sábado, 30 de agosto de 2008

RILKE


RILKE


Rogel Samuel



Geir Campos, bom poeta, é autor também de uma obra-prima: "Poemas de Rainer Maria Rilke", hoje só encontrável em sebos (Rio, José Olympio, 1953). De lá copio esta:



INICIAÇÃO


Quem quer que sejas: deixa tua alcova
da qual já sabes tudo que desejas;
teu lar na tarde, longe, se renova,
quem quer que sejas.
Com teus olhos exaustos, que ainda a custo
entre os gastos umbrais logram passar,
ergues inteira a sombra dum arbusto
posto ante o céu - esguio, singular.
E tens já pronto o mundo: estranho assim
como palavra que amadurecesse
no silencio, e que teu olhar esquece
quando lhe captas o sentido, enfim ...


Este é o primeiro poema do "Livro das imagens", diz-nos o tradutor. É um convite ao leitor, "quem quer que sejas", a abandonar o lar, a rotina, a alcova (?), e segui-lo numa viagem fantástica e estranha, no mundo da poesia, no seu silêncio, no seu sentido. Pois passando o umbral, erguendo a sombra de um arbusto, um inteiro novo mundo se abre, não o mundo da fantasia, mas a visão pura de um reino puro e luminoso, posto ante o céu como uma planície em que se capta o significado.

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