quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Maioria dos cafezais do Brasil se recupera da estiagem de 2010




FOTO: PRÉ-SAL




Por Peter Murphy

BRASÍLIA (Reuters) - Boa parte das regiões produtoras de café no Brasil deverá colher na safra 2011/12 um volume normal para um período de ciclo de baixa de produção do arábica, mas outras áreas como o norte de São Paulo sentirão os efeitos de uma estiagem que afetou os cafezais durante 2010, disseram integrantes de cooperativas à Reuters esta semana.

O Brasil certamente terá uma safra menor que as 48,1 milhões de sacas de 60 kg do ano passado, uma vez que as árvores estão no ciclo bianual de baixa. Mas os agrônomos dizem que deve ser um ano típico, de uma maneira geral.

Na safra 2009/10, também de baixa, a produção foi de 39,5 milhões de sacas, a maior para tal período na última década.

"Parece normal. 2011 será bem menor que em 2010, mas nada extraordinário. Tem chovido bastante", disse Mario Ferraz de Araújo, agrônomo da Cooxupé, a maior cooperativa do mundo, em Minas Gerais, principal produtor brasileiro.

Os preços futuros do arábica, do qual o Brasil é o maior produtor, dispararam no segundo semestre de 2010, em meio às expectativas de oferta ajustada neste ano, subindo para cerca de 2,30 dólares por libra-peso no início de janeiro.

Araújo disse que as fazendas na região de Guaxupé, onde está a sede da cooperativa, apresentaram poucos problemas depois da longa estiagem que durou mais semanas que o normal em 2010, e deixou as árvores com pouca umidade justo no início da florada.

O presidente da Cooxupé, Carlos Alberto Paulino da Costa, disse que considerando a queda bianual e o clima mais seco, a cooperativa espera que a produção em sua região recue para cerca de 6 milhões de sacas em 2011, contra 9,3 milhões de sacas do ano passado.

O Ministério da Agricultura divulgará sua primeira estimativa oficial para produção na quinta-feira pela manhã.

Com a Colômbia caminhando para a terceira queda consecutiva na produção e expectativa de que os problemas climáticos reduzam a safra de robusta do Vietnã, a dependência do produto brasileiro vai aumentar pelo menos até o próximo ano.

A menor safra do Brasil já registrada em um ciclo de baixa na última década foi a de 2003/04, com dados oficiais que apontam 28,8 milhões de sacas. Ela foi afetada por uma combinação de excesso de chuvas, estiagem e uso inadequado de insumos químicos, logo após uma safra recorde de 48,48 milhões de sacas.

ROBUSTA

Surpreendentemente, a safra do Espírito Santos, segundo maior produtor do Brasil, principalmente de robusta, parece muito melhor que o inicialmente esperado, depois da seca severa que secou mesmo algumas represas que alimentam sistemas de irrigação.

O Estado foi o último a receber chuvas, quando elas finalmente retornaram, mas desde então recebeu amplos volumes, e os dados da Somar Meteorologia mostram que a região produtora de robusta teve 25 por cento mais chuvas que o normal para dezembro.

"O desenvolvimento da safra está muito bom. Os grãos estão sendo preenchidos e os frutos têm um bom tamanho", disse Cristiano Cezena, agrônomo da cooperativa Cooabriel. O principal risco para a safra agora, disse ele, são os dias muito quentes típicos do Estado em janeiro.

"Se o sol for muito intenso, poderá queimar o café", disse.

SÃO PAULO

Cafezais do norte do Estado de São Paulo ou próximos da divisa com Minas Gerais não estão tão bons, entretanto, e duas cooperativas na região disseram que a safra pode ser menor que a do último ciclo de baixa há dois anos.

"As flores não cresceram. O sol as queimou", disse Roberto Maegawa, agrônomo da Cocapec, cooperativo no norte de São Paulo.

Ele disse que as flores saíram, mas muitas não formaram o fruto do café quando abriram e logo murcharam.

Maegawa contou que está trabalhando com uma estimativa de queda de 15 por cento na safra, em relação a anos de baixa.

As regiões produtoras do norte de São Paulo receberam apenas 30 a 50 por cento do volume médio de chuvas em outubro e novembro.

A safra de café de São Paulo, que é cultivado principalmente no norte do Estado, corresponde a cerca de 10 por cento da produção total do país.

"As chuvas em nossa região não foram muito bem distribuídas. A florada foi excelente mas o número que se manteve foi terrível", disse ele.

Novas plantações sucumbiram muito facilmente à seca, porque as raízes das árvores não atingiram partes profundas para pegar mais umidade do solo.

Marcelo de Moura Almeida, do departamento de comercialização da Cooparaíso, disse que espera um declínio da produção.

"Estamos começando a trabalhar em nossa primeira previsão agora e, pelos números iniciais que tenho visto, eu acredito que será menor", ele disse, referindo-se à produção do norte de São Paulo.

(Reportagem adicional de Roberto Samora)

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