domingo, 28 de outubro de 2007

Encontros Prontos

Rogel Samuel


Quando partiu, ele a viu na estrada.
Ela sorriu para ele. Nunca a tinha visto. Ele se ergueu da poltrona e, abrindo a janela, escancarou um adeus para ela, colocando meio corpo fora do ônibus.
Nunca mais a veria, mas estava apaixonado. Subitamente apaixonado. Partindo de Búzios. Voltava para o Rio.
Dias depois a encontrou em Copacabana, onde morava. Era ela.
Amaram-se logo naquele dia.
Casaram-se.
Têm três filhos.

* * *

Na fila, ele procurou falar com ela. Iniciou conversa.
Ela sorriu, mas nada falou.
Ele chegou a encostar-se nela.
No elevador cheio, ele pôde senti-la, aspirar seu perfume e calor, excitado. Tonto.
Chegando no seu andar, foi rápido.
Às quatro eu espero você na portaria. Está bem?, falou, como se fosse ela fosse amiga de infância. Ele ia ao dentista, calculou a hora, mas sem esperança.
Está bem, ela disse, e ninguém reparou que não fossem amigos há mais tempo.
Às quatro ele estava lá. E ela apareceu.
Amaram-se naquele mesmo dia, num hotel.
Há vinte anos se encontram.
Se amam.

* * *

Era tarde. Tarde para ir à praia. Principalmente no inverno. Na praia deserta estava ela. No meio da praia deserta estava ela. Quase frio.
Ele veio, puxou conversa. Nada.
Ele desistiu dela, tirou a roupa, pulou na água. Saiu tiritando de frio.
Mas o vento, a juventude o secaram. Resolveu partir. Na partida, passou por aquela menina, despedindo-se. Disse uma besteira:
Quando puder apareça na minha casa...
E se foi.
Já na calçada, bem longe, voltou-se para olhar o mar: a menina acenava para ele.
Seria para ele? Teve de certificar-se de que não havia mais ninguém ali.
Voltou até a praia.
Ela disse: "Como você quer que eu vá à sua casa se não me deu o endereço"?
Ele passou-lhe o telefone. A noite caía: "Quer ir lá agora?", ele perguntou.
Não, disse ela. Eu telefono.
Ele explicou que ia viajar no dia seguinte. Que ficaria um mês fora.
E assim foi.
Quando voltou, a secretária eletrônica era tomada de vários recados silenciosos.
Alguém ligara muitas vezes, mas não disse nada.
Pouco tempo depois, naquele mesmo dia, ela telefonou.
Eles se encontraram. Ficaram juntos por quatro anos.
Até que... ela conheceu um alemão, por quem se apaixonou e se foi com ele para Frankfurt.
Conheceu o alemão na mesma praia. Quase no mesmo lugar.

* * *

São três casos. Encontros prontos.
E verdadeiros.

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