domingo, 17 de agosto de 2008
A chuva tardia
Rogel Samuel
Leio mais um poema de Dogen, poeta japonês, nascido em Kyoto (1200-1253) e fundador da escola Soto Zen. Mas ele é, antes de tudo, um grande poeta, que é o que nos interessa aqui. Ele era um aristocrata que perdeu o pai e a mãe, abandonou tudo, tornou-se monge e viajou em busca de um mestre que lhe respondesse às suas inquietações. Foi até a China, uma viagem perigosa na época.
Alegre neste retiro da montanha
contudo ainda no sentimento de melancolia
estudando o Sutra do Lótus diariamente
Pratico meditação concentrada;
O que fazem o amor e o ódio
Quando estou aqui sozinho?
Escuta o som da chuva tardia nesta noite do outono.
O poema fala dos contrastes da mente e do corpo humano, alegre e triste, amando e odiando. Mesmo isolado no retiro da montanha, aquelas contradições estavam ali presentes. E contradição significa inquietação, desequilíbrio, que ele traz até ali. O Sutra do Lótus é o "Sutra dos Infinitos Significados", não estava acalmando seu corpo e mente, porque "O acesso a esta sabedoria é difícil de compreender e difícil de transpor".
A "solução" poética desta dúvida foi escutar o som da chuva tardia.
Talvez aí nasceu o olho.
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