sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Jorge Tufic: AS ÁGUAS DO QUE VERÃO




Não sei com que voz, muito menos com que letra, tornar-me solidário ao grito coletivo daqueles que sucumbiram nas catástrofes da região serrana do Rio de Janeiro, para falar apenas nesta, tudo unicamente por culpa do próprio Governo, que nas circunstâncias atuais deixa de merecer este nome, para equiparar-se à ralé dos mais desprezíveis políticos deste País. Repugna também ao mais insensato admitir, neste caso, que o Brasil já não tenha passado, desde a morte de Getúlio Vargas, às mãos hediondas de meros politiqueiros, ladrões e sacripantas. A consciência anestesiada de milhares apenas ocupados com esporte, carnaval, tóxico e outras variadas diversões alienadoras, impediram de ver e gravar para sempre estas imagens que fizeram a nossa angústia e a nossa desesperança num futuro melhor. Estavam eles, nesse mesmo dia e nessa mesma hora, amontoados nas ruas para receber um jogador que vinha de fora, ao aceno contratual de um time de futebol. Os demais brasis, de igual modo, cuidavam de si e de suas miudezas, enquanto as televisões anunciavam, naquele crescendo vocal que alterna com as imagens dramáticas de resgates nem sempre bem sucedidos, a maior tragédia ¨natural¨ já ocorrida em nossa ex-Capital da República. Pois esta não foi, nem é, uma tragédia natural. A ocupação das encostas têm muito a ver com milhares de outras ocupações, quer nas serras, quer nas grandes cidades, periferias urbanas, florestas e rios, estes, podres, aquelas, agonizantes. A tragédia é global, embora, algumas vezes, silenciosa.

Uma lágrima é pouco, mas suaviza o caudal das chuvas, enquanto o sorriso é maior ou menor, se temos que assistir ao salvamento de uns, e, às vezes, ao inexplicável e tormentoso destino de tantos outros.


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