O amor nasce de um repouso do espirito nos olhos do outro. Certo respirar dentro do espaco mais amplo do mundo humano. Como encontra-lo? Onde encontra-lo? Talvez nao precise busca-lo fora, nem busca-lo. O amor, quando amamos, ja esta la. Estado de espirito, nao se comprova, como no poema de Emily Dickinson:
que sempre amei
trago-te provas
até que amasses
voltas e voltas
que te amar hei
não se comprova
que amor é vida
ida - sem volta
dúvida, amado ?
fiz o que pude :
abracabraço-te
por vias crucis.
(tradução de M C Ferreira)
Qual a prova do amar? "Nao se comprova". Ida sem volta, ou seja quem ama vai sem esperar a volta, eh um ir, nao o esperar. Ela o amarah por voltas e voltas...
Neruda sentiu outro tipo de amor no seu poema desesperado:
«Como não ter amado seus grandes olhos fixos?
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E desce o verso à alma como ao campo o rocio.
Que importa se não pôde o meu amor guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. À distância alguém canta. À distância.
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.»
Ele se refere a Amada porque alguem canta a distancia. Usa a posse, "ja nao a tenho" na posse do objeto amado, nao do amor. Guarda-la comigo eh posse. E eh impossivel guardar alguem com outra pessoa, como quem guarda um relogio na gaveta.
Por isso sofre. Sofre a impossibilidade do ter, nao do ser. Pensar que nao mais a tem doi mais do que deixar de realmente possui-la.
A noite estah inutilmente estrelada, ela nao estah comigo.
Quem espera ser feliz no amor estah perdido, porque o amor eh perda. "Amar depois de perder", escreveu Drummond.
dúvida, amado ?
fiz o que pude :
abracabraço-te
por vias crucis.
Disse Emily Dickinson.
So os misticos se dao bem no amor: "Se não tendes amor — não em pequenas gôtas, mas em abundância; se não estais transbordando de amor, o mundo irá ao desastre", disse Krishnamurti. "O amor é uma coisa nova, fresca, viva. Não tem ontem nem amanhã. Está além da confusão do pensamento. Só a mente inocente sabe o que é o amor, e a mente inocente pode viver no mundo não inocente. Só é possível encontrá-la, essa coisa maravilhosa que o homem sempre buscou sequiosamente por meio de sacrifícios, de adoração, das relações, do sexo, de tôda espécie de prazer e de dor, só é possível encontrá-la quando o pensamento, alcançando a compreensão de si próprio, termina naturalmente. O amor não conhece oposto, não conhece conflito".
Krishnamurti ateh diz como o amor pode ser encontrado, pode ser experimentado:
"O que significa transcender o sofrimento é estar cônscio de uma dimensão diferente, chamada “amor".
"Mas, não sabeis como chegar-vos a essa fonte maravilhosa — e, assim, que fazeis? Quando não sabeis o que fazer, nada fazeis, não é verdade? Nada, absolutamente. Então, interiormente, estais completamente em silêncio. Compreendeis o que isso significa? Significa que não estais buscando, nem desejando, nem perseguindo; não existe centro nenhum. Há, então, o amor".
Coisa de mistico.
3 comentários:
Amigo, gostei muito como o amor atravessou por entre esses textos. Senti-me instigado pelos textos de Emily Dickinson e Krishnamurti (gosto muito de ambos). Gostaria de colaborar de alguma forma, por isso vou reproduzir um trecho de um poema de Alberto Caeiro abaixo. Espero que goste.
" (...)
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar…"
Obrigado pelo texto.
Abraço.
Jefferson.
sim, amigo, Pessoa sabia porque aprendeu com seu mestre ? Alberto Caeiro ele-mesmo, obrigado, rogel
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