da Silva), ainda mais quando os filhos também estão famintos. Você fica pensando: ‘Quero comer, não estou conseguindo, que raiva'. Isso, quando você consegue pensar, porque, quando você fica muito tempo sem comer, não pensa”.
O poema de Cassiano continua:
A fome ri.
A fome esculpe, cinzela
as suas criaturas
(ou caricaturas?)
– “Com o tempo, – diz Benedita da Silva – comecei a vender pastéis, salgadinhos, melhorando de vida. Mas a fome te marca. Hoje, tenho 60 anos e tudo isso aconteceu há 40 anos. E olha que não foi lá no Nordeste não, foi aqui no Chapéu Mangueira, na Zona Sul do Rio.
Ela diz: – 'A fome é indigna'. A fome é um Não.
Um não que não
aceita explicação.
Mas o cântico indígena te dá o contrário, é a ode da vitória sobre a morte, a vitória sobre os inimigos:
“Comerei teu corpo no crânio da tua cabeça
Sobre tuas cinzas dançarei
E exultarei!”
Alguém já escreveu: “Com certeza, é melhor comer os inimigos que abandonar aos corvos e às gralhas o fruto da vitória!”
A antropofagia no Brasil era um ritual macabro. Como se vê no filme “Como era gostoso o meu francês”, de Nelson Pereira dos Santos.
Quando se diz: “Comerei teu corpo no crânio da tua cabeça / Sobre tuas cinzas dançarei / E exultarei!” – afirma-se a vitória sobre o outro, sobre os adversários. Por isso Narciso Lobo o cita no início de seu livro, naquela época da ditadura militar que ele sofreu na pele. Narciso sofreu no corpo, também, a discriminação da sexualidade.
Dele cito de cor um poema-síntese:
“Seu Joaquim ali da esquina
tem um filho que é todo errado:
canhoto, comunista e viado”.
Na vida profissional, Narciso foi um vencedor. Doutor em comunicação, chegou a Reitor da Universidade.
“Sobre tuas cinzas dançarei
E exultarei!”
segunda-feira, 27 de abril de 2015
DUGPA RINPOCHE
Não tenhas medo da morte. Caçadores da morte, sabemos onde devemos encontrá-la. No instante. No coração do instante. No seu centro. Como a pérola de ouro que os antigos situavam no centro do mundo. O seu lugar é em ti. Não o encontrarás em nenhum outro sítio senão em ti.
A morte não existe. Vencer a morte, é mudar de mundo e pôr-se a viajar.
Medita nesta visão: tudo se passa no mesmo lugar, no mesmo tempo, no mesmo instante — o nascimento e a morte.
Acolhe a morte como uma amiga, e a vida aparecer-te-á em todo o seu esplendor. Todos os teus medos desaparecerão. Poderás daí em diante viver sem receio nem agressividade, dormir como uma criança, libertar-te das tensões do mundo, abrir-te á alegria, e chegar aos planos superiores de existência.
Os mestres da sabedoria ensinam que a morte e o nascimento são uma porta única, que nunca se fecha. A morte, tal como a concebemos, não existe.
DUGPA RINPOCHE
domingo, 26 de abril de 2015
LEIA O CAPÍTULO 18 DE "A PANTERA" EM
BLOCOS ONLINE
• O único portal cultural brasileiro a receber a estatueta Prêmio Qualidade Brasil
• Indicação em livros didáticos como material de pesquisa para alunos do 2º grau
• Considerado um dos mais importantes do mundo pela UNESCO
• Indicação em livros didáticos como material de pesquisa para alunos do 2º grau
• Considerado um dos mais importantes do mundo pela UNESCO
• 87.908 arquivos online, 147 países dos cinco continentes visitando o portal
• Atualização de segunda a sábado
• Atualização de segunda a sábado
BLOCOSONLINE.COM.BR
sábado, 25 de abril de 2015
sexta-feira, 24 de abril de 2015
DUGPA RINPOCHÊ
Todas as fases sucessivas da morte são as fases do começo da vida. Eis a razão pela qual o traumatismo da morte está irremediavelmente ligado ao traumatismo do nascimento, e pela qual os místicos e os vigilantes falam dum "novo nascimento". Pressentem que, no instante da morte, a origem e o fim se confundem.
De onde vimos? Se soubermos a resposta, saberemos para onde vamos, no termo final da existência.
Aprende que o estado divino não é somente o do pós-morte... é também o de antes do nascimento. O mesmo. A mesma presença aberta, nunca desaparecida, que trazemos em nós sob a forma de vertigem, de abismo.
Força do acordar: na morte, alguns esquecem, e outros lembram-se.
DUGPA RINPOCHÊ
quinta-feira, 23 de abril de 2015
DUGPA RIMPOCHE
Em cada dia, conta com a morte, a fim de que, quando o seu tempo vier, morras em paz. Aprende a morrer em pensamento todos os dias, e já não terás receio de morrer.
Não esperes pelo momento da morte para aprender a conhecê-la. Será demasiado tarde.
O território da morte não está depois da vida. Está simultaneamente antes e depois, em cima e em baixo. Aprende a ver de outra maneira.
A morte está separada da vida. Considera a tua vida e a morte como o pleno e o vazio de um mesmo objecto.
DUGPA RINPOCHE
quarta-feira, 22 de abril de 2015
OS MUNDOS
Não existe o mundo dos vivos e, na outra margem, o mundo dos mortos. Trata-se de um mesmo estado do ser, esquecido, ao qual já não temos acesso. A morte leva-nos de novo ao Presente eterno do mundo, ao seu começo que não acaba.
A morte envia-te sinais — sonhos, obsessões, encontros, visões. Aprende a decifrá-los. É assim que ela se faz conhecer. Habitua-te à morte, e a amargura tornar-se-á doçura.
O que é que não muda, e que a morte reencontra? A luz do Ser — a da Origem.
A meditação permite-te ouvir a palavra do silêncio, discernir a sua Clara-luz, no interior de ti. Essa visão não será possível se estiveres numa atitude sonolenta, que provoca o devaneio. Senta-te para meditar, com o busto direito, como uma árvore, com os olhos fechados, na posição do vigilante.
DUGPA RINPOCHÊ
terça-feira, 21 de abril de 2015
BOURNEMOUTH
CRÔNICA DE SEMPRE
Rogel Samuel
1/6/2008
BOURNEMOUTH
Como eu disse ontem, a conexão com a Internet vai cobrir o Brasil. A banda larga mais rápida, tem a cidade de Bournemouth, no Reino Unido. Do tipo sem fio. Gratuita. Logo ao chegar fui tirando o laptop da mochila e perguntando a senha. E conectando-me com o Brasil. Agüentei as piores chuvas dos último 60 anos, em Bournemouth. Mas sobrevivi. Para chegar ao Arts Institute, todas as manhãs, era uma odisséia sem Homero. Estava sem carro, só havia um ônibus, de hora em hora, chovia, fazia frio. Para pegar o tal ônibus eu tinha de atravessar um bosque, um bosque selvagem, onde bem cedo alguns ingleses iam passear com seus enormes cães caçadores e pouco amistosos com um caboclo amazonense como eu. “São pacíficos”, disse-me alguém. Mas, durante a minha estada lá, uma jovem foi atacada por um “dócil” akita e perdeu parte do rosto. Fiquei ali de 17 de julho a 21 de agosto do ano passado. Tenho saudades do supermercado. Alguns produtos cá não tenho. Como o iogurte. E a paisagem, nos poucos dias de sol, que ali vivi. Tenho saudades da casa de sanduíches da estrada. Do enorme silêncio. Da solidão pesada e confortante. Os dias eram de ir e vir da Universidade, naqueles ônibus de dois andares ou de táxi. Ou passava o tempo todo trancado no quarto, trabalhando, escrevendo. Sou péssimo turista. Os primeiros momentos foram para entender como ir e vir. E onde comer. Na universidade não tinha problema. Mas eu não estava na cidade propriamente dita, mas quase no campo, em Northbourne, e onde eu morava não havia nada aberto à noite, a não ser um pub. Aonde nunca fui. Preferi beber meu uísque em casa, diante da tela do computador, sonhando com o calor de Manaus. Nos poucos momentos livres fui ao Square, no Pier, fiz algumas compras, caminhei no deck da praia, tomei um péssimo café. Mas não pense que não gostei de Bournemouth. Até escrevi um poema! (Foto de R. Samuel).
segunda-feira, 20 de abril de 2015
DUGPA RINPOCHÊ
Observa muito longe em ti, sem afrouxar a tua atenção, com o espírito vazio, evitando o movimento dos pensamentos. É a atitude do guerreiro espiritual, do Acordado.
Nenhum pensamento está, na realidade, completamente isolado. O verdadeiro espaço está no interior. O que se passa no espírito repercute-se em todo o universo.
A vida é uma disciplina que se conjuga no presente. Realiza cada acto plenamente. Não te interesses senão pela vida, em todas as suas formas, pois ninguém sairá vivo desse jogo.
DUGPA RINPOCHE
domingo, 19 de abril de 2015
SOLIDÃO
Não tenhas medo da solidão quando ela vem ao teu encontro. Ela é a ocasião de te reencontrar e de te fortificar.
Aprende primeiro a acalmar o teu espírito e a relaxar o teu corpo, depois desce em ti, como o mergulhador. Não tenhas medo de conhecer a plenitude e a completa vacuidade. Só tens uma vida, mas é infinita. Com a meditação, entras naquilo que não pode ser nem dividido nem separado.
Muda de ponto de vista para guardar distanciamento. Desconfia das paixões, ganha recuo recolhendo-te.
A meditação aproxima-te do centro de ti próprio, logo que fechas os olhos. Não está ligada ao curso do pensamento, nem ao jogo fantasmagórico das emoções. Aprende a calar-te e o teu coração abrir-se-á.
DUGPA RINPOCHÊ
DUGPA RINPOCHÊ
sexta-feira, 17 de abril de 2015
DUGPA RINPOCHE
A origem das coisas não está situada no passado. Produz-se agora, em cada instante, no teu espírito. Aprende a pensar de outra maneira.
Podes utilizar um sonho, uma recordação, como suporte para a tua meditação. Não analises, não reflictas. Contenta-te em observar, sem palavra, sem pensamento, como o animal fascinado observa o fogo. Transforma os teus desejos, as tuas sensações, em energia pura. Considera-os como pedras preciosas, que brilham desligadas de ti.
A meditação transforma a crença em realidade vivida. Utiliza o seu poder, se queres mudar o mundo.
Não é necessário que medites sobre os mandalas nem sobre as figuras tradicionais do Vajrayana. Toma o teu próprio desejo como objecto da tua meditação. Observa-o, de longe, sem perder o encantamento, e segue-o como se sobe um rio, até à sua nascente. Ele é a chave que abre todas as portas.
DUGPA RINPOCHE
quinta-feira, 16 de abril de 2015
DUGPA RINPOCHE
Aprende o poder de amor da meditação: ela abre o coração e faz nele penetrar o universo inteiro. Reúne o que foi separado pela ilusão. Eis-te imerso no fluxo da vida e deslizando com ele.
Aprende também a meditar com os olhos abertos. Concentra-te na beleza de uma flor, no murmúrio das ondas, no barulho do vento. Suprime a distância que te separa das coisas. Meditar é um acto de amor.
Cada paixão dominada acende um novo sol.
Toma refúgio muito longe em ti próprio, se queres encontrar os outros.
DUGPA RINPOCHE
quarta-feira, 15 de abril de 2015
DUGPA RINPOCHE
Se estás infeliz e num estado de caos interior, não acuses o mundo pois ele não é senão o reflexo de ti próprio. O que tu és, o mundo é-o também. Cura-te e o mundo curar-se-á.
Deves derrubar os teus hábitos de pensamento. Desce em ti, com o espírito livre, consciente da tua própria divindade, à maneira de um espelho que reflecte o sol.
Medita por entre o tumulto da vida quotidiana, no meio dos engarrafamentos, andando na rua. Descondiciona-te. Toma de repente altitude, e considera o espectáculo do mundo como um fluxo eterno, sem começo nem fim. Estás no centro, o único ponto fixo, com a tua consciência, as tuas sensações, as tuas reflexões. Meditar assim renova a energia, e evita a lassidão.
Meditar, é renunciar ao universo conhecido e descer aos bastidores, aí onde o espírito puxa os cordéis do jogo. É tornar a ser o grande maquinista, o criador do universo.
DUGPA RINPOCHE
terça-feira, 14 de abril de 2015
Meu cavalo chegou
Meu cavalo chegou
Rogel Samuel
Leio o belo soneto de Farias de Carvalho (1930-1997), o poeta amazonense, o poeta maior, tão bom quanto os maiores. Leio o soneto. Farias meu professor de literatura no colégio. Farias genial poeta:
Meu cavalo chegou
Farias de Carvalho (1930-1997)
Meu cavalo chegou (memória e nuvem),
a aurora derramada sobre a crina.
Meu cavalo chegou. Fome de tudo
estou também: engoliremos mundos.
Meu cavalo chegou. E, pressentidos,
os caminhos me espiam de suas rédeas.
Meu cavalo chegou. Há quanto tempo
gasto-me em pés e olhos nesta espera...
Meu cavalo chegou. Eu despertava
quando o vento falou-me de seus cascos
e a poeira garantiu-me sua presença.
Meu cavalo chegou. Cumprir-me-ei.
Tanta gente cansada nessas cruzes...
Meu cavalo chegou. Mortos, montai!...
Leio o belo soneto e mergulho na sua simbologia, na sua mitologia. Cavalo, signo quente, masculino, sexual. Memória e nuvem, desejos na aurora, sobre a crina. Desejo, fome de tudo, engoliremos mundos. Pressentimentos dos caminhos, de suas rédeas de virtude e de vício, de seus cascos, da poeira, da presença. Meu cavalo chegou para acordar os mortos, tema sempre constante em Farias d'Ouro de Carvalho, tanta gente morta, tanta gente cansada nessas cruzes. O ponto é aqui. A vida contra a morte. O cavalo contra a poeira esquecida do caminho...
Rogel Samuel
Leio o belo soneto de Farias de Carvalho (1930-1997), o poeta amazonense, o poeta maior, tão bom quanto os maiores. Leio o soneto. Farias meu professor de literatura no colégio. Farias genial poeta:
Meu cavalo chegou
Farias de Carvalho (1930-1997)
Meu cavalo chegou (memória e nuvem),
a aurora derramada sobre a crina.
Meu cavalo chegou. Fome de tudo
estou também: engoliremos mundos.
Meu cavalo chegou. E, pressentidos,
os caminhos me espiam de suas rédeas.
Meu cavalo chegou. Há quanto tempo
gasto-me em pés e olhos nesta espera...
Meu cavalo chegou. Eu despertava
quando o vento falou-me de seus cascos
e a poeira garantiu-me sua presença.
Meu cavalo chegou. Cumprir-me-ei.
Tanta gente cansada nessas cruzes...
Meu cavalo chegou. Mortos, montai!...
Leio o belo soneto e mergulho na sua simbologia, na sua mitologia. Cavalo, signo quente, masculino, sexual. Memória e nuvem, desejos na aurora, sobre a crina. Desejo, fome de tudo, engoliremos mundos. Pressentimentos dos caminhos, de suas rédeas de virtude e de vício, de seus cascos, da poeira, da presença. Meu cavalo chegou para acordar os mortos, tema sempre constante em Farias d'Ouro de Carvalho, tanta gente morta, tanta gente cansada nessas cruzes. O ponto é aqui. A vida contra a morte. O cavalo contra a poeira esquecida do caminho...
DUGPA RINPOCHE ESCREVEU:
DUGPA RINPOCHE ESCREVEU:
A meditação começa sempre por uma total descontracção do corpo físico, que elimina as tensões. Aprende a respirar, isto é, a tornar vivos os mecanismos habituais do corpo.
Reúne os teus pensamentos no centro de ti próprio, e impede-os de derivar. Visualiza esse centro como sendo a única realidade, se queres que a tua meditação se torne numa arma que desperta.
Nós não temos nenhuma consciência de nós próprios, é por isso que o menor choque exterior nos surpreende e perturba. Reencontra o domínio interior, sem perder a inocência do olhar, e a bondade do coração.
A meditação permite-te ocupar realmente o teu lugar, reencontrar o equilíbrio e a harmonia. Ela é a via real que leva à felicidade, o caminho mais curto, pois evita os maus hábitos do exterior, os artifícios, as ilusões.
segunda-feira, 13 de abril de 2015
DUGPA RINPOCHE
DUGPA RINPOCHÊ ESCREVEU:
Considera o teu espírito como o templo de ouro, que contém todo o universo.
A meditação permite reunir as energias, evitando a dispersão e o desperdício. Orientando os teus pensamentos para os outros, podes curar os que sofrem, vir em auxílio dos desgraçados e fazer muito bem. A meditação acorda os poderes do espírito.
Se queres deslocar-te e aproximar-te de alguém, podes utilizar o poder todo-poderoso do pensamento. Visualiza o lugar que queres atingir, reunindo as tuas emoções, os teus desejos, sem te perder em vagos devaneios. Para isso, não deves deixar o teu espírito vagabundear, mas, pelo contrário, torna a trazê-lo para o centro de ti próprio, pela meditação, sem nunca perder a consciência do Instante.
Durante a tua meditação, deixa flutuar as idéias e as sensações vagabundas, sem procurar retê-las. Deixa o vazio invadir o teu espírito, e ressentirás um calor maravilhoso, assim como uma imensa alegria. Será então que a distância entre ti e o mundo há-de desaparecer. Estás no lugar do espírito que reúne todas as coisas. A partir deste lugar, podes agir sobre ti próprio e sobre o mundo.
sexta-feira, 10 de abril de 2015
A ESTRADA
A ESTRADA
Rogel Samuel
Da sinuosa estrada entre as montanhas verdes vem uma barreira horizontal. No alto, um céu brilha como um cristal fosco e imóvel. Estamos na Mantiqueira. E passamos a divisa dos Municípios de Delfim Moreira e Venceslau Brás. Os rios do Brasil estarão todos poluídos? Dia virá em que vamos ter falta de água potável. O Rio Sapucaí está ameaçado pelo lixo. Mas os bois, no grande pasto, parecem em paz. À margem, um caminhão tombado. É um gigante morto. Leio um poema de Guillén, traduzido por Thiago de Mello. As estrofes, os versos se embaralham na minha mente. Guillén, um dos poetas preferidos de certo aluno de literatura no Colégio Estadual. Eu já vinha lendo poesia desde que encontrei Camões num livro de primeiro grau:
Oh! lavradores bem-aventurados,
se conhecessem seu contentamento.
Aqueles versos cantam agora, vendo os bois no pasto. Até hoje ouço o compasso daqueles versos. A estrada sinuosa e verde continua. Um dia chegarei ao fim.
Mas o deserto está crescendo. Na serra da Mantiqueira, região de Piquete, desapareceram as florestas. As montanhas despontam, secas, nuas. Isso até parecia natural na Via Dutra, mas ali é novidade. Dali até o vale de Itajubá a devastação avançou em poucos meses. À direita da estrada pode-se ver um lixão às
margens do rio que vai cortar a cidade de Itajubá e onde poucos quilômetros abaixo crianças tomam banho e adolescentes nadam. De Itajubá até Poços de Caldas as antigas vilas se transformaram em cidades que, sem planejamento, estão plantadas no meio da planície deserta de avermelhado de barro. Na próxima grande chuva o rio que corta a cidade de Itajubá pode transbordar, entulhado. O nosso país caminha para um
desastre ecológico: o rios se transformaram em esgotos escuros, e os riachos se transformaram em valas negras. “O deserto está crescendo. Desventurado quem abriga desertos”.
Mas eu festejo solitariamente os 44 - em 2007 - anos de minha poesia. O primeiro poema que publiquei na vida foi no dia 8 de fevereiro de l959 em O jornal de Manaus.
Não um poema de que me envergonhe de todo, afinal eu tinha 16 anos e aparecem versos até razoáveis como:
o vento
o córrego entre as
montanhas
a lua líquida
sobre a superfície
Havia todos os lugares-comuns da tradição poética, ou seja, poetizando a "poesia" com todos os chavões conhecidos de que não me libertei até hoje.
Sim, festejo silenciosamente os 40 anos de minha poesia. Não escrevo isto com tristeza, mas até com certa vitória. Afinal, bem ou mal foram 40 anos de produção literária. Há quem não tenha tido nem isso de vida.
BARBARA HELIODORA, CRÍTICA TEATRAL, MORRE AOS 91 ANOS
BARBARA HELIODORA, CRÍTICA TEATRAL, MORRE AOS 91 ANOS
Vanor Correia/ GERJ:
Temida e respeitada por sua erudição, rigor e alto grau de exigência quando assistia a uma peça e escrevia a crítica, ela era considerada por muitos a "Dama de Ferro" do teatro brasileiro
10 DE ABRIL DE 2015 ÀS 15:32
Jornal do Brasil - A crítica teatral Barbara Heliodora morreu na manhã desta sexta-feira (10), aos 91 anos. Ela estava internada no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, desde o dia 23 de março.
Barbara Heliodora era a maior tradutora e divulgadora da obra do dramaturgo inglês William Shakespeare no Brasil.
Temida e respeitada por sua erudição, rigor e alto grau de exigência quando assistia a uma peça e escrevia a crítica, ela era considerada por muitos a "Dama de Ferro" do teatro brasileiro. Nascida no Rio de Janeiro, no dia 29 de agosto de 1923, Barbara estreou na imprensa em 1944, em O Jornal. Na época ainda assinava com seu nome de batismo: Heliodora Carneiro de Mendonça Bueno.
Em 1972, escreveu "Algumas reflexões sobre o teatro brasileiro" e em 1975, como acadêmica da USP, defendeu a tese de doutorado "A expressão dramática do homem político em Shakespeare"
Em 2000, a convite da Academia Brasileira de Letras, escreveu "Martins Pena, uma introdução", sobre um dos pioneira da comédia de costumes no Brasil. Em 2004, lançou uma coletânea de ensaios: "Reflexões Shakespearianas". E em 2005, escreveu "Brasil, Palco e Paixão" - Um século de Teatro", junto com outros quatro autores.
Barbara também escreveu o livro 'Caminhos do teatro ocidental', lançado em 2013, fruto de quase 20 anos de trabalho (de 1966 a 1985) como professora de história da dramaturgia no antigo Conservatório de Teatro, atual curso de teatro da UniRio.
Em 2014, lançou "Shakespeare: o que as peças contam — Tudo o que você precisa saber para descobrir e amar a obra do maior dramaturgo de todos os tempos".
No dia 24 de setembro de 2014, a Medalha do Mérito Cesgranrio foi concedida a Bárbara Heliodora, que era membro do Conselho de Cultura da Cesgranrio. A maior comenda da instituição é concedida para homenagear personalidades que se destacam por relevantes serviços prestados à educação e cultura do Brasil.
Barbara trabalhou de 1958 a 1964 no Jornal do Brasil, onde assinou uma coluna especializada em teatro, no suplemento dominical.
DUGPA RINPOCHÊ
DUGPA RINPOCHÊ ESCREVEU:
O amor exige uma resposta de todos os instantes.
Onde estaremos todos dentro de um milhão de anos? Dentro de um milhão de anos, tudo será mudado. Toda a história passa e repassa pelo mesmo ponto que é o instante. Nós regressaremos sempre, não antes ou depois, mas no Instante que é o misterioso território central do Ser.
Aprende a agarrar o instante. Não te desvies, não fujas para a fantasmagoria do passado ou do futuro. Concentra o teu espírito, aí onde estás, com uma consciência aguda do instante. Ele está no sítio onde estamos. Não há outro lugar senão este aqui.
Liberta-te do passado e do futuro, mas fica atento ao instante que passa. Só ele é real. Tudo o resto é fantasmagoria.
ESQUINA EM KATMANDHU
DUGPA RIMPOCHÊ ESCREVEU:
Quantos anos desperdiçaste, refugiando-te nos teus vagos devaneios? A felicidade não espera. Ela dá-se aqui e agora.
Viver o instante presente exige uma grande atenção às coisas mais simples.
Mantém-te disponível, livre dos teus preconceitos, das tuas crenças.
Reencontra a inocência do olhar, e a vontade de diamante do coração. Então o instante não passará mais. Guardar-te-á na sua luz.
Se queres destruir o teu medo do tempo e da morte, visualiza a vida como um círculo sem começo nem fim. Considera o instante presente como um ponto que indica ao mesmo tempo o começo e o fim.
quinta-feira, 9 de abril de 2015
FAMOSO RESTAURANTE DOBLE DORGE
EM VERDE, BOUDANATH, KATMANDHU, NEPAL
DUGPA RIMPOCHÊ ESCREVEU:
Quantos anos desperdiçaste, refugiando-te nos teus vagos devaneios? A felicidade não espera. Ela dá-se aqui e agora.
Viver o instante presente exige uma grande atenção às coisas mais simples.
Mantém-te disponível, livre dos teus preconceitos, das tuas crenças.
Reencontra a inocência do olhar, e a vontade de diamante do coração. Então o instante não passará mais. Guardar-te-á na sua luz.
Se queres destruir o teu medo do tempo e da morte, visualiza a vida como um círculo sem começo nem fim. Considera o instante presente como um ponto que indica ao mesmo tempo o começo e o fim.
DUGPA RIMPOCHÊ ESCREVEU:
Quantos anos desperdiçaste, refugiando-te nos teus vagos devaneios? A felicidade não espera. Ela dá-se aqui e agora.
Viver o instante presente exige uma grande atenção às coisas mais simples.
Mantém-te disponível, livre dos teus preconceitos, das tuas crenças.
Reencontra a inocência do olhar, e a vontade de diamante do coração. Então o instante não passará mais. Guardar-te-á na sua luz.
Se queres destruir o teu medo do tempo e da morte, visualiza a vida como um círculo sem começo nem fim. Considera o instante presente como um ponto que indica ao mesmo tempo o começo e o fim.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
A realização última
A completa realização de P'ang Yün
Rogel Samuel
Primeiramente o texto tece o tempo. Não existe. O passado não existe, é passado. Não tente lembrar o passado. Deixo-o onde está. Onde (não) está.
O presente não é tangível. Passa rápido. Ao tocá-lo já é outro, já não é.
Quanto ao futuro... que futuro? Qual futuro? Ainda nada sabemos dele. Não é pensável, antes.
Não tente julgar, não avalie as coisas que vierem aos olhos: não existe ordem a ser mantida nem sujeira a ser limpa.
O dharma não tem vida (nem não vida).
A realização está completa.
Assim é o poema:
“A realização última
P'ang Yün
O passado já é passado
Não tente recuperar.
O presente não fica
Não tente tocá-lo.
Momento a momento
O futuro não veio
Não pense nisto
Antes.
Tudo que vem ao olho,
Deixe que seja
Não há nenhuma ordem
A ser mantida,
Não há nenhuma sujeira
A ser limpa.
Com a mente realmente vazia
Penetrado, o dharma
Não tem nenhuma vida.
Quando puder estar assim,
Você completou
A realização última.
P'ang Yün”.
DUGPA RINPOCHÊ
DUGPA RINPOCHÊ ESCREVEU:
Queixas-te da incompreensão dos outros, da solidão e da falta de amor. Não te imagines que amanhã tudo irá melhor. "Amanhã" não é senão uma visão do espírito, não tem maior realidade do que um sonho. Aprende a agarrar o instante. Todas as respostas te são dadas, em cada instante que vem. Não te contentes com ficar na margem a observar a água que corre. Banha-te no rio.
O instante não é o limite. Se pudéssemos vivê-lo plenamente, saberíamos o que é a eternidade, pois o presente é eterno.
Nós procedemos de "aqui" e este "aqui" nunca se moveu.
Viver de acordo com a vida não se resume em seguir preceitos e ordens rígidos, que abafam o coração, amarram violentamente as paixões. Essa é uma visão errada da disciplina espiritual. Aprende a escutar o rumorejar do vento, a pulsar do segundo que passa.
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