quarta-feira, 4 de março de 2009

Do amor

O amor nasce de um repouso do espirito nos olhos do outro. Certo respirar dentro do espaco mais amplo do mundo humano. Como encontra-lo? Onde encontra-lo? Talvez nao precise busca-lo fora, nem busca-lo. O amor, quando amamos, ja esta la. Estado de espirito, nao se comprova, como no poema de Emily Dickinson:


que sempre amei
trago-te provas
até que amasses
voltas e voltas
que te amar hei
não se comprova
que amor é vida
ida - sem volta

dúvida, amado ?
fiz o que pude :
abracabraço-te
por vias crucis.

(tradução de M C Ferreira)


Qual a prova do amar? "Nao se comprova". Ida sem volta, ou seja quem ama vai sem esperar a volta, eh um ir, nao o esperar. Ela o amarah por voltas e voltas...

Neruda sentiu outro tipo de amor no seu poema desesperado:

«Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E desce o verso à alma como ao campo o rocio.

Que importa se não pôde o meu amor guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. À distância alguém canta. À distância.
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.»

Ele se refere a Amada porque alguem canta a distancia. Usa a posse, "ja nao a tenho" na posse do objeto amado, nao do amor. Guarda-la comigo eh posse. E eh impossivel guardar alguem com outra pessoa, como quem guarda um relogio na gaveta.

Por isso sofre. Sofre a impossibilidade do ter, nao do ser. Pensar que nao mais a tem doi mais do que deixar de realmente possui-la.

A noite estah inutilmente estrelada, ela nao estah comigo.

Quem espera ser feliz no amor estah perdido, porque o amor eh perda. "Amar depois de perder", escreveu Drummond.

dúvida, amado ?
fiz o que pude :
abracabraço-te
por vias crucis.

Disse Emily Dickinson.

So os misticos se dao bem no amor: "Se não tendes amor — não em pequenas gôtas, mas em abundância; se não estais transbordando de amor, o mundo irá ao desastre", disse Krishnamurti. "O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontrá-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das relações, do sexo, de tôda espécie de prazer e de dor, só é possível encontrá-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente. O amor não conhece oposto, não conhece conflito".

Krishnamurti ateh diz como o amor pode ser encontrado, pode ser experimentado:

"O que significa transcender o sofrimento é estar cônscio de uma dimensão diferente, chamada “amor".

"Mas, não sabeis como chegar-vos a essa fonte maravilhosa — e, assim, que fazeis? Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente. Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa? Significa que não estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum. Há, então, o amor".

Coisa de mistico.






3 comentários:

Jefferson Bessa disse...

Amigo, gostei muito como o amor atravessou por entre esses textos. Senti-me instigado pelos textos de Emily Dickinson e Krishnamurti (gosto muito de ambos). Gostaria de colaborar de alguma forma, por isso vou reproduzir um trecho de um poema de Alberto Caeiro abaixo. Espero que goste.

" (...)
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar…"

Obrigado pelo texto.
Abraço.
Jefferson.

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

sim, amigo, Pessoa sabia porque aprendeu com seu mestre ? Alberto Caeiro ele-mesmo, obrigado, rogel