quinta-feira, 19 de março de 2009
Tiradentes
Tiradentes
Rogel Samuel
Cidade parada no tempo. Cidade de poucas pessoas. Em cada esquina uma pousada, uma loja de móveis e antiguidades. Minha amiga X. quer que eu venha morar aqui. Não consigo. Escrevo numa Lan-house. Na pousada a TV não está funcionando, nem a Internet. Estou em paz, fora do tempo, das notícias, dos terrores e dos assaltos. Não sei o que se passa no mundo, senão vagamente. Em lugar do calor carioca há um friozinho pela madrugada. O mundo aqui parou.
Haverá pouca coisa a esquecer:
O vôo dos corvos,
Uma rua molhada,
O modo do vento soprar,
O nascer da lua, o pôr-do-sol,
Três palavras que o mundo sabe,
Pouca coisa a esquecer.
Será bem fácil esquecer.
A chuva pinga
Na argila rasa
E lava lábios,
Olhos e cérebro.
A chuva pinga na argila rasa.
A chuva mansa lavará tudo:
O vôo dos corvos,
O modo do vento soprar,
O nascer da lua, o pôr-do-sol.
Lavará tudo, até chegar
Aos duros ossos desnudados,
E os ossos, os ossos esquecem.
Archibald McLeish
Tradução de Manuel Bandeira
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3 comentários:
Amigo Rogel,
gostei muito da sua postagem. Do seu texto e do poema. Obrigado pelos textos. Aproveite a viagem!
Abraços,
Jefferson.
Gostei muito de conhecer a poesia de Archibald McLeish.
Obrigado pelas palavras, pela leitura. O poema é muito bom, e está numa antologia de Sergio Milliet.
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